Um médico tradicional identificado pelo nome de Hilário Estêvão, de 30 anos de idade, natural de Mecubúri, tentou, no passado dia 07 de Setembro do ano em curso, expulsar os maus espíritos que assombram uma família em Namiepe, arredores da cidade de Nampula. Na altura em que procedia ao tratamento, ele caiu de costas e, de seguida, começou a expelir sangue pela boca, pelo nariz, pelos olhos e pelos ouvidos. Neste momento, o referido curandeiro está entre a vida e a morte.
Segundo apurámos, o médico tradicional foi solicitado no distrito de Mecubúri, na província de Nampula, para livrar o agregado familiar de um cidadão de nome Francisco José do sofrimento que já perdura há vários anos.
Trata-se de uma situação que se traduz em maus sonhos e doenças não diagnosticadas pela medicina convencional. Ninguém da família consegue explicar o que, de facto, está a acontecer, mas a verdade é que é um caso muito frequente no lar. Os parentes mais próximos já apelaram para a necessidade de se realizar uma cerimónia tradicional para invocar os antepassados, o que, segundo José, já foi feito várias vezes, porém, sem sucesso.
De acordo com aquele indivíduo, a sua esposa que estava grávida, recentemente, teve um nado-morto, e o seu filho mais novo, de apenas dois anos de idade, sofre, com alguma frequência, de delírios, dores de cabeça constantes e febres. Os exames médicos não avançam nenhuma patologia. José conta ainda que a sua mulher tem sonhado com um marido espiritual, facto que o deixa inquieto.
Devido a essa situação, o casal andou de distrito em distrito a nível da região norte do país à procura de um médico tradicional que resolvesse o problema. Certo dia, a família de Francisco José recebeu informações segundo as quais existia um curandeiro em Mecubúri cujos préstimos eram excelentes, tendo sido envidado esforços no sentido de o trazer para a cidade de Nampula.
Feitiço virou contra o feiticeiro
Foi na tarde de domingo, dia 07 de Setembro do corrente ano, que o esperado médico tradicional chegou a Nampula. Ele iria realizar o trabalho na calada da noite. “Nesse dia, o jantar foi preparado muito cedo para permitir que todas as pessoas pudessem comer e serem submetidas ao tratamento, incluindo as crianças”, disse José.
Após analisar a situação daquela família, Hilário Estêvão concluiu que se tratava de maus espíritos e afirmou que havia uma maldição que era necessário quebrar. “Mas isso não é nada, eu vou resolver”, tranquilizou. Ele começou por tratar o chefe da família e seguiu-se a sua esposa. Depois, foram os filhos do casal.
Quando já estava na quarta criança, o médico tradicional gritou, por repetidas três vezes, que estava a perder a visão. Volvidos alguns segundos, o curandeiro caiu de costas, estrebuchou e, ao mesmo tempo, expelia sangue pelas narinas, pela boca, pelos ouvidos e pelos olhos. Instalou-se um clima de tensão caracterizado por medo naquela família.
O maior receio era de que o médico tradicional pudesse perder a vida naquela local. Ninguém conseguia explicar o que se estava a passar. Desesperados, José e a sua família comunicaram o facto aos seus vizinhos e aos parentes mais próximos no sentido de estarem a par do que estava a acontecer. Refira-se que o médico tradicional permaneceu cerca de 10 horas a sangrar pela boca, pelo nariz e pelos ouvidos, além de gemer intensamente, facto que deixou as pessoas em alvoroço.
Interpretações do caso
Diante da situação, houve várias interpretações que não permitiram à família hospedeira encontrar uma solução para fazer voltar ao normal o seu médico, e concluiu-se que não se tratava de uma doença que devia ser levada ao hospital. “As pessoas não sabiam por onde começar para ultrapassar o problema”, recordou José.
Alguns indivíduos diziam que o médico tradicional decidiu “desactivar” o suposto feitiço sem, antes de tudo, fazer uma pesquisa para avaliar o problema instalado naquela residência. Por exemplo, a liderança comunitária da Unidade Comunal de Namiepe afirmou que os espíritos de Hilário Estêvão estavam zangados, alegadamente porque não são venerados.
Fernando Veloso, residente de Namiepe, suspeita tratar-se de uma vingança por parte do seu ajudante, o qual não foi convidado na viagem para a cidade de Nampula. O médico tradicional foi enviado à sua terra natal na segunda-feira (08), depois de começar a registar melhorias no que diz respeito às alucinações. Chegados ao distrito de Mecubúri, os familiares do curandeiro decidiram procurar um outro médico tradicional, o qual informou que o problema que Hilário Estêvão enfrentava foi causado por um descontentamento por parte dos seus espíritos.
Segundo as explicações, além de ter ficado muitos anos a realizar as suas actividades sem fazer cerimónias para imortalizar os seus ancestrais, o doente decidiu contrair matrimónio sem ter respeitado os ritos locais. O que mais irritou os seus antepassados, de acordo com os líderes comunitários locais, é o facto de Hilário e a sua esposa estarem empreender viagens para diferentes regiões da província de Nampula e do país para tratar doentes, deixando de lado o ajudante, por sinal seu sobrinho.