Há, de facto, cidadãos privilegiados neste rochedo à beira-mar. A série “Moçambique a saque” publicada nas páginas deste jornal que o leitor tem em mãos desvendou o véu de um mundo de regalias sem fim na instituição que devia, por razões óbvias, ser o ‘bastião’ da legalidade administrativa e, por consequência, a expressão máxima do respeito pelos bens públicos. E não estamos a falar dos 12 carros de afectação dos juízes, mas de um gasto irresponsável em combustível.
É injustificável o consumo mensal de quase um milhão de meticais no Tribunal Administrativo somente ao nível da província de Maputo no abastecimento de viaturas de expediente, dos juízes conselheiros e de transporte de pessoal. Num ano a despesa pode atingir os 12 milhões de meticais. Uma fortuna num país paupérrimo como Moçambique. A coisa fica bem mais vergonhosa quando o extracto da BP Moçambique mostra que apenas uma viatura é capaz de consumir mais de 800 litros de diesel, quase 30.000,00 meticais. Há aqueles que são menos despesistas e ficam pelos 700, 600, 500 ou 400 litros de combustível. Tudo pago pelo Estado.
O que faz um cidadão num veículo 4x4 com 800 litros de combustível? Serve ao Estado com tal esbanjamento do suor de todos nós? Não cremos. Até porque o mesmo TA gastou mais de 7.000.000,00 sem concurso público no aluguer de viaturas na ex- -Viauto (actual Easy Link). Não há desculpa possível para tanto despesismo e nem para a leviandade dos responsáveis pelas contas do TA. Ninguém pega nos extractos e fiscaliza os limites admissíveis? O que acontece no TA não difere de uma gestão doméstica, onde ninguém controla os gastos e a responsabilidade de tudo é assumida por uma única pessoa.
No caso em apreço tal pessoa é o Estado. Com tanta despesa e regalias espanta o número de processos sem desfecho. @Verdade, em 2011, reportou o drama de um cidadão que morreu à espera de justiça. O caso, esse, ganhou poeira nas gavetas do TA e o cidadão acabou por perder a vida na sua luta contra o Estado. Seria de estranhar se o TA condenasse a teta que lhe alimenta os caprichos. Era o mesmo que um cão morder a mão do dono que lhe dá de comer. Nem nos sonhos e os poucos casos são meramente cosméticos. O TA, já está provado, não existe para elevar a justiça, mas sim para defender o Estado.
Contudo, o que se gasta ou se deixa de gastar não é o mais espantoso. É o silêncio da opinião pública diante dessas falcatruas e da PGR. O silêncio do Governo, das bancadas da oposição e dos partidos travestidos de oposição construtiva mostram o país que somos. Não nos interessa o gasto irresponsável de todos nós, mas cada litro de combustível que entra nos carros dos “donos” do TA é menos uma carteira ou menos um comprimido. Significa menos uma escola e escassez do livro escolar. Isso acontece com a conivência do partido que nos governa por uma questão de solidariedade na podridão, de companheirismo de quadrilha e de irmandade que caracteriza os covis dos gangsters que tomaram de assalto o país.
Ninguém ainda pensou numa manifestação contra o silêncio que reside em torno desta podridão?