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Malabarismo à moda macua!

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Nos últimos tempos, o malabarismo tem estado a ganhar outras feições, dado que, além de se empregar as bolinhas, os artistas decidiram utilizar garrafas, argolas, facas, entre outros instrumentos. Porém, a Casa Velha de Nampula decidiu associar aos malabares a dança tradicional local, proporcionando ao público um diversão à moda macua.

As tendências de malabarismo têm um longo historial. Na verdade, essas narrativas sujeitam-nos a uma reflexão profunda sobre o surgimento dessa actividade artística, na era 2000 antes de Cristo (a.C).

No entanto, os países como Índia, China, Grécia, Roma, Tebas e em outras regiões da Europa são tidos como os pioneiros daquelas acções, pois os antropólogos descobriram a essência do equilibrismo na era antiga, durante as suas pesquisas nas tumbas, em forma de ilustrações, pinturas e livros.

Na cidade de Nampula, a história do malabarismo começa a ganhar terreno no ano 2000, aquando da visita dos palhaços sem-fronteiras à Casa Velha. Importa referir que a maioria dos praticantes de malabarismo, naquela instituição cultural, não teve uma formação específica sobre as técnicas e as regras.

Além de dotar de conhecimentos sólidos sobre o malabarismo, o grupo de palhaços sem-fronteiras doou materiais aos artistas nampulenses. Contudo, um outro cidadão, de origem espanhola, comovido com as dificuldades que os malabaristas enfrentavam durante as suas actividades, decidiu oferecer um livro de malabarismo.

Foi, portanto, através de um manual trazido pelo espanhol, amigo da Casa Velha, que os membros daquela colectividade começaram a praticar o malabarismo, embora de forma precária. Porém, mesmo com o referido livro e os instrumentos oferecidos pelos palhaços sem-fronteiras, as actividades não correram como estava previsto. Os recursos eram escassos e os membros começaram a abandonar aquela arte.

Novos tempos, novas tendências

“O malabarismo à moda macua” é, na verdade, uma estratégia criada pela direcção da Casa Velha, com vista a ludibriar algumas exigências do ramo de malabarismo, de modo a fazer face à falta de recursos materiais, assim como financeiros. Volvidos cerca de 13 anos, a Casa Velha decidiu revitalizar o malabarismo.

Mas, desta feita, optou por apostar na formação de petizes, devido às habilidades que as crianças possuem no âmbito da aprendizagem e implementação dos conhecimentos adquiridos durante a capacitação.

Em entrevista ao @Verdade, o representante daquela instituição cultural e professor de acrobacia, Lurde Tomo, mostra como esta arte está inserida na sociedade nos dias que correm, para além de contar como surgiu a ideia de criar um malabarismo à moda macua. Cientes de que a missão de revitalizar o malabarismo não é tarefa fácil, devido à escassez de materiais, os membros de direcção da Casa Velha de Nampula decidiram associar às artes a música tradicional.

As canções são entoadas em emakua, língua local, ao som de batuque, e os nove petizes que compõem o agrupamento vão dando corpo às ideias propostas para a modernização daquela actividade artística face às dificuldades inerentes. Tomo afirma que, não obstante as desistências que mancharam aquela actividade, “estamos perante uma nova era em que somos obrigados a esquecer e a limpar as nódoas do passado para enfrentarmos os desafios do presente”.

O sangue novo

A categoria “novos talentos” surgiu no ano de 2013, mercê de um trabalho que vinha sendo levado a cabo pela Casa Velha, nas escolas da cidade de Nampula e arredores. Geralmente, o malabarismo é conhecido na infância pela maioria das crianças através das artes circenses – embora a pequenada da cidade de Nampula não faça parte desse grupo – e em cada esquina é possível deparar com alguém a fazer malabarismo em troca de algum tostão.

Aos 11 anos de idade, Dalvo Feliciano, com apenas um ano de experiência, é, senão o melhor, um dos mais destacados novos talentos. O seu primeiro contacto com o malabarismo ocorreu no ano passado, a convite dos seus amigos que apreciavam as suas capacidades naquela área.

Todos os dias, quando são sensivelmente 15h00, Dalvo recorre ao recinto da Casa Velha para ensaiar e aperfeiçoar as suas habilidades, à semelhança de outros artistas já conhecidos no mundo do malabarismo. O menor afirma ter talento para ser malabarista e, acima de tudo, caso consiga alcançar os seus objectivos quando for adulto, prevê passear a sua classe na diáspora.

As suas habilidades sobre o monociclo e cilindros de equilíbrio fazem de Dalvo Feliciano um verdadeiro artista em ascensão. Porém, o pequeno malabarista está ciente de que a sua profissionalização depende da sua força e de muito empenho. O menor disse que conta com o apoio dos seus pais, razão pela qual não encontra motivos para abandonar o sonho.

“Queremos apostar na criação de um circo”

Segundo os membros da Casa Velha de Nampula, numa primeira fase, depois da formação dos miúdos, seguir-se-á uma nova etapa que é a da criação de um circo. Mas, essa particularidade, consta no cronograma de actividades, estando, todavia, a sua materialização condicionada à falta de fundos.

Se, por um lado, se nota uma afluência considerável de petizes às actividades de formação de novos membros, por outro, a necessidade de se procurar um espaço ainda maior fala mais alto no seio dos artistas e da direcção da Casa Velha em particular.

Órfãos de apoio

De acordo com Tomo, é comum que as crianças se interessem, num primeiro momento, por este tipo de projecto, mas sem um suporte adequado, algo como uma actividade extra que lhes possa motivar, elas acabam por se distanciar das artes ou por não se dedicarem de coração aberto.

É importante repisar que os artistas trabalham com meios próprios, porém, as lembranças de um passado não tão distante entristece os malabaristas, pois, além de os seus materiais serem antiquados, não beneficiam de quaisquer ajudas externas, tanto das empresas privadas como das instituições do Estado.

A situação arrasta-se desde 2001 e, até hoje, nada mais resta senão recorrer às contribuições dos integrantes da Casa Velha. Apesar dos desafios e das dificuldades que a colectividade enfrenta, Tomo e a sua equipa estão cientes de que “o único lugar onde o secesso vem antes do trabalho é no dicionário”.


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