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Adolescente vende bolinhos para sustentar a família

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Nos últimos dias, é frequente deparar-se com dezenas de adolescentes a venderem bolinhos fritos ou outros produtos de consumo imediato nas artérias da vila municipal da Maganja da Costa, na província da Zambézia, como forma de garantirem o seu auto-sustento. Chado Júnior, de 15 anos de idade, residente no bairro de Muediua, ganha a vida nas ruas daquele município e é responsável pelos seus quatro irmãos e pela sua avó.

Chado Júnior frequenta a 6ª classe na Escola Primária Completa de Sede Vila. O seu progenitor perdeu a vida, vítima de acidente de viação quando regressava da cidade de Quelimane. Com a morte do seu pai em 2009, o adolescente, a sua mãe e os seus três irmãos tiveram de se mudar para a casa da avó onde, actualmente, residem.

Como os desígnios da vida são insondáveis, em Fevereiro de 2013, o rapaz perdeu a sua mãe, como consequência de doença, por sinal a única pessoa que garantia o sustento da família. Daí em diante, ele e os seus irmãos começaram a enfrentar dificuldades sem precedentes. Sem ter o que comer, o adolescente optou por prestar pequenos serviços como forma de amealhar algum dinheiro e colocar em marcha o seu próprio negócio. Durante quatro meses, trabalhou como empregado doméstico e, mensalmente, auferia 300 meticais.

Com esse valor, o adolescente deu início à venda de bolinhos fritos. “A morte da nossa mãe deixou-nos bastante chocados. Não sabíamos o que fazer, pois ela era a única pessoa que garantia o nosso sustento”, afirma. Na verdade, a história de Chado e os seus irmãos não difere da de muitos outros petizes moçambicanos espalhados pelo país.

À semelhança de outras crianças, no seu dia-a-dia, ele percorre longas distâncias para vender bolinhos e sustentar a sua família. Todos os dias, ele sai de casa com um baldinho na cabeça contendo o produto e caminha em direcção à escola onde frequenta e, às vezes, ao mercado local. Esses são os principais pontos de venda de Chado.

Devido à falta de condições, dois dos irmãos mais novos, nomeadamente Sonito Júnior e Manito Júnior, ambos de oito anos, não estudam. “O dinheiro que ganho, diariamente, não é suficiente para permitir que os meus irmãos se matriculem na escola. Tenho tido dificuldades para comprar cadernos para mim. Muitas vezes, alguns colegas oferecem-me material escolar”, lamenta.

O adolescente começou a comercializar bolinhos fritos nas ruas da vila municipal da Maganja da Costa quatro meses após a morte da sua progenitora, quando corria o ano de 2013. Ele conta que abraçou aquela actividade por iniciativa própria. “Pensei nesse negócio porque, muitas vezes, ficávamos sem ter o que comer. A minha avó possui uma horta, mas ela já tem uma idade avançada e não pode fazer muito esforço”, refere.

O seu investimento inicial foi de 200 meticais, valor que conseguiu graças ao trabalho doméstico que prestava numa casa de família. De acordo com Chado, os primeiros dias eram bastante difíceis porque não conseguia conciliar a escola com a venda de bolinhos. Apesar de enormes obstáculos, o adolescente não desistiu, pois precisava de colocar comida na mesa para si, os seus irmãos e a avó.

“Todos os dias passamos por muitas dificuldades, mas não nos podemos deixar levar porque ninguém olha para nós. Sendo eu o mais velho dos meus irmãos, tenho de arranjar todos os meios para ajudar os meus irmãos e cuidar da minha avó que nos acolheu”, diz.

O adolescente afirma que, para fazer os bolinhos, conta com a ajuda duma vizinha. Ele diz ainda que, por dia, em média, consegue amealhar entre 50 e 100 meticais, o que permite adquirir farinha de milho e peixe ou feijão para o sustento diário da sua família. Chado Júnior avança que, quase sempre, acorda às 5h00 da manhã para se dedicar às tarefas domésticas. Depois de concluir as actividades caseiras, ele dirige-se à escola e, por volta das 10h00, regressa à casa, prepara o almoço para os irmãos e a avó e, mais tarde, geralmente às 14h00, o adolescente faz-se ao mercado.

O dia-a-dia do rapaz é caracterizado por muitas privações, o que inclui a falta de alimentação que, muitas vezes, tem sido um grande problema. Chado luta para que não falte comida em casa, porém, tem sido frequente não haver sequer um grão de arroz. As folhas de batata-doce, de abóbora, de feijão nhemba e de mandioca são a salvação daquela família.

O nosso interlocutor refere que a sua actividade não tem sido tarefa fácil, mas as condições de vida obrigam-no a fazer o que pode. Para vender todos os bolinhos fritos, tem de percorrer as principais ruas da vila e passar pelos locais de grande concentração humana. No decurso da conversa com a nossa reportagem, o adolescente afirmou que uma das grandes dificuldades que enfrenta durante a venda de bolinhos tem a ver com as taxas diárias cobradas pelos fiscais do município. “Não tenho como fugir deles”, diz.

Uma vida de incerteza

Chado Júnior é um adolescente humilde e vive, praticamente, apreensivo com a situação por que passa a sua família. Pode-se dizer, na verdade, que ele se tornou chefe da família precocemente. O nosso interlocutor afirma que, neste momento, tem três preocupações que lhe tiram o sono, nomeadamente a falta de alimentação, de condições financeiras para que os seus irmãos possam frequentar a escola, e a precariedade da habitação onde residem.

Apesar das dificuldades, o adolescente tem o sonho de se formar e dar uma vida melhor aos seus dependentes. O seu desejo é tornar-se agente da Polícia ou professor, mas a cada dia que passa tal desiderato se vai tornando uma miragem devido à falta de apoio.


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