O Conselho de Estado supostamente convocado para avaliar a situação político-militar em que o país está mergulhado, desde o ano passado, foi um fiasco. O Chefe de Estado encheu o povo de expectativas para nada. Frustrou-se a convicção de que desse encontro podiam ser encontradas soluções conducentes à paz, uma vez que em sede do famigerado diálogo político entre o Governo e a Renamo ainda não se alcançou nenhum consenso importante para os interesses da nação e as sessões não têm um fim à vista.
A partir da altura em que o António Muchanga foi detido, por alegada incitação à violência, ficámos cativos daqueles que só sabem resolver os seus problemas a tiro. Estamos entregues à nossa própria sorte por egoísmo, prepotência e orgulho de quem não teve a discernimento suficiente para perceber que privar aquele cidadão do gozo da sua liberdade não é, neste momento, uma solução viável para o país. Já não precisamos de nenhumas provas para estarmos certos de que vêm mais balas por aí e a instabilidade vai prevalecer. Os políticos querem mais guerra no país?
É para isso que o povo os elegeu? Quando a notícia sobre a detenção do membro do Conselho de Estado e porta-voz do líder da Renamo correu o mundo como rastilho de pólvora, supostamente a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), cujo timoneiro era Augusto Paulino, não foi necessário nenhum esforço para que até os leigos entendessem que num clima político de cortar à faca, semelhante àquele em que estamos submersos, não é aconselhável a tomada de medidas extremadas.
Contudo, para quem vive em palacetes e controla até o poder judicial pouco importa o que o povo passa. Na sequência da detenção de Muchanga, o juiz que se tornou famoso julgando um caso de assassinato de Carlos Cardoso colocou o cargo à disposição por alegados problemas de saúde e o seu Chefe não se fez rogado, atendendo o seu pedido de afastamento.
Todavia, decisões como estas, tomadas depois de o leite derramar, só fazem sentido se se pensar que o magistrado está a retratar-se de um problema que lhe pesa na consciência: ser visto como o mentor da prisão de Muchanga como uma forma de prestar vassalagem ao seu líder, até porque este já ansiava por esse momento.
E não há dúvidas de que, apesar de ser o guardião da legalidade, Paulino não tinha vigor para engendrar e concretizar um plano igual sem o aval do alto magistrado da nação.
O que aconteceu no pretenso Conselho de Estado é sinal de que ter um Governo com ligações umbilicais com o partido de que provém é uma ameaça para o povo, sobretudo quando algumas pessoas que compõem aquele órgão não têm virilidade suficiente para travar medidas inconsistentes porque defendem as suas mamadeiras.
Mas o culpado por tudo isto somos todos nós que não sabemos dar um basta a este ambiente e ao hábito de viver com o coração apertado devido à gente que quando o poder lhe soube à cabeça toma medidas que nos colocam em risco e nos fazem lembrar o que já tínhamos esquecido pelos piores motivos.
Afinal de contas, quem está a incitar à violência? Ou Guebuza está a vingar-se de alguém? É desta forma que se pretende provar a Afonso Dhlakama que ele pode vir a Maputo à vontade para o encontro com o Presidente da República? E onde queremos chegar com isto, ao estágio de Angola ou da Guiné-Bissau?