Ignorando o risco iminente, centenas de pessoas erguem habitações à beira de uma represa natural na zona conhecida por “Sr. Demo”, na unidade comunal Marien N’guabi, bairro de Namutequeliua, arredores da cidade de Nampula. Anualmente, as águas da chuva que vêm das zonas residenciais de Nasser, Memória e outras arrastam consigo dezenas de casas de construção precária. Nesse período, em média, 100 desabam. Só no mês em curso (Janeiro) pelo menos 10 famílias perderam as suas moradias.
Todos os dias, centenas de famílias edificam as suas respectivas habitações à beira de uma represa na zona do “Sr. Demo”, no bairro de Namutequeliua, não obstante o perigo que a situação em si representa. Os danos humanos iminentes parecem não ser uma preocupação dos residentes que não arredam pé do terreno. A cada ano pelo menos 100 casas são destruídas pela força das águas de chuva, e o facto não tira o sossego dos moradores que, volvido algum tempo, voltam a erguer moradias no mesmo local. A desculpa mais invocada pela população é a falta de espaço e condições financeiras.
Devido ao desabamento das habitações, todos os anos grande parte das famílias beneficia de apoio em material de construção disponibilizado pelas entidades governamentais, agentes económicos e pessoas de boa-fé que se sentem sensibilizadas com a situação. “Não temos condições financeiras para obter terreno noutro lugar”, justifica-se Amélia Momade, de 37 anos de idade, que, neste momento, vive ao relento com os seus três filhos.
O marido de Amélia é um homem praticamente ausente. A maior parte do seu dia passa nas ruas da cidade, comercializando acessórios de viaturas, telemóveis e perfumes, uma actividade que desenvolve desde o ano de 2008. Até Julho do ano passado, havia amealhado algum dinheiro, através do qual obteve um terreno às margens da represa, tendo construído uma casa de material precário. Presentemente, o pequeno negócio do esposo de Amélia rende pouco, e a esperança da família é de ver reconstruída a sua habitação para continuar a viver condignamente.
O caso de Amélia não é isolado. As chuvas intensas que se fizeram sentir no início do ano em curso destruíram diversas habitações e desalojaram dezenas de famílias. As entidades do Governo e os agentes económicos ainda não se manifestaram face à aos factos, até porque a situação tem sido cíclica.
Autoridades comunitárias inoperantes
Os apelos feitos pelos chefes de quarteirão sobre a necessidade de abandonar as zonas de risco não estão a ter resultados satisfatórios. “Notamos que há secretários de 10 casas que estão envolvidos na venda de terrenos na represa do ‘Sr. Demo’, o que incentiva as pessoas a permanecerem naquela zona de risco”, disse Aquimo Achamo, chefe do quarteirão 4, na unidade comunal Marien Nguabi, bairro de Namutequeliua.
A represa do “Sr. Demo” acolhe as águas das chuvas, transformando- se num autêntico perigo para a vida dos residentes. Crianças e adultos fazem-se àquele local para tomar banho e acarretar água para diversos fins todos os dias.
A represa do Demo não é o único alvo de ocupação por parte da população que alega falta de espaço para a construção das suas habitações. Recentemente, um grupo de citadinos tomou de assalto um terreno pertencente ao cidadão de nome Demo, cujas dimensões se estimam em mais de 50 hectares.
Há cinco anos, o local servia para apascentar animais, nomeadamente o gado bovino, caprino e suíno. Presentemente, a mata está, aos poucos, a ser ocupada por populares. O proprietário do referido terreno não encontra mecanismos para travar a febre de ocupação. Trata-se, na verdade, de uma segunda invasão do terreno. A primeira ocorreu em 2011. Na altura, a Polícia Municipal tentou, sem sucesso, impedir o “assalto” ao espaço.