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Murraracua: Um grupo de dança em regressão

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No distrito de Malema, na província de Nampula, encontram-se os membros do Grupo de Dança Murraracua, que se dedicam à educação tradicional das raparigas para a prevenção de doenças causadas pelo incumprimento das regras básicas de higiene. Porém, as dificuldades que a colectividade enfrenta têm a ver com as reduzidas possibilidades de realizar shows, o que faz com que os seus membros abandonem o agrupamento procurando por melhores condições sociais. De todos os modos, em Malema o Murraracua dispensa apresentação.

Murraracua é um grupo de dança que nasceu no prestigiado distrito de Malema. O seu nome tem profundas relações com as raízes do povo macua. Na altura, em 1985, a colectividade actuava exclusivamente na área da educação tradicional dos jovens, divulgando as regras de prevenção das doenças causadas por problemas higiénicos. Após a sua criação, a falta de condições financeiras abalou o grupo que já pensava em desistir da caminhada sem, no entanto, ter percorrido sequer metade da distância.

A dor de cabeça tinha a ver com a falta de instrumentos musicais para as suas actividades diárias. Os seus ensaios estavam condicionados porque as ferramentas musicais que utilizavam eram alugadas algures no distrito. Com alguma sorte, o agrupamento viu uma luz no fundo do túnel proveniente de um agente económico que decidiu apoiar aqueles jovens empenhados na disseminação da sua cultura.

O cidadão apoiou no campo de instrumentos musicais tradicionais. A oferta incluía dois batuques, dois tambores e um valor monetário para a aquisição do uniforme. Os instrumentos de música tradicional que receberam estimularam os integrantes do grupo de dança, de tal sorte que se esforçaram ainda mais na divulgação dos seus serviços.

Eles passaram a trabalhar sem grandes sobressaltos. Nas suas músicas e movimentos coreográficos, os bailarinos inspiram-se na vida dos seus antepassados e no sofrimento da população nas mãos do colonialismo português. Outros temas abordados têm a ver com a educação tradicional das raparigas e à divulgação da prevenção de doenças provocadas por falta de higiene básica. O grupo Murraracua teve a honra de animar os eventos da administração local de Malema.

No entanto, o programa – acordado entre a formação e o governo local – fracassou em circunstâncias desconhecidas pelos integrantes da formação. A desmotivação abalou os artistas de tal modo que alguns decidiram abandonar a promoção da cultura no distrito de Malema. Sem meios financeiros e pouco bailarinos, a colectividade observou uma pausa no seu activismo por algum tempo, que, segundo os integrantes, serviu para a reflexão sobre a situação do grupo na sociedade.

“Ficámos muito felizes quando nos convidaram a actuar nas cerimónias de acolhimento dos dirigentes do país e altas individualidades do partido Frelimo que visitam Malema. Essa alegria, que pouco durou, fez com que a nossa inspiração fosse para o fundo do poço, o que originou a crise”, afirma Alberto Pabusseco.

Os integrantes da colectividade reuniram-se a fim de que cada um revelasse a sua decisão no que diz respeito à necessidade de retomarem as actividades. Depois da discussão e troca de ideias, decidiu-se que se devia recuperar a formação. O seu reaparecimento foi coberto de várias surpresas, com enfoque para uma nova dinâmica de trabalho.

O novo Murraracua passou a transmitir mensagens sobre as causas de doenças e como preveni-las, com uma elevada carga de diversão. Nos dias festivos e comemorativos, os artistas actuavam em diversas casas de pasto. A sua nova forma enérgica de trabalhar voltou a falhar. Desta vez, o público não participava nos concertos daqueles profissionais do mundo do entretenimento cultural.

“Com o reaparecimento do nosso grupo, a dinâmica das coisas mudou. Nós pensávamos que tal transformação era no sentido positivo, mas o público surpreendeu-nos. Quando marcássemos actuações gratuitas, as pessoas quase não aderiam. De qualquer modo, não desanimámos, embora a realidade tenha abalado o nosso grupo”, refere Pabusseco.

Mesmo mergulhados num mar de incertezas, continuaram com as actividades. Portanto, em 2012, foram convidados a participar de um convívio cultural no distrito de Iapala, onde disputaram a classificação máxima com 13 grupos culturais provenientes de vários pontos de Nampula.

Refira-se que, apesar de ter de actuar com a ausência de alguns dos seus membros, o grupo de dança Murraracua venceu a competição: “Cantámos e dançámos. O público de Iapala ficou completamente encantado com o nosso trabalho. Daí que o júri não tinha outra alternativa que não fosse apurar-nos”. Embora tenham alcançado a vitória, os integrantes do Murraracua estavam inquietos devido ao facto de, na sua jurisdição, não serem acarinhados como haviam sido bem tratados em Iapala.

Conformados com a situação, voltaram à casa onde apostaram novamente na promoção das suas actividades, mas a estratégia voltou a falhar: “Estamos sempre a regredir com a nossa dança. Somos pouco apoiados pelos agentes económicos do distrito, mas nunca vamos parar de dançar e cantar porque nos inspiramos nos nossos antepassados. Estamos a perpetuar a nossa cultura”, lamenta Pabusseco.

O que agasta os Murraracua é o facto de serem mais valorizados fora do seu distrito, em detrimento do seu distrito. Isso faz com que não se sintam à vontade dentro da sua própria casa. O grupo de dança Murraracua foi apurado, recentemente, tendo em vista a sua participação no VIII Festival Nacional de Cultura, a decorrer em Agosto, na cidade de Inhambane. “Essa foi a melhor coisa que nos podia ter aconteido”, refere, visivelmente feliz, Pabusseco.


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