Segundo apurámos, o médico tradicional foi solicitado no distrito de Mecubúri, na província de Nampula, para livrar o agregado familiar de um cidadão de nome Francisco José do sofrimento que já perdura há vários anos. Trata-se de uma situação que se traduz em maus sonhos e doenças não diagnosticadas pela medicina convencional.
Ninguém da família consegue explicar o que, de facto, está a acontecer, mas a verdade é que é um caso muito frequente no lar. Os parentes mais próximos já apelaram para a necessidade de se realizar uma cerimónia tradicional para invocar os antepassados, o que, segundo José, já foi feito várias vezes, porém, sem sucesso.
De acordo com aquele indivíduo, a sua esposa que estava grávida, recentemente, teve um nado-morto, e o seu filho mais novo, de apenas dois anos de idade, sofre, com alguma frequência, de delírios, dores de cabeça constantes e febres. Os exames médicos não avançam nenhuma patologia. José conta ainda que a sua mulher tem sonhado com um marido espiritual, facto que o deixa inquieto.
Devido a essa situação, o casal andou de distrito em distrito a nível da região norte do país à procura de um médico tradicional que resolvesse o problema. Certo dia, a família de Francisco José recebeu informações segundo as quais existia um curandeiro em Mecubúri cujos préstimos eram excelentes, tendo sido envidado esforços no sentido de o trazer para a cidade de Nampula.
Feitiço virou contra o feiticeiro
Foi na tarde de domingo, dia 07 de Setembro do corrente ano, que o esperado médico tradicional chegou a Nampula. Ele iria realizar o trabalho na calada da noite. “Nesse dia, o jantar foi preparado muito cedo para permitir que todas as pessoas pudessem comer e serem submetidas ao tratamento, incluindo as crianças”, disse José.
Após analisar a situação daquela família, Hilário Estêvão concluiu que se tratava de maus espíritos e afirmou que havia uma maldição que era necessário quebrar. “Mas isso não é nada, eu vou resolver”, tranquilizou.
Ele começou por tratar o chefe da família e seguiu-se a sua esposa. Depois, foram os filhos do casal. Quando já estava na quarta criança, o médico tradicional gritou, por repetidas três vezes, que estava a perder a visão.
Volvidos alguns segundos, o curandeiro caiu de costas, estrebuchou e, ao mesmo tempo, expelia sangue pelas narinas, pela boca, pelos ouvidos e pelos olhos. Instalou-se um clima de tensão caracterizado por medo naquela família. O maior receio era de que o médico tradicional pudesse perder a vida naquela local. Ninguém conseguia explicar o que se estava a passar.
Desesperados, José e a sua família comunicaram o facto aos seus vizinhos e aos parentes mais próximos no sentido de estarem a par do que estava a acontecer. Refira-se que o médico tradicional permaneceu cerca de 10 horas a sangrar pela boca, pelo nariz e pelos ouvidos, além de gemer intensamente, facto que deixou as pessoas em alvoroço.
Interpretações do caso
Diante da situação, houve várias interpretações que não permitiram à família hospedeira encontrar uma solução para fazer voltar ao normal o seu médico, e concluiu-se que não se tratava de uma doença que devia ser levada ao hospital. “As pessoas não sabiam por onde começar para ultrapassar o problema”, recordou José.
Alguns indivíduos diziam que o médico tradicional decidiu “desactivar” o suposto feitiço sem, antes de tudo, fazer uma pesquisa para avaliar o problema instalado naquela residência. Por exemplo, a liderança comunitária da Unidade Comunal de Namiepe afirmou que os espíritos de Hilário Estêvão estavam zangados, alegadamente porque não são venerados.
Fernando Veloso, residente de Namiepe, suspeita tratar-se de uma vingança por parte do seu ajudante, o qual não foi convidado na viagem para a cidade de Nampula.
O médico tradicional foi enviado à sua terra natal na segunda-feira (08), depois de começar a registar melhorias no que diz respeito às alucinações. Chegados ao distrito de Mecubúri, os familiares do curandeiro decidiram procurar um outro médico tradicional, o qual informou que o problema que Hilário Estêvão enfrentava foi causado por um descontentamento por parte dos seus espíritos.
Segundo as explicações, além de ter ficado muitos anos a realizar as suas actividades sem fazer cerimónias para imortalizar os seus ancestrais, o doente decidiu contrair matrimónio sem ter respeitado os ritos locais.
O que mais irritou os seus antepassados, de acordo com os líderes comunitários locais, é o facto de Hilário e a sua esposa estarem empreender viagens para diferentes regiões da província de Nampula e do país para tratar doentes, deixando de lado o ajudante, por sinal seu sobrinho.