Ficámos a saber que a explosão do equipamento na central da Electricidade de Moçambique (EDM), na SONEFE, que deixou a capital do país, Maputo, sem luz podia ter sido ser evitada. Mas ninguém mexeu uma palha para impedir e aconteceu o que vimos. O balanço do acidente, para um país do terceiro mundo – ainda que rico em gás e petróleo – é desolador. O prejuízo bateu a fasquia dos 100 milhões de dólares, os quais – sem espaço para dúvida – sairão do bolso do cidadão comum.
Devemos, portanto, estar todos apreensivos em relação às nossas relações com o fornecedor de energia. É preciso lembrar que, neste país, o consumidor, para além de não ter rosto, é um corpo preenchido pela ausência de direitos. É isso que nos deve deixar preocupados, uma vez que alguém terá de pagar a factura deste prejuízo causado pela “negligência”.
Usamos o termo negligência em razão do princípio de presunção de inocência de que os responsáveis da EDM gozam e, também, porque, do período que decorreu, entre a informação dando conta da necessidade de trocar uma peça obsoleta à explosão, reside um espaço temporal mais do que suficiente para implementar uma medida preventiva. Importa lembrar que o hábito de esticar os prazos é uma prática institucionalizada e enraizada neste país.
Do outro lado da barricada somos levados a desconfiar dessa letargia e dos fins que a mesma visava. 100 milhões de dólares é muito dinheiro. Os prejuízos na linha de Sena estão avaliados em 8 milhões, menos de 10 porcento daquilo que a EDM terá de gastar.
100 milhões é o valor que o Governo do Brasil estipulou para abrir uma linha de crédito para aquisição de equipamento agrícola em Moçambique. 100 milhões deve ser qualquer coisa como 17 porcento do valor do projecto da Ponte Maputo/Catembe. Com esse valor poderíamos ter feito 20 refinarias de gás e deixar de desmatar o país.
Nessa perspectiva é fácil concluir que é um dinheiro de que o país precisa e com o qual não se deve brincar. Contudo, a actuação dos líderes da pérola do Índico já demonstrou bastas vezes que antes do inte- resses do país está a ganância de alguns. Isso pode ser verificado pelo número crescente de empresas que servem o sector público. Empresas essas que fazem parte de quem detém o poder político.
Grande parte dessas empresas – quadrilhas seria o termo adequado – é criada em função dos decretos aprovados pelos seus proprietários. Nasce na verdade para ganhar concursos públicos. A artimanha é simples e de uma eficácia atroz. Antes de aprovar uma lei, fulano X cria uma empresa Y e depois constrói um ardil para submeter uma lei que beneficia a empresa Y de fulano X.
Por isso é que não nos devemos admirar do que ocorreu na SONEFE. Uma vez que quem não tem escrúpulos para criar leis que lhe beneficiam não hesitará, um segundo sequer, em fornecer peças de qualidade duvidosa. Afinal, trata-se do jogador e do juiz num único corpo.
Mas a EDM não vai pagar essa factura. Alguém terá de pagar. Nós temos a certeza de que, mais uma vez, será o leitor o palhaço deste circo...