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Voleibol: Moçambique exclui-se do Campeonato do Mundo

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As duas duplas que formam a selecção nacional de voleibol na categoria de sub-21, feminina e masculina, não poderão disputar, entre os dias 22 e 27 do mês em curso, no Chipre, o Campeonato Mundial de Voleibol daquele escalão. A lamentável decisão prende-se com a falta de fundos para o efeito.

Trata-se de Agostinho Tivane e Ronaldo Cuamba, em masculinos, Fáuzia Mussane e Lise Cambula, em femininos, que dentro de duas semanas não poderão viajar ao Chipre, país europeu que acolherá o Campeonato Mundial de Voleibol de sub-21.

Esta informação foi confirmada ao @Verdade por Pelágio Pascoal, secretário-geral da Federação Moçambicana de Voleibol (FMV), que na ocasião revelou que a decisão se deve ao facto de o organismo gestor daquela modalidade não dispor de fundos para custear as despesas inerentes à viagem, estadia e alimentação dos atletas naquele país europeu.

Ainda de acordo com Pelágio, que para todos os efeitos serviu de fonte oficial para confirmar uma denúncia enviada à nossa Redacção pelos atletas, a FMV pretendia levar duas selecções nacionais para os respectivos “Mundiais”, nomeadamente de sub-17 e de sub-21, o que acabou por não acontecer porque, “à última hora, o Fundo de Promoção Desportiva, o nosso principal parceiro, informou-nos de que não dispunha de fundos para custear a ida das quatro duplas para aquelas importantes competições, mas de apenas duas, ou seja, de uma selecção, a de sub-17”.

Os contornos burocráticos que traíram a FMV

Ainda de acordo com Pelágio Pascoal, secretário-geral do organismo que gere o voleibol em Moçambique, a Federação Internacional de Voleibol (FIV) predispôs-se a custear as despesas inerentes à participação de todas as selecções nacionais nos Campeonatos Mundiais de Voleibol de sub-17 e sub-21, excepto as passagens aéreas que ficariam por conta dos respectivos países.

“Só que, a dada altura, as coisas mudaram e os participantes receberam indicações de que teriam de pagar a 100% os respectivos gastos, uma decisão que nos encontrou de surpresa pois, neste momento, nós não dispomos de nenhum fundo”, disse.

Porque era um sonho de atletas jovens que se ia reduzir a cinzas, a FMV tentou namorar os seus parceiros, nomeadamente o Fundo de Promoção Desportiva (FPD) e o empresariado nacional. “Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para termos o dinheiro necessário. Mas todas as portas não se abriram”, referiu Pelágio Pascoal, que lamentou o facto de Moçambique não poder participar no Campeonato Mundial de Voleibol de sub-21.

Para todos os efeitos, as duas duplas nacionais, que serão acompanhadas por apenas dois treinadores, sendo um por cada selecção, precisam de um total de 1. 092. 877 meticais, um orçamento que prevê o pagamento de passagens áreas, alojamento, alimentação, per diem e equipamento para os integrantes da delegação moçambicana.

Um pesadelo

Moçambique garantiu o apuramento ao Campeonato Mundial de Voleibol de Praia, na categoria de sub-21, em Maio do ano em curso na capital do país, Maputo. Na prova que teve lugar na praia do Costa do Sol, a selecção masculina, composta por Agostinho Tivane e Ronaldo Cuambe, terminou na segunda posição depois de derrotar o Zimbabwe, por 2 – 0, no primeiro confronto e averbar uma derrota diante do Egipto por 2 – 1.

Em femininos, as nossas representantes apuraram-se automaticamente para o “Mundial” do escalão em virtude de nenhum outro país se ter inscrito nas eliminatórias de Maputo. Na altura, recordámos, o ministro da Juventude e Desportos, Fernando Sumbana Júnior, discursou na cerimónia de abertura do evento tendo dito, entre outras coisas, que “o país está optimista na conquista de lugares de pódio, por parte das duplas moçambicanas, e a qualificação para o Campeonato do Mundo”. Contudo, as selecções não poderão viajar para o Chipre, em virtude de Moçambique, especificamente a FMV e o FPD, não disporem de fundos.

Atletas desapontados e inconsoláveis

Não há consolo possível, que não seja quatro passagens áreas para o Chipre, diga-se de passagem, que possa deter as lágrimas dos atletas. Até porque, como se sabe, foi algo que eles conseguiram com muita dedicação e esforço em Maio último.

Aliás, o @Verdade foi testemunha do quão as duas duplas se entregavam alegre e afincadamente na preparação para a referida competição na praia da Miramar e na Escola Secundária da Polana. Não faltaram artigos escritos por nós a respeito deste assunto. Aliás, é importante afirmar que os atletas foram informados de que já não poderiam viajar para o Chipre no penúltimo dia de treino intensivo. Um verdadeiro drama para quem não merece.

Falando ao @Verdade, Fáusea Mussane revelou que está muito triste e que, para ela, o voleibol perdeu interesse desde o dia em que recebeu aquela triste notícia. “Nós treinávamos de dia e de noite para darmos o nosso melhor no ‘Mundial’. Agora dizem que não há dinheiro, que por isso temos de ficar em casa. Enfim. Só podemos esperar por outras oportunidades, embora isto tudo seja desencorajador”, disse.

Fáusea não ficou só por aí. Teceu duras críticas aos dirigentes desportivos deste país na medida em que, na sua óptica, eles valorizam determinadas modalidades, obviamente marginalizando as outras. Segundo aquela atleta, “o voleibol é enteado em Moçambique. É pouco conhecido e ninguém faz absolutamente nada para contrariar isso”.

Ronaldo Cuamba, por sua vez, chegou a deitar lágrimas durante a entrevista com o @Verdade. “Fui privado de realizar um sonho. Dediquei-me com garra a pensar que vou representar condignamente a 23 milhões de habitantes. Tudo em vão. Agora resta-me ficar em casa para assistir à televisão e ver aqueles que seriam meus adversários pela televisão. Tudo por causa do dinheiro”. Ronaldo assegurou, ainda, que não vai desistir do voleibol, apesar de as instituições gestoras do desporto em Moçambique nada fazerem para valorizar quem realmente trabalha em prol do país.

“A Federação de Voleibol gastou todo o dinheiro”, responde o Governo

Ainda na sequência deste assunto, a nossa equipa de reportagem deslocou- se ao Ministério da Juventude e Desportos para ouvir a versão do Fundo de Promoção Desportiva, relativamente ao “escândalo” da não ida da selecção nacional de sub-21 ao Campeonato Mundial de Voleibol. Chegados àquela instituição, o @ Verdade expôs o assunto aos recepcionistas que, por sua vez, nos recomendaram que falássemos directamente com a directora nacional do desporto, Amélia Chavana.

Contudo, um indivíduo ligado ao Departamento de Comunicação do Ministério da Juventude e Desporto aconselhou- -nos a falar com Rui Albasine, chefe da Missão Moçambique, “a pessoa indicada para esclarecer todas as questões”. Não desistimos e fomos ao encontro deste último dirigente, cujo gabinete de trabalho se encontra nas instalações do Estádio Nacional do Zimpeto.

“Olha, no Ministério existem quatro instituições que lidam directamente com o desporto. Temos o Comité Olímpico como coordenador das federações; temos o Fundo de Promoção Desportiva que financia as federações; temos as federações que coordenam as modalidades e o Instituto Nacional do Desporto que trata das políticas desportivas do país”, adiantou Rui Albasine, que a seguir esclareceu que estas instituições acima descritas reuniram-se para discutir a ida das selecções nacionais de voleibol para os respectivos Campeonatos Mundiais.

Ainda de acordo com o chefe da Missão Moçambique, nesse referido encontro a FMV propôs a ida de quatro selecções aos “Mundiais”, nomeadamente de sub-17, sub-19, sub-21 e sub-23, sendo que, no quadro do contrato-programa existente, o Governo decidiu desembolsar os valores necessários para o efeito.

“Sucede que a Federação de Voleibol preferiu gastar todo o dinheiro na realização de Campeonatos Nacionais”, elucidou ainda Rui Albasine. Então, continuou o nosso entrevistado, “quando a federação veio exigir mais dinheiro para a participação de Moçambique nos ‘Mundiais’, isto depois de ter gasto aquilo que demos, conjuntamente adoptámos uma filosofia que consiste em dar primazia à selecção nacional de sub- 17 que deve viajar até o México”. “Portanto, é da responsabilidade da FMV criar condições para os atletas irem ao Chipre. O Governo não impediu ninguém de viajar”, concluiu Rui Albasine.


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