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Chuva ofusca “Arco-Íris” na Matola

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Num país onde os gestores do Estado têm 725 milhões de dólares para executar um projecto de construção da ponte Maputo/Catembe, não há dinheiro para resolver problemas básicos e assegurar que as crianças não estejam impedidas de gozar do seu direito de instrução. Há 30 dias, a chuva inundou a Escola Comunitária e o Centro Arco-Íris da Machava, no bairro Nkobe, no município da Matola, e causou danos enormes aos gestores dos dois estabelecimentos erguidos com base em caniço. As camaratas e outros compartimentos ficaram alagados. O terreno onde as instalações se encontram é uma “ilha” e só através de tambores, que funcionam como canoas, se pode ter acesso às instalações.

As autoridades assistem, indiferentes, ao sofrimento de 380 petizes, dentre os quais uma parte já não assiste as aulas até que a água desapareça, porém, não se sabe quando. Este problema que se repercute, de forma cíclica, pelas zonas onde o carvão e outros minérios geram fortunas que tão-pouco revertem em benefício das comunidades, já degenerou em doenças que neste momento apoquentam quatro petizes, dois deles em estado grave, naquele estabelecimento de ensino e orfanato que, também, acolhe crianças indigentes e suporta as suas despesas de formação até uma fase em que sobrevivem sem depender de terceiros.

Celestino Sinete e Júlio Sinete, de 16 e 18 anos de idade, são irmãos. Eles não têm condições de sobrevivência e vivem no centro enquanto estudam noutras escolas que leccionam classes superiores, contudo, estão impossibilitados de prosseguir com a instrução e desenvolver outras actividades devido a uma doença resultante daquela água estagnada. Os gestores da Escola Comunitária e Centro Arco-Íris da Machava ponderam abdicar das férias para compensar o tempo perdido com vista a não prejudicar os instruendos nem comprometer os planos pedagógicos. Em relação a este assunto, Calisto Cossa, edil da Matola, tentou explicar-se, de forma atabalhoada, revelando que não está em condições de resolver o problema.

Os alunos e os pais e encarregados de educação estão desesperados por causa da falta de solução para evitar que as instalações fiquem inundadas a cada vez que chove, facto que origina mosquitos. Segundo Adriana Marcolino, directora da instituição, existem 15 alunos que padecem de malária, diarreias e outras doenças devido a águas estagnadas.

“Em regra não temos registado problemas de saúde mas as águas acumuladas causam inúmeras enfermidades e a enfermeira desdobra-se para atender a todos”. A senhora pede para que as autoridades façam alguma coisa de modo a evitar mais contaminações. O seu desejo é que, pelo menos, se construa uma drenagem que possa escoar a água nos dias chuvosos.

A Escola Comunitária e Centro Arco-Íris da Machava possui 60 mil metros quadrados, dos quais 70 porcento estão totalmente inundados há mais de 30 dias. O acesso às instalações só é possível através de uma viatura com atracção às quatro rodas e um “barco” inventado pelos meninos do orfanato com base em quatro tambores plásticos interligados entre si. As salas de aula estão alagadas, a igreja, a padaria e os dormitórios encontram-se igualmente inacessíveis e os 90 alunos que vivem ali em regime de internato enfrentam grandes dificuldades.

Obras da edilidade “mal” executadas

O nosso entrevistado explicou que antes de o município da Matola reconstruir a estrada que liga o bairro Nkobe ao km 15 na Machava, havia valas de drenagens. Todavia, em Fevereiro de 2013, quando a via foi reabilitada, os engenheiros das obras eliminaram os canais que serviam para escoar a água. A partir dessa altura, o alagamento das ruas e casas passou a ser normal nos dias de chuva e o troço é perigoso por causa da falta de lombas. “Por esta escola já passaram milhares de crianças. A nossa instituição atende menores carentes e, neste momento, estamos a ter problemas para continuar as actividades de formação por causa do alagamento do estabelecimento. Temos seis salas de aulas e quase todas estão inundadas. Ficámos três semanas sem aulas. Nas duas salas que funcionam usamos um insecticida para evitar a malária”, narrou Adriana.

Água estagnada por mais de três meses

Armando Mabote, director pedagógico do mesmo estabelecimento de ensino, explicou que das seis salas de aula apenas duas, uma de 1ª e outra de 2ª classe, funcionam. As outras estão alagadas e os estudantes são instruídos ao relento, e quando chove perdem as lições. O que mais preocupa é o facto de alguns pais e encarregados de educação estarem a inibir os seus filhos de de fazerem presentes nas salas aulas. “Se não houver nenhuma intervenção a água pode continuar estagnada por um período de mais de três meses”.

Por sua vez, Adriana Marcolino teme bastante pela saúde dos que frequentam o curso nocturno, pois, segundo ela, correm o perigo de serem atacados por algumas cobras que alegadamente existem na água, para além de outros bichos nocivos. O barco improvisado não suporta o número de estudantes e é difícil usá-lo para atravessar de um ponto para o outro.

Braga Jesse, director do Centro Arco-Íris da Machava, disse o seguinte: “Precisamos urgentemente de ajuda, nada podemos fazer sozinhos e o município deve ter um plano de contingência para escoar as águas. Há dificuldades para acolher as 90 pessoas nesta altura em que os dormitórios estão alagados e 15 alunos que estudam fora deste estabelecimento enfrentam dificuldades para entrar e sair do centro. Duas pessoas pediram abrigo em casa de amigos na cidade de Maputo para evitar constrangimentos. A banda musical chamada “Só no Céu” está impedida de ensaiar e fazer os concertos devido à inundação”, contou o nosso interlocutor.

A criminalidade

As inquietações daquele centro não se resumem somente à inundação. Jesse Braga, lembrou-se, com certo pavor, do dia 01 mês de Junho de 2013, quando o famoso G20 – uma suposta gangue de criminosos que torturava as suas vítimas com instrumentos contundentes para coagi-las a indicar onde guardavam bens valiosos e dinheiro – assaltou o Centro Arco-Íris da Machava e provocou um pandemónio de que até hoje se fala.

Nesse dia, os malfeitores ignoraram o toque dos alarmes de segurança e perpetraram desmandos a seu bel-prazer. Os 13 visitantes estrangeiros, por sinal financiadores do projecto de educação, que se encontravam no estabelecimento, perderam as suas jóias, computadores, telemóveis e dinheiro.

Os bandidos estavam armados e disparam despreocupadamente três vezes para o ar. “Eram 20 elementos que protagonizaram um assalto que marcou negativamente o orfanato porque os potenciais doadores suspenderam os apoios. As crianças ficaram privadas de ter aulas de informática porque os meliantes levaram todos os computadores e, estranhamente, depois do assalto a única pessoa detida foi um dos guardas do orfanato.


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