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Os árbitros são profissionais vulneráveis em Moçambique

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As maiores provas futebolísticas do país, nomeadamente o Moçambola e a Taça de Moçambique, têm sido fustigadas por actuações polémicas dos árbitros. Nos últimos dias, as queixas dos treinadores e dirigentes dos clubes, contra os homens do apito, têm sido frequentes, factor que contribui para a falta de espectáculo nos campos de futebol.

Funcionário de uma empresa de segurança privada, David Massango é um acérrimo amante do futebol moçambicanoque teve a oportunidade de assistir às diversas vicissitudesde gerações desta modalidade no país. Com 67 anos de idade, ainda vai aos campos, embora esteja agastado com o que considera de “arbitragens polémicas”. Julga que no passado era normal os árbitros cometerem erros e que, nos dias que correm, “eles fazem negócio com o apito, agindo a favor de clubes com maior poderio financeiro”.

André Sitoe, de 46 anos de idade, é outro adepto que já não acredita no sucesso do futebol moçambicano. Não tem receio de afirmar que são os árbitros que o afastam cada vez mais dos palcos desportivos, devido aos escândalos por eles protagonizados em cada fim-de-semana. “Nós estávamos em franco desenvolvimento. Estávamos a mostrar sinais de avanço nesta modalidade mas, com os árbitros que temos actualmente, caímos muito”, declarou.

Segundo o nosso entrevistado, “nos dias que correm os árbitros são as principais estrelas do Moçambola, diferentemente do que sucedia na época de Chababe em que brilhavam mais os jogadores”. Estes dois “doentes de futebol” interpelados pelo @Verdade, depois de uma partida do Moçambola, são apenas uma amostra do descontentamento (generalizado) dos adeptos com a arbitragem nos dias que correm. Como se pode compreender, estão todos de acordo quando se diz que os árbitros têm contribuído negativamente para a competitividade das provas e acusam aqueles profissionais de serem o rosto da corrupção.

O @Verdade foi à busca de respostas

Para comentar sobre este assuntodas arbitragens polémicas, conversámos com Abdul Gani, antigo árbitro, uma individualidade sobejamente conhecida pela sua verticalidade. Aliás, este foi o profissional do apito que, no passado, revelou alguns esquemas de viciação e combinação de resultados no futebol moçambicano, o que culminou com a sua suspensão daquela actividade. Durante os seus 10 anos de carreira, sendo cinco no Moçambola e os restantes nas competições recreativas, Gani nunca saiu escoltado pela Polícia de um campo de futebol.

Diferentemente do que acontece actualmente, não tinha problemas em sentar-se na bancada de um campo, rodeado de adeptos dos mais variados clubes, para ver um jogo que aceitou conversar com o @Verdade, Abdul Gani foi obrigado pela nossa equipa de reportagem a atropelar a promessa que fez à sua esposa de não falar, publicamente, sobre qualquer assunto ligado à arbitragem em Moçambique. Foi bastante simpático no início da conversa ao afirmar que “a máactuaçãodos árbitros acontece em todo o mundo. Dificilmente há jogos sem casospolémicos, sobretudo quando uma determinada equipa perde”.

Porém, quando começou a sentir-se mais à vontade, começou por definir aquilo que se pode considerar, na verdade, uma arbitragem questionável. “Há polémica quando os erros técnicos se tornam repetitivos e envolvem sempre as mesmas pessoas, neste caso os juízes”, disse Gani, todavia advertindo que “há vezes em que não existem problemas. Simplesmente os treinadores usam os árbitros como ‘bode expiatório’dos desaires”.

Questionado sobre o que estaria por detrás desses erros técnicos que, por vezes, se tornam repetitivos quer no Moçambola, quer na Taça de Moçambique, para não falar de outras competições do escalão recreativo, o nosso entrevistado respondeu que existem várias razões. Porém destacou, como exemplos, “a falta de actualização dos juízes antes do arranque de uma prova; a indisposição de um árbitro por problemas sociais; o facto de um juiz ser adepto de uma equipa e a pressão exercida pelo público, pelos jornalistas, entre outros intervenientes desportivos, sobre a figura de um fiscal.

“A CNAF deveria ser rigorosa”

Abdul Gani é da opinião de que a Comissão Nacional de Árbitros de Futebol (CNAF) não está a ser rigorosa no tratamento dos problemas que afectam a arbitragem e que influenciam negativamente o decurso saudável das principais provas futebolísticas do país.

Aquele antigo profissional entende que, “se um árbitro esteve mal num jogo, manifestamente em benefício de uma determinada equipa, é obrigação da CNAF tomar medidas drásticas no sentido de desincentivar esse tipo de práticas, sobretudo quando elas sãorepetitivas”.

“Se um juiz comete sempre erros, aquele organismo tem a obrigação de sancioná-lo severamente. E essa punição seria a expulsão definitiva desse indivíduo”, disse Gani, tendo acrescentado que em casos de erros menos graves, o prevaricador devia sofrer uma pena que parte dos seis aos doze meses de suspensão, “de modo a reflectir melhor”.

Ainda nesta abordagem, o nosso entrevistado recomendou à CNAF a melhoria de condições de trabalho dos árbitros pois, na sua maneira de pensar, actualmente eles encontram-se numa situação de extrema vulnerabilidade.

Gani revelou ainda que “o prémio de jogo destes profissionais serve, igualmente, para custear as despesas de transporte das suas residências até ao aeroporto e de lá até aos campos, sempre que o calendário de jogos exige viagens por via aérea”. “Aqueles que ainda não atingiram a categoria de árbitros internacionais, visto que a FIFA se responsabiliza por eles, devem comprar o seu próprio equipamento de trabalho, nomeadamente o uniforme, apitos, cartões e botas”, disse.

“Os árbitros não agem sozinhos”

Gani acusou os árbitros de não agirem sozinhos na viciação de resultados de jogos. Mas, para que não haja má percepção desta declaração, esclareceu, inicialmente, que nem sempre estes profissionais agem dentro de um esquema.

“Há os que erram por falta de conhecimento, tal como existe a falta de sensatez por partes dos dirigentes, treinadores e adeptos que, por vezes, condenam algumas decisões por desconhecerem completamente as regras da arbitragem. Pode, um agrónomo, falar de medicina ou um electricista falar de aviação civil?”, questionou o antigo profissional do apito.

No que diz respeito à culpa dos seus ex-colegas, Gani fez uma pergunta lógica no sentido de querer saber se, na viciação de um resultado desportivo, o árbitro age ou não sozinho. Disse, sem rodeios, que “há dirigentes que procuram os árbitros para lhes favorecer num determinado jogo. Mas, porque tudo ocorre de maneira oculta, sendo o trabalho de um juiz o mais visível, as pessoas apontam o dedo para o elo mais fraco”.

Sobre a existência de supostos imaculados que se queixam da má actuação dos “donos” do apito, Abdul Gani deu a entender que, em algum momento, todos são coniventes. “Uma equipa de Maputo recebe um adversário oriundo de uma outra província, digamos, Tete, e conquista os três pontos carregado ao ‘colo’ dos árbitros, como se costuma dizer. Mas, fora de portas, perde nas mesmas circunstâncias. Ambos contestam a arbitragem e a quem devemos dar ouvidos?”

. “Em Moçambique há árbitros bons. Mateus Infante é um deles”

Apesar das constantes queixas da má actuação dos árbitros, que chegam a influenciar o resultado dos jogos, Abdul Gani entende que em Moçambique ainda existem bons profissionais nesta actividade, embora haja a falta de estimulação por partes dos que gerem a classe. “Temos de discutir e redefinir as condições oferecidas aos homens do apito, para que deixem de ser vulneráveis e se sintam motivados a ajuizarem perfeitamente as partidas”, concluiu.

Para o nosso entrevistado, Mateus Infante é um exemplo quando se fala de arbitragem imaculada em Moçambique, “porque tem postura dentro e fora de campo. É um profissional exemplar. Ele é um árbitro que acompanha todas as jogadas e, acima de tudo, sabe ser pedagógico. Ele tem a noção de que os cartões não seguram os jogos”.

Júlio Mungói recusa-se a falar ao @Verdade

O presidente da CNAF, Júlio Mungói, recusou-se a falar ao @ Verdade acerca da arbitragem em Moçambique. Por não se encontrar na cidade de Maputo, estando em Manica numa suposta missão de serviço, aquele dirigente disse que poderia comentar sobre este assunto por via telefónica.

Contudo, desde a passada sexta-feira (13), Mungói não atende as nossas chamadas e até quarta-feira (18), data do fecho da presente edição, não se encontrava na sede daquele organismo que coordena a actividade dos árbitros no país.

“Aqui não fica ninguém. As reuniões não são feitas aqui e para lhe encontrar só por via telefónica”, disse o recepcionista da CNAF aquando da nossa última tentativa de falar, pessoalmente, com Júlio Mingói, ora em parte incerta.

CNAF suspende árbitros

A Comissão Nacional de Árbitros de Futebol castigou um total de oito árbitrospor mau desempenho na presente edição doMoçambola. As penas variam entre a repreensão por escrito e quatro meses de suspensão sendo que, depois disso, eles voltarão a exercer normalmente as suas actividades.

Eis a lista dos árbitros transgressores:

- Felisberto Timana, árbitro da partida entre o Têxtil de Púnguè e o Ferroviário de Pemba: 120 dias de suspensão;

- Filimão Felipe, árbitro do confronto entre o HCB e o Maxaquene: 60 dias de suspensão;

- Celestino Gimo, árbitro do encontro entre o Clube de Chibuto e o Ferroviário de Maputo: 45 dias de suspensão;

- Carlos Manuel, auxiliar de Celestino Gimo: 30 dias de suspensão;

- José Mhula, auxiliar de Gimo: 30 dias de suspensão;

- Dionísio Dongaze e Adão Tchucane: repreensão por escrito.


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