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Um show com sabor do Açúcar Castanho!

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O Café Camisa, adstrito ao Núcleo de Arte, inaugurou um novo espaço de intercâmbio artístico-musical – além dos tradicionais concertos de domingo –, desta vez, agendado para as sextas-feiras. Na semana passada, os Açúcar Castanho, uma nova banda que associa o Rap ao Afro-jazz, realizou o primeiro show. Fomos ver e gostámos...

Se não tivéssemos um pouco de consciência de que é necessário que se respeite o horário, mesmo quando se trata de eventos relacionados com a diversão, nunca nos preocuparíamos com este problema – o atraso. Mas, ao que tudo indica, atrasar é quase uma doutrina, um costume, neste país. Por isso, mas acima de tudo pela necessidade de assistirmos à primeira actuação de uma banda nova – não obstante, a longa experiência dos seus constituintes – permanecemos no local.

É interessante, na verdade preocupante, esta razão de querer partir ao mesmo tempo que a vontade de escutar, ou consumir a música no momento que se produz – os concertos, ao vivo, têm essa experiência – nos mantém presos num lugar. Mas há quem, perante o atraso do público, mesmo estando em missão de serviço (referimo-nos à saxofonista Ivete Vales) se sentiu frustrada. A demora, no início dos eventos culturais, também agasta o artista, desviando, muitas vezes, o foco de análise dos jornalistas culturais.

Embora não seja sobre isso que queremos discutir, importa clarificar que actuação dos Açúcar Castanho estava marcada para iniciar às 18 horas e só arrancou, quase, duas horas depois. E por falar sobre os defeitos dos nossos eventos culturais – o que não tem muito a ver com o show dos Açúcar Castanho, vale a pena referir que, por exemplo, num concerto musical, os ruídos ou deficiências que têm a ver com a qualidade de som são o mais grotesco pecado que se pode cometer.

Afinal, nos mesmos, o essencial é o som. É na sonância, na melodia, na harmonia, nessa linguagem universal comummente chamada música, que o consumidor do espectáculo quer encontrar satisfação. Se isto falhar, seja por que razão for, comete-se o mais básico pecado.

De todos os modos, fomos ao concerto dos Açúcar Castanho – esta banda cujo vocalista é o rapper Pedro Mendes ou, simplesmente, Pitchó, o guitarrista Dito, o baterista Samito Tembe, o teclista e intérprete Afonso Bakha, o baixista Jojó Zita e a saxofonista Ivete Vales – e é sobre esse tema que se faz a nossa matéria. Haviam sido alinhadas nove músicas – Nova Geração, Eu Tive Um Sonho, Amar-te Para Sofrer, Uma Luz, Novo Som, Nós os Dois, Matola Uma Cidade para Todos, Amigo Postiço e Vida Dura – para o espectáculo.

Desse rol, por causa do atraso, e das nossas fragilidades no que se refere ao transporte, tivemos de abandonar o espaço do Café Camissa, depois de terem sido apresentados apenas quatro temas. Já passavam alguns minutos das 22 horas. No entanto, como havia alguns artistas convidados, além da perfomance dos instrumentistas, um e outro, subiam ao palco para emprestar a sua voz animando as poucas pessoas já presentes. Por isso, talvez, a nossa narrativa tem de começar por aí.

É inquestionável a capacidade de execução destes instrumentistas. Se bem que, o que há de novo neles é o nome da banda – Açúcar Castanho. Cada um tem um percurso artístico cujos anos podem ser avaliados em função dos resultados da forma como se relacionam com essa arte. Eles produzem uma música que – longe do encaminhamento que a composição vocalizada sugere – de per si, é uma narrativa crescente, com um começo, um desenvolvimento e uma conclusão.

Ou seja, a sua criação tem uma estrutura que se confunde com a metáfora da vida – essa ideia de nascer, crescer, reproduzir-se e cumprir, por fim, o mais letal destino dos Homens, a morte. Percebemos muitos cenários inefáveis e indiciáveis – situações sobre as quais não se pode falar, muito menos ensinar. A única experiência boa para perceber é estar presente e acompanhar essas nuances – nas obras musicais dos Açúcar Castanho.

Para quem não escuta muito o Rap, como é o nosso exemplo, tendo, por isso, algumas dificuldades em perceber algumas mensagens que se veiculam naquele estilo, a experiência de contemplar Singaman a inventar um freestyle é ímpar, porque, talvez por razões técnicas da amplificação do som, nada do que disse, além de “a polícia conhece- -me. Eu sou Singaman”, se percebeu. De qualquer modo, na sua segunda música, o rapper teve uma actuação com alguns motivos cinematográficos. No entanto, pouco aproveitou a melodia que se lhe estava a ser criada pelos instrumentistas – por isso, se produziu uma desarmonia entre ambos.

A música Rap feita com banda, repita-se, propõe aos ouvintes uma experiência sonora única. Fica- -nos claro que é preciso potenciar esta prática. Ela representa uma atitude. Muito em particular porque – como afirmou Pitchó, referindo-se aos rappers – “a nossa missão, na terra, é transmitir a mensagem”. E foi um pouco disso que, em composições como, por exemplo, Nova Geração, Eu Tive Um Sonho, Amigo Postiço, entre outras, de uma forma animada e didáctica, o colectivo musical Açúcar Castanho fez na noite da sexta-feira passada.

E por referir-se a esta questão de uma mensagem actuante e com a finalidade de estimular alguma reflexão social, não temos como ignorar este questionamento do rapper moçambicano Tira Teimas: “Como é que a pobreza absoluta irá acabar, se o próprio Governo é que nos está a roubar?”. A verdade, porém, e como todos estamos a vivenciar, é que “o povo não é completamente ignorante”. Mas é preciso que alguém, como Tira Teimas faz, dê o alerta: “acordem irmãos”.

Hoje, 31 de Janeiro, no mesmo espaço, Café Camisa anexo ao Núcleo de Arte, a partir das 18 horas – como se anunciou – Jazz P & Ras Skunk Black Liberation partilham o palco, a fim de exibirem as suas experiências artístico-musicais.


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