Jaime Timana, de 56 anos de idade, afecto ao Laboratório Central de Criminalística da Polícia de Investigação Criminal (PIC), sito na Avenida Ahmed Sekou Touré em Maputo, está deito desde a última sexta-feira (05), acusado de roubo de quatro armas de fogo do tipo pistola naquelas instalações e vendeu pelo menos três a 10 mil meticais cada, com a ajuda de uma amante, a um cidadão apenas identificado pelo nome de Arone, residente no distrito de Moamba, província de Maputo.
O visado, com 36 anos de trabalho naquele sector e chefe de secção técnica criminal, está enclausurado na 15ª esquadra (no bairro 25 de Junho). Ele negou todas as acusações que pesam sobre si, mas a sua cúmplice, identificada pelo nome de Joana Henriqueta, de 49 anos de idade, uma enfermeira afecta ao Hospital Geral da Machava, detida na mesma subunidade da Polícia, confirmou o crime e acrescentou que recebeu ordens para procurar clientes, pois teria uma comissão por cada instrumento bélico vendido.
“Procurei um cliente residente em Moamba, chamado Arone, que comprou três armas. A quarta arma foi encontrada comigo. Neste caso a minha comissão era de apenas 1.500 meticais por cada arma vendida”, explicou Henriqueta.
Entretanto, Jaime, apontado como o cabecilha do grupo que saqueava armas do Laboratório Central de Criminalística para venda, disse que é inocente e não entende os motivos que levam a sua amante a acusá-lo de ter praticado um crime desta natureza. Na sua opinião, talvez o erro tenha sido o facto de se ter envolvido amorosamente com Henriqueta, mas relação terminou este ano, por isso, ela deve estar “insatisfeita”.
Eis uma das provas que explica por que razão temos tantos instrumentos bélicos em poder de malfeitores e o crime tem sido difícil de combater no país, mormente nos centros urbanos.
Cremildo Alberto, de 34 anos de idade, cobrador de um “chapa”, igualmente preso na 15ª esquadra, afirma estar naquela situação porque, tal como Henriqueta, a sua tarefa era procurar gente interessada em comprar armas e ganhava 1.100 meticais.
Outro cidadão, que responde pelo nome de Arão Vilanculo, de 54 anos de idade, trabalhador da Cruz Vermelha de Moçambique (CVM) e que desempenhava a função de técnico distrital, está detido devido ao mesmo crime que pesa sobre Cremildo.
De acordo com os acusados, o presumível cliente identificado pelo nome de Arone comprou as armas para fornecê-las a pessoas desconhecidas para auto-defesa na República da África do Sul, alegadamente porque os sul-africanos são violentos.
Para além dos dois indivíduos acima referidos, a Polícia da República de Moçambique (PRM) deteve, também, na 1ª esquadra (na zona baixa de Maputo), dois agentes da PIC cujos nomes não nos foram revelados. Os visados exercem esta profissão há três anos; porém, eles são indiciados de roubo de viatura com recurso a armas de fogo na via pública, o que denuncia um claro abuso de poder.
Orlando Mudumane, porta-voz do comando da PRM em Maputo, disse à Imprensa, na segunda-feira (08), que Timana roubava e comercializava as armas que eram apreendidas em algumas operações e que eram, posteriormente, submetidas a análises laboratoriais. Os instrumentos em causa eram vendidos a grupos de criminosos, tais como raptores, assaltantes de residências, estabelecimentos comerciais e viaturas.
“Infelizmente, a PRM continua a registar situações de indivíduos infiltrados na corporação que nem sequer deveriam ter sido treinados para serem polícias. Mas há um trabalho intenso que está a ser feito no sentido de purificar as fileiras e deter elementos que não conseguem conviver de acordo com a disciplina policial”.
Mudumane disse ainda que no total foram 10 as armas de fogo apreendidas nas mãos dos indiciados e, provavelmente, existam mais. Por isso, a corporação está a apurar a quantidade de artefactos que terão saído clandestinamente do Laboratório Central de Criminalística para serem vendidas e também está no encalço de mais indivíduos a monte.