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Ghorwane: uma fonte que nunca cessa

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No tempo da estiagem, os povos, particularmente os que viviam nas províncias de Gaza, Manica e Nampula, enfrentaram uma estação de fome aguda devido à fraca produção agrícola gerada, fundamentalmente, pela falta da chuva ou pela sua queda irregular. No entanto, diferentemente de alguns rios e tanques onde a água já escasseava, Ghorwane, um lago da província de Gaza, resistiu aos “maus bocados”. Foi nesse contexto que, inspirando-se nessa realidade, em 1983, se fundou a banda Ghorwane, em homenagem a esse lago que nunca seca.

 

Criado há mais de três décadas, pelos autodidactas músicos e compositores moçambicanos, Pedro Langa, Arsénio Hilário Cossa e Tchika Fernando – estes dois últimos já falecidos – a banda Ghorwane surgiu com o propósito de, através das suas músicas, consolar o povo das calamidades naturais que enfrentava ao mesmo tempo que desencorajava a guerra que assolava o país.

Com um percurso marcado pelo activismo cívico e pela consciência crítica, os Ghorwane afirmaram-se contra a estagnação artística em Moçambique, cantando nas línguas nacionais, sobretudo o xichangana.

Em preparação das festividades que marcam os 31 anos da sua existência que este ano se assinalam, em conversa com o @Verdade, o músico Roberto Chitsondzo afirmou que “esta banda foi feita de lágrimas, prantos, que sempre saem no suor do trabalho e das comemorações, e choros de sangue, quando somos injustiçados com as perdas dos nossos compatriotas”.

Neste caso “acredito que no meio de todo nosso esforço, o nosso trabalho vale mais do que qualquer dinheiro quando comparado com os calorosos abraços que, continuamente, recebemos do povo”, afirma Chitsondzo acrescentando que “o nosso grupo tem características de uma escola, onde as pessoas entram, aprendem e saem para fazer as suas vidas fora do país e/ou mesmo noutros cantos de Moçambique”.

Segundo o músico, embora afectem negativamente o rápido crescimento do grupo, essas saídas são irrelevantes porque a colectividade nunca perderá as suas forças. Na verdade, a missão da banda é trazer alegria às famílias moçambicanas. “Por exemplo, actualmente, os que têm absorvido a nossa música são pessoas que herdaram esse gosto dos seus pais”.

Contudo, para além das suas mensagens que contribuem positivamente para a mudança social, os membros do Ghorwane afirmam que as três décadas representam um misto de honra e prestígio. “O maior prémio para estes 31 anos é sentir que a banda ainda está viva. Pois todo esse caminho que percorremos, dando continuidade ao trabalho de Langa e dos outros, cantando o quotidiano do nosso povo, provou-nos que é possível sonhar e materializar as ideias”.

A fundação e a passagem do testemunho

Foi devido à preocupação de criar um novo grupo com uma nova abordagem social que, em 1983, Pedro Langa, Arsénio Hilário Cossa e Tchika Fernando abandonaram o grupo musical “Xigutsa Vuma”, na época, liderado por Simão Mazuze.

Na época, os três músicos e compositores avaliaram vários nomes, na tentativa de encontrarem o melhor e que tivesse um significado profundo e inspirador. Então, Pedro Langa, natural de Chibuto, sugeriu o nome Ghorwane em homenagem ao lago da sua zona, onde muitos petizes, na altura, aprenderam a nadar e a desenvolver várias habilidades.

“O Ghorwane surgiu numa época muito triste. Ainda me lembro de que o que havia demais nas machambas e nos mercados era o repolho e, consequentemente, em jeito de gozo, as pessoas diziam: ‘se não fosses tu oh repolho’”.

“São essas as épocas que nos marcam. O que hoje chamamos Ghorwane é fruto da união e do amor à pátria. As pessoas passam, os tempos também, mas essa banda sempre permanecerá, a fazer a música com a utilização dos mesmos instrumentos – os teclados, a guitarra, a bateria, o trompete, o saxofone, o baixo e a percussão”.
Diferentemente de alguns integrantes do Ghorwane que, infelizmente, não tiveram nenhum auxílio por parte dos artistas mais experientes aquando da sua entrada no grupo, Antoninho Baza, músico e instrumentista, foi instruído pelo seu irmão Júlio Baza, um dos fundadores da banda.

Com mais de uma década no agrupamento, actualmente, Antoninho canta e toca trompete. À semelhança do seu instrutor, o músico não poupa esforços para transmitir a sua experiência aos demais.

O baptismo dos “Bons Rapazes”

Em 1985, na ocasião da comemoração dos dez anos da independência de Moçambique, o Presidente Samora Machel chamou-os "Bons Rapazes", apelido pelo qual são conhecidos até à actualidade.
De acordo com Chitsondzo, “à semelhança de outros membros do grupo brutalmente assassinados sem justa causa, a pessoa que nos apelidou Bons Rapazes também foi vítima de tais actos. E nós como povo nunca aceitámos perder o Presidente Machel”.

Segundo conta, os preceitos de Machel ainda possuem um grande valor na sociedade moçambicana – o que é muito importante. Afinal, como ele queria, “nós continuamos a lutar contra as ‘doenças’ e pela paz. Já passámos por várias dificuldades, mas nunca pensámos em largar esse sublime título que nos foi atribuído pelo Presidente Samora”.


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