Tiveram lugar, no último fim-de-semana, no Estádio Nacional do Zimpeto (ENZ), provas internas de atletismo para deficientes, que tinham como objectivo a qualificação de mais atletas para o Campeonato Mundial de Atletismo do Comité Paraolímpico Internacional (IPC).
Foi, na verdade, uma festa do atletismo moçambicano que se viveu no último sábado (16) no Estádio Nacional do Zimpeto (ENZ). Havia, naquele local, cerca de uma centena de atletas da cidade de Maputo, entre eles, os fisicamente normais e os paraolímpicos.
No entanto, todas as atenções estiveram viradas para o segundo grupo, que convergiu para o ENZ com o objectivo de alcançar os mínimos que lhe possa qualificar para a maior festa do atletismo para pessoas deficientes de todo o mundo, evento marcado para Lyon, na França, de 19 a 28 de Julho do ano em curso. Nestas provas internas, nenhum atleta conseguiu atingir as marcas necessárias, facto que gerou muita tristeza no semblante de alguns, ainda que tenham atingido os seus melhores tempos.
Ainda assim, segundo o seleccionador nacional, Narciso Faquir, as provas internas vão continuar a decorrer aos fins-de-semana até ao fim do próximo mês de Abril. Contudo, Moçambique, mesmo antes destes certames, já tinha confirmado a presença na França com quatro atletas, nomeadamente Celso Simbine na categoria T-11, com um mínimo de 2 minutos e 15 segundos na corrida dos 800 metros; Edmilsa Governo, T-13, que em 400 metros chegou à marca dos 61 segundos contra os 65 necessários; Maria Muchavo, T-12, que dos 64 segundos qualificativos atingiu 62 em 400 metros e Pita Rondão, T-11, em 400 e em 800 metros.
Quanto a estes quatro atletas, Narciso Faquir disse que os mesmos têm respondido positivamente aos treinos, estando neste momento a trabalhar no aprimoramento dos aspectos técnicos de corrida, com vista a corrigir os defeitos de cada um. Aliás, segundo aquele treinador, Moçambique tem capacidade para chegar ao campeonato mundial e fazer história, conquistando os primeiros três lugares do pódio.
Atletas a caminho de Portugal
Pese embora tenham atingido os mínimos que lhes garantem a presença no campeonato de mundo de atletismo do IPC, estes quatro atletas terão de passar por um torneio em Portugal, com vista a apurar a autenticidade dos respectivos registos. Tudo porque a contagem em Moçambique obedeceu a um sistema manual por mera falta de equipamento adequado, havendo necessidade de irem a Portugal competir para uma avaliação automática e já sob a chancela do IPC.
Sobre o facto de se deslocarem a Portugal com vista a confirmar as marcas e, ainda, correrem o risco de não consumar tal objectivo, perdendo o sonho de chegar à França, Narciso Faquir tratou de desvalorizar esse facto, afirmando que “já estamos na França. Vamos a Portugal apenas para conhecer o tempo automático dos nossos atletas”.
“Temos falta de condições
“Os atletas ora qualificados, bem como os restantes que ainda tentam alcançar os mínimos, lamentaram de forma uníssona ao @Verdade o facto de não sentirem o devido apoio por parte do Governo moçambicano, até quando se é para custear despesas básicas como transporte, água e equipamento desportivo, mesmo ao serviço da selecção nacional.
Segundo os nossos interlocutores, por diversas vezes são obrigados a recorrer a fundos próprios para se fazerem aos locais de treinos. Não raras vezes, contam, o treinador é que tem custeado as despesas dos atletas.
Outra preocupação tem a ver com o estado deplorável em que se encontra a pista de atletismo do Parque dos Continuadores, cuja boa parte do piso se encontra degradada, o que, de certa maneira, prejudica a preparação, mesmo quando se sabe que eles são deficientes.
Edmilsa Governo, 15 anos de idade
É a mais nova das atletas com deficiência no país. Está nesta modalidade há sensivelmente dois anos. Diz-se muito feliz por ter atingido os mínimos qualificativos ao campeonato do mundo o que, para ela, representa o esforço e a dedicação no trabalho que vem realizando a cada dia. Promete, por outro lado, continuar a melhorar a sua marca e, a todo o custo, orgulhar o país em competições internacionais.
Compete na categoria T11, de deficientes visuais, e neste momento é a detentora do recorde nacional a nível dos 400 metros, com o tempo de 61 segundos. A sua expectativa é poder confirmar os mínimos em Portugal para poder participar no campeonato do mundo, bem como chegar à final.
Maria Elisa Muchavo, 21 anos de idade
Pratica esta modalidade desportiva há sensivelmente cinco anos. É actualmente a detentora da melhor marca na categoria T-12, de deficientes visuais, com o tempo de 62 segundos nos 400 metros.
Neste momento vive o seu sonho, construído há cinco anos: qualificar-se ao campeonato mundial pelo que, sendo a primeira vez, o seu desejo é conquistar uma medalha para o país. Em Portugal, Maria diz ir apenas para confirmar os mínimos e não para competir. Ambiciosa, até já fala dos Jogos Paraolímpicos de Rio de Janeiro, em 2016, onde promete conquistar a medalha de ouro.