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Luís Hernandez: Um nome que ficará na história do basquetebol do Chiveve

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São poucos os exemplos de treinadores estrangeiros que conseguem triunfar num país onde o basquetebol está condenado a sobreviver num estado moribundo, onde as competições são autênticas “jóias” raras que empurram os atletas a manterem o seu bom estado de forma no escalão recreativo e onde os clubes pagam salários durante 12 meses a indivíduos que, por reconhecida desorganização nesta modalidade, só produzem durante três meses. Luís Hernandez é um deles.

Depois de uma passagem pouco feliz pela selecção sénior femininaem 2011, sendo que até hoje ainda não lhe foram pagos os respectivos honorários, aquele técnico conduziu a equipa masculina do Ferroviário da Beira à conquista de dois títulos consecutivos de campeões nacionais. A festa do último êxito foi feita na mesma semana que o espanhol completou 48 anos de idade.

Luís Hernandez iniciou a carreira de treinador há sensivelmente trinta anos nas Ilhas Canárias, na Espanha, sua terra natal. Estreou-se nos escalões de formação quando tinha apenas 18 anos de idade. Contudo, devido às suas reconhecidas capacidades, saltou várias etapas para, 12 anos depois, orientar pela primeira vez uma equipa sénior ainda naquele país europeu. Antes de se aventurar para o basquetebol moçambicano, a fim de ocupar o cargo de seleccionador nacional e, mais tarde, de treinador do Ferroviário da Beira, aquele técnico espanhol passou pelo continente americano, onde completou todos os níveis de formação.

@V – Como é que se sente depois de ter erguido, pela segunda vez consecutiva, o principal troféu do Campeonato Nacional de Basquetebol?

Luís Hernandez – Quando se ganha todo o mundo fica feliz. Eu não fugi à regra por ter conduzido o Ferroviário da Beira à conquista do segundo título nacional desde a sua existência. Este troféu conquistado surge emreconhecimento do trabalho que temos vindo a fazer desde o término da edição 2012 do Campeonato Nacional de Basquetebol sénior masculino. Digamos que é obra de todos os intervenientes desta colectividade, desde os jogadores, os técnicos até à direcção que sempre acreditou no poderio desta brilhante equipa.

@V – Apesar de ter entrado nesta competição como campeão em título, atribuiu o favoritismo às equipas da capital do país, sobretudo ao Clube Ferroviário de Maputo. Por que razão?

LH – Disse isso porque as equipas da cidade de Maputo estavam mais rodadas comparativamente às das restantes províncias do país.

@V – Mas derrotou todas as equipas favoritas. Como isso foi possível?

LH – Nós pautámos pela humildade e concentração em cada jogo. Tínhamos o objectivo de revalidar o título, mas para isso teríamos de ultrapassar a fase regular e chegar à final. Quem assistiu aos jogos notou que, inicialmente, a nossa equipa não tinha nenhum ritmo competitivo. Mas graças a essa humildade e concentração a que me referi acima, ela conseguiu atingir os seus propósitos, apesar da segunda posição ocupada na fase regular.

@V – Na fase regular perdeu diante do Ferroviário de Maputo, equipa contra a qual disputou a final. O que mudou de um jogo para o outro?

LH – Na fase regular, o nosso conjunto não estava rodado. Era normal um deslize daqueles, o que só aconteceu contra o Ferroviário de Maputo, um rival que nas suas fileiras não conta com nenhum estrangeiro. Mas tirámos as devidas ilações depois daquela derrota, sobretudo na necessidade de aumentarmos a capacidade de anular o jogo exterior de qualquer adversário. Felizmente conseguimos e, apesar de termos perdido também o segundo “play-off” da final, revalidámos o título.

@V – Outro dado que se notou durante a competição, o Ferroviário da Beira tinha um plantel bastante limitado, o que custou uma derrota no segundo jogo dos “play-off” da final, por manifesto cansaço e falta de opções no banco. O que terá acontecido para que tivessem um número reduzido de jogadores?

LH – Nós conversámos com a direcção no sentido de se manter a base da equipa que em 2012 se sagrou campeã nacional, bem como convocar alguns juniores talentosos para darem outra dinâmica à equipa sénior. Contudo, sentimos que precisávamos de jogadores experientes para ocuparem algumas posições, sobretudo devido à ausência de André Velasco, o culminou com a contratação de Kejuan Johnson e Jeffrey Fanhbulleh. Isto para dizer que não é verdade que estivemos reduzidos. Nós só não queríamos correr riscos optando por jogadores mais novos.

@V – Há quem diga, entre os analistas desportivos, que utilizou apenas oito dos 12 jogadores por medo. Está de acordo com esta afirmação?

LH – Não concordo! Todos os 12 atletas foram utilizados, sobretudo na primeira fase em que soubemos rodar e dar minutos aos mais novos. Na segunda fase, as partidas eram mais intensas e nós não tínhamos tempo para pôr a jogar alguns atletas inexperientes.

 

“O Ferroviário da Beira vale pelo conjunto”

@V – Há pessoas que perguntam o que seria do Ferroviário da Beira sem os jogadores estrangeiros. Que resposta tem a dar?

LH – Olha, quase todas as equipas tinham jogadores estrangeiros, exceptuando o Ferroviário de Maputo. Portanto, não concordo que se diga que nós ganhámos esta competição porque alinhámos com este ou aquele jogador estrangeiro. Até porque Kejuan e Jeffrey não jogaram sozinhos. Magoliço e Ismael também foram regulares e, isso, ninguém viu. As pessoas devem saber que uma equipa de basquetebol é composta por cinco jogadores dentro da quadra e que o Ferroviário da Beira vale pelo conjunto que tem.

@V – Ainda nesse destaque dado aos dois jogadores norte-americanos, nomeadamente Kejuan Johnson e Jeffrey Fahbnulleh, explique- -nos como é o balneário com a presença deles, sabido que são oriundos de uma escola muito avançada.

LH – Para mim todos são iguais, apesar de cada um desempenhar um papel diferente no campo. Todos eles são colegas de equipa e são guiados pelo objectivo de vencer cada desafio. Falando concretamente dos dois norte-americanos, deixa-me dizer que eles são muito humildes e, acima de tudo, amigos de todos. Sempre foram acarinhados por nós, pela direcção, até pelos adeptos. O talento de cada um, como todos os outros, beneficiou sobremaneira o Ferroviário da Beira na conquista deste troféu.

 

“Temos talento, mas faltam as competições”

@V – Como é que olha para o basquetebol moçambicano na actualidade?

LH – O basquetebol moçambicano está num bom caminho. Em Moçambique há muito talento, mas a ausência de competições constitui um calcanhar de Aquiles. Sei que é incorrecto fazer este tipo de comparações, mas se Angola está onde está, em parte deve-se à quantidade e qualidade de provas internas que naquele país são organizadas. Digo mais. Eles organizam uma competição no sistema de uma Liga Nacional, enquanto as nossas provas duram apenas uns dias. E foi isto que pesou na eliminação do Ferroviário da Beira na fase de apuramento à Taça dos Clubes Campeões de África, na medida em que defrontámos duas equipas angolanas que poderiam estar no nosso nível.

@V – Em 2011, durante os Jogos Africanos, comandou a selecção nacional sénior feminina. Voltaria a ocupar este cargo?

LH – Só voltarei para uma selecção nacional, seja qual for, se a Federação Moçambicana de Basquetebol saldar a dívida que tem comigo. Depois disso, irei pensar se aceito ou não a proposta. Neste momento estou focado no meu Ferroviário da Beira, onde quero dar continuidade ao projecto de formação que venho desenvolvendo.


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