Despesismo e má aplicação de fundos, gestão irresponsável do património, abuso de poder, atropelos aos estatutos e a directivas e comportamentos desviantes são alguns problemas de que enferma a Organização da Juventude Moçambicana (OJM), braço direito do partido Frelimo e que o apoia incondicionalmente há 38 anos.
Para além de outros gastos considerados excessivos, desnecessários, descontrolados e não claramente fundamentados, em 2014, o secretariado do Comité Central gastou pelo menos 1.699.900 meticais com a campanha eleitoral mas não existe menção concreta e clara às acções realizadas e este valor “é bastante elevado” para o que foi feito.
Houve também gastos de 1.510.937,34 com as passagens aéreas e ajudas de custo mas nenhuma explicação foi dada ao Conselho Nacional de Jurisdição (CNJ) nem se os montantes têm alguma relação. Aliás, ainda naquele ano, para mostrar a sua serventia o concidadão que hoje é Chefe do Estado, prática que, também, tinha como fim garantir o tacho, o secretariado da OJM gastou mais de um milhão de meticais numa tal meia maratona “Filipe Jacinto Nyusi”.
Os montantes acima referidos não foram satisfatoriamente justificados, o que deixa o CNJ, um órgão independente de disciplina, fiscalização e controlo do cumprimento dos estatutos, dos programas, regulamentos, deliberações daquele braço juvenil e do comportamento dos titulares dos órgãos e da observância da lei, céptico quanto às despesas efectuadas e com a sensação de que “os fundos da organização estão a ser gastos de forma indiscriminada e sem justificação convincente” e orienta que se realize imediatamente uma auditoria às contas da OJM.
Ademais, o relatório do movimento aos seus correlegionários fala de “pagamento de despesas de representação”, mas não especifica em benefício de quem foram feitas e que instrumento orienta tal prática visto que o CNJ não tem nenhuma informação e em relatórios passados nunca foi referido este procedimento despesista e nocivo à organização.
Quando o CNJ lançou os olhos ao relatório de actividades da OJM, apresentado na V Sessão do Comité Central realizado no último fim-de-semana em Gaza, constatou uma série de irregularidades decorrentes, em parte, da falta da disponibilização de relatórios de actividades e de contas mensais do secretariado do Comité Central.
Pedro Cossa, secretário-geral daquele organismo e também deputado na Assembleia da República (AR) pela bancada Frelimo e Feliz Avelino Silva, que sozinho responde pelas áreas das Finanças e Recursos Humanos, são alguns rostos do caso em questão, consubstanciado pela compra, sem concurso público nem anuência do CNJ, de cinco viaturas para benefício exclusivo e pessoal dos membros do secretariado sem planificação e aprovação pelo Comité Central, deixando de fora actividades de extrema relevância política e previamente aprovadas.
Pedro Cossa usa e abusa de três carros em sua posse, os quais já são meios de transporte da sua família com direito a motorista pago com fundos do organismo que dirige.
“Preocupa ao CNJ o facto de as viaturas da organização serem utilizadas por pessoas estranhas à OJM, em detrimento dos funcionários, enquanto os membros do CNJ não possuem nenhuma viatura de trabalho, o que dificulta este órgão de desenvolver as suas actividades com normalidade”.
A OJM está a emprestar dinheiro aos trabalhadores, porém, “não indica os benificiários nem as modalidades de retorno de tais valores, o que é uma violação extrema pois esta não é vocação da organização”, segundo o CNJ.