Os propósitos que semanalmente levam o Governo e a Renamo a manterem encontros no Centro Internacional de Conferência Joaquim Chissano (CICJC) em Maputo estão literalmente preteridos, há mais de um mês. Os pontos que dizem respeito à integração dos homens residuais do maior partido de oposição em Moçambique nas Forças de Defesa e Segurança (FDS) e a despartidarização do Aparelho do Estado, por exemplo, parecem constituir o “nó górdio” na medida em que as discussões terminam com um impasse. Quando no fim da ronda não há nada relevante a dizer ao povo, o “subterfúgio” é a troca de acusações. E foi que se assistiu no na 89ª ronda.
José Pacheco, chefe da delegação do Governo no diálogo político, acusa Dhlakama de, num acto deliberado e reiterado de incitação à violência, estar a violar o acordo de cessação das hostilidades assinado a 05 de Setembro ultimo em Maputo, ao defender que não aceita os resultados eleitorais, o processo foi um embuste, deve-se recontar os votos ou formar-se o tal “Governo de gestão”.
Pacheco disse que o Executivo repudia a atitude do líder da Renamo e exortou para que ele observe a Constituição da República de Moçambique e respeite o acordo assinado com Armando Guebuza, Presidente da República. Saimone Macuiana, chefe da delegação da Renamo, rebateu as declarações de Pacheco que as acusações de Pacheco não têm fundamento porque Dhlakama recorreu aos comícios para apelar à população a manter calma. “Em nenhum momento Dhlakama violou o acordo”.
Num outro desenvolvimento, Pacheco afirmou que 20 homens das forças residuais da Renamo, provenientes da província do Niassa, foram interpelados pelas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) quando atravessavam em direcção a região sul do país. Esta situação contraria o espírito e a letra do acordo de cessação das hostilidades, uma vez que sempre que a “Perdiz” pretender movimentar os seus elementos deve notificar o Executivo. Macuiana explicou que os homens das forças residuais da Renamo têm estado a trabalhar desde que Dhlakama saiu de Santhugira para a capital do país. As pessoas em causa saíram do Niassa, passaram por vários pontos e agora estão em Vilankulo com o líder do partido.
Afonso Dhlakama, líder da Renamo, efectuou um périplo pelas províncias onde teve maior aceitação nas eleições de 15 de Outubro passado com a intenção de explicar à população a sua recusa em reconhecer os resultados do escrutínio, que segundo a Comissão Nacional de Eleições (CNE) foi ganho pelo partido no poder, a Frelimo.
No seu contacto com a população, Dhlakama defende a necessidade de se formar um “Governo de gestão” para governar junto com a Frelimo. Caso contrário, a “Perdiz” vai governar à força nas províncias onde teve maior número de votos que os outros candidatos, nomeadamente Filipe Nyusi e Daviz Simango.
Relativamente à despartidarização do Aparelho do Estado, as partes dizem que ainda se está a fazer consultas internas para a conclusão do documento a ser usado para a declaração dos princípios das matérias relacionados com o assunto.