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Onde mora o fictício da música?

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Em 2014, na casa onde, nos últimos 30 anos, nasceram os melhores músicos moçambicanos, a Escola Nacional de Música, criou-se uma nova iniciativa: o More Jazz Big Band. “O fictício da música está aqui”. É provável que, para os mais cépticos, este argumento do professor Orlando da Conceição – grande mentor do Jazz no país – não seja convincente. Todavia, os factos confirmam que aquela instituição é o tecto dos artistas.

É quinta-feira. 10 de Abril. 10 horas de manhã. Orlando da Conceição, Moreira Chonguiça, Ernest Dawkins, Hélder Gonzaga, Timóteo Cuche – e muito outros artistas, professores de música, pais e encarregados de educação – estão reunidos com as crianças, na verdade, com os alunos, no pequeno quintal da Escola Nacional de Música. De longe fareja-se a palavra. Fareja-se o cheiro do Jazz.

Do Blues. Há muito aprendizado e animação no local. Talvez (constatámos bastantes instantes depois, já distantes do local, quando começámos a reflectir sobre o que experimentámos) estes sejam os ingredientes de um workshop sobre a música. E é isso o que estava a acontecer, a preceder a conversa colectiva que se travou envolvendo a Imprensa.

Trata-se da apresentação do More Jazz Big Band, a nova iniciativa do saxofonista moçambicano, Moreira Chonguiça, que associa mais quatro protagonistas – o moçambicano Orlando da Conceição e o norte-americano Ernest Dawkins, na qualidade de patronos da iniciativa, bem como o jovem saxofonista Timóteo Cuche e o baixista Hélder Gonzaga. “Orgulho-me de estar na direcção deste grande projecto musical que, à partida, representa um grande desafio. Mas, todas as lutas são para serem vencidas. Temos um exército capaz e eficiente para sermos vitoriosos em todas as batalhas.

A nossa expectativa é trabalhar no sentido de tornar estes meninos os grandes músicos deste país. Chegou a altura de cada um de nós oferecer o seu melhor para que se produza uma qualidade desejável na música. Para o efeito, precisamos de ombrear com os fazedores do Jazz a nível internacional. Temos tudo para caminhar e nada mais nos espanta. Portanto, a expectativa é grande. Queremos produzir músicos de qualidade que não só sirvam para satisfazer a comunidade local, mas que respondam também aos anseios de qualquer pessoa, em qualquer lugar”.

Estas palavras do professor Orlando da Conceição, que reflectem o seu sentimento, em relação à sua nova missão, confundem-se com uma oração. E como tal, como se tudo tivesse sido premeditado, de repente há uma chuva miúda em Maputo. Será esta uma bênção? Talvez! O ponto é que, como Moreira Chonguiça explica, “a Escola Nacional de Música é o nosso tecto, o Jazz é a nossa filosofia de vida e o More Jazz Big Band é a razão”. Está-se num dia de grande inspiração, porque a iniciativa futurista que se está a engendrar revela muita genialidade.

O que é, então, o More Jazz Big Banda? A quem irá beneficiar? Como é que irá funcionar? O que fundamenta a escolha dos patronos que possui? Todas estas perguntas, e muitas outras, povoam a mente de quem ouve ou lê sobre esta nova iniciativa que promete acrescentar grande valor ao cenário das artes em Moçambique. Moreira Chonguiça é reactivo: “Eu não escolhi o professor Orlando para participar neste projecto – o More Jazz Big Band. Ele é quem me escolheu quando, aos meus sete anos de idade, a tocar a flauta, me apresentou o clarinete. Isto significa que decidi trabalhar com os meninos da Escola Nacional de Música porque a minha primeira experiência musical se iniciou aqui. Com os professores locais”.

O More Jazz Big Band envolve alunos da Escola Nacional de Música e do Instituto Nilia, mas os organizadores esperam incluir outras crianças cujos pais não têm capacidade de inscrevê-los numa instituição análoga. “E tendo em conta que o professor Orlando da Conceição é um grande mentor das artes, a vários níveis, nós achamos que era apropriado consorciamos as nossas forças para a materialização desta iniciativa”, esclarece.

A maioria dos Big Bands iniciaram-se em New Orleans, nos Estados Unidos, e este movimento jogou um papel determinante para a evolução e a expansão do Jazz na medida em que o Big Band envolve muitas pessoas. “Esta modalidade artística e musical concorre para o crescimento mútuo dos participantes, porque não promove nenhuma espécie de competição entre eles. Os jovens aprendem a respeitar a arte e assim há muita disciplina entre eles”, refere Ernest Dawkis.

De acordo com Dawkins, o professor Orlando da Conceição – conheceu-o em 1997, nos Estados Unidos – é um dos primeiros instrutores da Escola Nacional de Música. Ele formou muitos músicos moçambicanos conceituados com carreiras internacionalizadas. Por essa razão, faz todo o sentido que esta instituição seja a base para o nascimento deste More Jazz Big Band em Maputo.

Mas, mais do que isso, o saxofonista norte-americano congratula-se com o actual estágio de evolução do movimento Jazz na capital dos moçambicanos. Afirma ele que “estive em Moçambique, pela primeira vez, há 17 anos e estou muito impressionado com o nível de evolução de Jazz que actualmente existe, muito em particular o envolvimento da juventude. Tecnicamente, em Moçambique, o Jazz está a conquistar uma nova maneira de ser e estar – o que é muito satisfatório”.

Garantir a sustentabilidade

Tendo em conta que se está diante de um projecto bonito, bem pensado e, consequentemente, bem acolhido neste mercado em que a geração de projectos bons é uma tradição, como é que se irá garantir que o More Jazz Big Band seja algo sustentável de modo que, com o passar do tempo, os valores artísticos que estão a nascer não desvaneçam?

De acordo com Moreira, o essencial é garantir que se possa incutir nas crianças envolvidas na iniciativa o respeito pela arte e pela música. “A música afecta, em grande medida, a sua dimensão psicológica e social. Por exemplo, se hoje eu estou aqui é graças ao trabalho realizado por pessoas como o professor Orlando que contribuíram para a minha formação”.

“Sabemos que é comum nascerem bons projectos em Moçambique, os quais – sem precedentes – desaparecem. Então, a sustentabilidade desta iniciativa dependerá de que nós consigamos manter os jovens envolvidos por muito tempo. Eles é que são a umbrella que irá assegurar que a realização seja sustentável. Além do mais, irão participar outros artistas convidados, entre nacionais e internacionais. Na verdade, a sustentabilidade do More Jazz Big Band está dentro do More Jazz Series – o projecto mãe”.

Por sua vez, o professor Orlando relaciona a sustentabilidade do More Jazz Big Band com o seu longo prazo. Para tal é preciso que haja esperança se bem que as condições materiais – para o trabalho – estão criadas: “As crianças vão crescer e, por sua vez, irão criar projectos similares aos que o Moreira Chonguiça possui agora. Se forem capazes de gerar as suas próprias iniciativas – elas mesmas irão garantir a sustentabilidade do Big Band e do Jazz”.

É preciso perceber o More Jazz Big Band como um projecto de todos, de modo que com o apoio dos envolvidos – o que se precisa – se possa garantir a sua sustentabilidade. “O mais difícil é começar, mas, agora que começámos, temos de continuar a marcha. A Escola Nacional de Música é o nosso berço, o nosso altar em tudo o que for necessário. O feitiço da música encontra-se aqui. Não teremos dificuldades para avançar”.

Os resultados do More Jazz Big Band serão exibidos, em Agosto, num evento em que irão participar outros músicos moçambicanos e estrangeiros. Esta é uma iniciativa de formação de músicos que decorre no período lectivo do ano. No entanto, durante as férias, época em que os alunos não têm nenhuma actividade, o mesmo irá actuar em novos focos promovendo concertos e workshops. “Já identificámos alguns pólos regionais para os quais iremos voltar a nossa atenção. A cidade da Matola e bairros como o Chamanculo são exemplos de onde iremos levar os jovens para a realização de workshops e actuações”.


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