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Abastecimento de água exclui o saneamento em Moçambique

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Em Moçambique, 72% da população ainda defeca a céu aberto por falta de latrinas. Nas zonas rurais, 86% enfrenta o mesmo problema e 43% na área urbana. Deste modo, mesmo que se assegure o acesso a água potável para toda a gente, erradicar a cólera, uma doença infecto-contagiosa resultante da falta de higiene, será um bico-de-obra, mormente porque os esforços empreendidos com vista a prover o precioso líquido para os moçambicanos excluem a questão do saneamento do meio.

Os fundos mobilizados dentro e fora do país para prover o preciso líquido para as populações pouca vezes ou em nenhum caso inclui a questão do saneamento do meio, para além de que impera uma descoordenação entre as instituições que lidam com esta matéria.

No mundo, o país é considerado como o que apresenta as condições mais deploráveis no diz respeito à limpeza e a defecação ao relento prevalece um calcanhares de Aquiles. Na Zambézia, 77% da população faz necessidades maiores a céu aberto. 60% dos habitantes de Tete, 50% em Sofala, 43% em Nampula e 37% em Manica passam pelo mesmo problema. Situação similar acontece em Cabo Delgado, Gaza, Inhambane e Maputo, onde 25%, 20%, 13% e 07%, respectivamente não dispõem de vasos sanitários, segundo a WaterAid, uma organização não-governamental internacional que actua na transformação de vidas com vista a melhorar o acesso à água segura, à higiene e ao saneamento nas comunidades mais pobres.

Artur Manuel, daquela instituição, considera que em 40 anos de independência de Moçambique não faz sentido a cólera continuar a ser um problema de saúde pública, por causa da precariedade do saneamento do meio.

Em relação às outras nações no tange ao abastecimento de água potável, o país está numa posição privilegiada, mas já não se pode dizer a mesma coisa sobre a limpeza, o asseio e o sistema de canalização e esgotos. A Direcção Nacional de Águas (DNA) indica que todos os anos o Estado gasta, em média, quatro mil milhões de meticais por causa desta situação.

Enquanto isso, na localidade de Mafuiane, no distrito de Namaacha, província de Maputo, obter água para o consumo é também um bico-de-obra. A população local recorre ao rio Umbeluzi para lavar a roupa, tomar banho e encher vasilhas para o consumo e várias actividades domésticas. É um sofrimento que apoquenta 5.367 habitantes e que está longe do imaginário de quem governa o país porque só sabe desta situação através de relatórios “maquilhados” pelas autoridades locais.

Naquele curso de água natural, contaminada por produtos contidos no sabão que a população usa para lavar a roupa, as pessoas, na sua maioria compostas por mulheres adultas e crianças, arremessam peças de vestuário que já não precisam e a corrente do rio se encarrega de arrastar para longe dali. “Isto não fica aqui porque a água está sempre a correr”, disse ao @Verdade uma senhora que se identificou pelo nome de Matilde Ngulele, residente quarteirão 01 de Mafuiane.

Alguns petizes, sobretudo meninas, narraram que percorrem uma distância relativamente longa entre o rio e as suas residências com latas de água na cabeça. Transportar tal líquido numa carinha de mão, o famoso “tchova xi ta duma”, é impraticável porque o caminho tem uma elevação acentuada no regresso.

Em condições como estas, ter uma viatura, mormente um camião, é um luxo. Xadreque Capitine, residente em Massaca, no município de Boane, é uma das poucas pessoas que gozam desse benefício. “Vim encher o tanque porque na minha zona há falta de água. Este tanque tem uma capacidade de três mil litros e posso ficar uma semana sem precisar vir cá todos os dias”.


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