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Talento reprimido

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O elevado índice de contrafacção discográfica que tem vindo a ganhar terreno em Nampula levou o músico Distério Bacalhau a reprimir a sua vocação por algum tempo. Porém, presentemente, com oito faixas musicais desconhecidas pelo público, o jovem de 29 anos de idade está a um passo de lançar o seu primeiro álbum.

 

Antes de ganhar o gosto pela música, Distério Bacalhau sonhava em tornar-se sacerdote. Foi no Seminário Menor de Santo Agostinho, na cidade de Quelimane, onde o jovem descobriu a paixão pela vida artística. Durante o curto tempo em que ficou confinado ao sacerdócio, ele aprendeu a tocar alguns instrumentos musicais, nomeadamente a guitarra, o piano, a bateria, o teclado e o saxofone. “Nos seminários da Igreja Católica por onde eu passei parte da minha infância, a música fazia parte do nosso dia-a-dia, era a nossa sobremesa após as refeições diárias”, conta.

 

Volvidos sensivelmente cinco anos, Bacalhau abandonou a vida sacerdotal com uma bagagem significativa na arte de tocar instrumentos e compor músicas. O acontecimento coincidiu com a morte da sua mãe, facto que mudou completamente o rumo da sua vida.

Com o andar do tempo, a paixão pela música começou a intensificar-se. Graças a um golpe de sorte, Bacalhau foi convidado a integrar um dos mais prestigiados agrupamentos musicais da cidade de Quelimane, os Garimpeiros. “Eu subi ao palco pela primeira vez com a banda, tendo trabalhado durante um ano. Na altura, a onda de pirataria da música não era acentuada, ou melhor, não existia”, afirma.

Mas o destino conspirou contra o sucesso de Distério Bacalhau que se viu obrigado a mudar de residência, abandonando, assim, o seu trabalho, devido à morte do seu progenitor. O jovem mudou- se para a vila municipal de Alto Molócuè e enquadrou-se, como baterista e pianista, na banda “Oravo”, uma colectividade local composta por jovens que lutavam para imortalizar os ritmos da região centro.

Em Alto-Molócuè, as exibições públicas da banda eram as principais atracções durante os fins-de- -semana. O trabalho que exigia empenho e dedicação por parte dos integrantes começou a regredir devido às dificuldades que aquele agrupamento musical enfrentava. Porém, algumas adversidades precipitaram a desintegração da “Oravo”.

A arte de tocar instrumentos musicais ainda falava mais alto na vida de Bacalhau. A dificuldade de se juntar a um grupo cultural para imortalizar o seu talento prevalecia. Mais tarde, o jovem músico passou a integrar a banda conhecida por “Sem Nome” do distrito de Gurúè. “Depois de sair da Oravo, enfrentei muitas dificuldades. Porém, como já era uma pessoa conhecida, passei a integrar um conjunto musical “Sem Nome” como baterista”, afirma.

Naquele conjunto, além da bateria, ele tocava guitarra. Apesar disso, a remuneração muito baixa não preocupava o artista, até porque o que interessava ao instrumentista era ganhar a simpatia do público. Em 2000, Bacalhau recebeu um convite para fazer parte da banda Kassav de Gurúè, criada em homenagem ao agrupamento musical caribenho, tendo aceitado. “O trabalho passou a ser mais intenso, pois recebíamos convites para animar as casas de pasto todos os dias”, conta.

Em 2011, recebeu a proposta para dar aulas de música num projecto financiado por uma organização não-governamental (ONG). “O convite era irrecusável. Passei a leccionar música a artistas do distrito de Gurúè. Na altura, além de baterista, também passei a desempenhar as funções de contabilista”, diz.

Após o término do contrato de trabalho com a ONG, Bacalhau mudou-se para a cidade de Nampula com o propósito de revitalizar a arte. Na considerada capital do norte ele deparou com um cenário diferente: o elevado índice de pirataria. “Quando cheguei a Nampula, pensei que a produção artística era valorizada. Pelo contrário, vi que o trabalho dos fazedores da cultura é levado para o fundo do poço. Um pouco por toda a cidade deparei com vendedores ambulantes com discos pirateados”, afirma.

Apesar de se ter mostrado desapontado com o nível de pirataria, em 2012 definiu uma estratégia com vista a inibir a propagação de produtos artísticos contrafeitos. “Nós, os artistas, somos muito emocionados. Mal imaginamos uma letra e melodia, procuramos um estúdio e lançamos o produto. Com isso, saímos prejudicados porque trabalhamos em vão, pois os falsificadores saem a ganhar. Quando a pessoa organiza um álbum completo, tem o tempo suficiente para chamar pessoas mais experientes para que estas apresentem o seu ponto de vista. Se for detectado algum erro, pode ser rectificado sem que o público saiba”, comenta.

O seu primeiro álbum em preparação que, presentemente, contém oito músicas retrata acontecimentos da sociedade, com destaque para a infidelidade entre os casais, o percurso de uma mulher solteira e de um chefe de família, as saudades da sua terra natal, entre outros. Bacalhau prevê lançar o seu trabalho discográfico nos finais do ano em curso e será antecedido de um espectáculo ao vivo que, segundo ele, será gratuito. Para o efeito, conta com a parceria do músico Valdemiro José e de um empresário cuja identidade não revelou.


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