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SELO: A falsificação do uniforme escolar e a crise na relação entre professor/aluno - Por Ivan Maússe

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A alínea a) do artigo 45º da Constituição da República de Moçambique, sustenta que “todo o cidadão tem o dever de servir a comunidade nacional, pondo ao seu serviço as suas capacidades físicas e intelectuais”.

Deste modo, surge o presente artigo como um contributo intelectual sobre três questões de interesse nacional: (i) a falsificação do uniforme escolar por intermédio de jovens alunos dos níveis primário e secundário; e (ii) a vertiginosa e vergonhosa mudança que se operou a nível das relações professor e aluno; e (iii) os desafios para o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano.

No mundo actual, devido às novas tendências da globalização, associadas ao modernismo e ao capitalismo, a ética, a moral, os bons modos, a cortesia e outros valores afins têm sido atropelados. O fenómeno da moda, por exemplo, acabou por invadir o contexto escolar moçambicano e, por causa dele, o uniforme escolar (que há muito deixou de sê-lo, senão um atentado ao pudor) foi alvo de exuberantes críticas e adulterações. Afinal, uniforme escolar implica a existência de um padrão (modelo ou feito) de roupa que deve ser vestido em unanimidade por todos os alunos de uma escola.

Mas, por causa do bicho da moda que persegue a juventude, hoje, numa mesma escola encontramos muitos modelos e feitios de uniforme escolar. Não se vê a utilidade prática do regulamento interno estampado nas vitrines das escolas. Ninguém o obedece. Os alunos apresentam-se no recinto escolar a seu bel-prazer. Em nome da moda eles adulteram o fardamento porque os ditames da moda assim mandam, sem falar dos cortes efectuados no cabelo, dos penteados, das tranças e dos sapatos extravagantes. Afinal, a ideia é ganhar estilo; é, igualmente, estar na moda: É gozar da juventude a todos os níveis e, as alunas então, apresentam-se no recinto escolar como se de um bordel se tratasse: Vestem saias curtas, tecidos transparentes, colantes e bóxeres para a sala de educação física e negligenciam em pleno o regulamento escolar, para a felicidade dos colegas e daqueles professores-sem-vergonha.

Não há dúvida que, de uns tempos para cá, operou-se mudanças negativas no relacionamento entre o professor e o aluno e vice-versa. Sobre isso, Evaristo Maússe, um notável jovem no mundo das letras, escreveu, a 13 de Dezembro de 2014, um artigo intitulado «Sobre os chumbassos da 1ª época», disponível no “Consultório Filosófico” do Facebook, no qual denunciava os factores relacionados às reprovações em massa havidas nos exames de primeira época, na 10ª e 12ª classes, em 2014.

Nas laudas de Maússe percebe-se que os actuais professores têm comportamentos nocivos ao processo de ensino-aprendizagem. Ultimamente, o professor é “amigo” dos seus estudantes. Ele deixou de ser uma autoridade e tornou-se vulgar; o professor de hoje é aquele que consome bebidas alcoólicas com o seu aluno na barraca; é aquele que pede para o seu aluno lhe arranjar de meninas (suas alunas) para se envolver com elas. O professor é amante de suas alunas, muitas delas menores de idade. É um professor preocupado com apetites carnais e materiais, que manda os seus alunos saldarem as suas despesas domésticas em troco de notas. “A pedagogia virou um autêntico negócio”, remata Maússe.

Outro aspecto preocupante, nesse relacionamento, está a associado ao fenómeno de “bordelização” do espaço escolar, conforme refere Bitone Viage, no seu artigo «Fungulamphisso 1 - as escolas do século XXI no contexto doméstico em vias de bordelização colectiva», publicado a 02 de Fevereiro de 2015 e disponível no grupo “Consultório Filosófico” do Facebook.

As meninas que vestem saias que “carecem de pano” para cobrir as partes de seu corpo vão à escola como quem se dirige a um bordel e, isso faz com que os professores prosseguidores de apetites carnais olhem para as suas alunas como instrumentos de sexo: assédio sexual. “Os professores abusam da fraqueza em termos de género, deficiência em apreensão de conhecimentos das suas alunas para torná-las presas sexuais desprevenidas e, portanto, susceptíveis de abate e consumo urgente, imediato e a custo zero”, remata Viage.

A outra questão tem a ver com as novas relações penosas entre o professor e o aluno e está associada à fragilidade de se criar formas para a venda de testes e exames, o que cria situações de preguiça mental nos alunos. Este comportamento, infelizmente, chegou nas nossas universidades, sobretudo nas de ensino privado que proliferam no nosso país, o que faz com que os indivíduos distraídos confundam isso com desenvolvimento.

Assim, devido aos aspectos acima descritos, o que temos são reprovações em massa, tal como sugere Maússe, ou ainda falsas aprovações em que, consequentemente, acabamos por ter pessoas, em massa, formadas em determinadas áreas, mas que não possuem competências nenhumas. Esse tipo de pessoas acaba por ser um obstáculo ao processo de desenvolvimento do nosso país, pois, por ironia do destino, as pessoas mal formadas e incompetentes são as que têm a “sorte” de ser empregues em detrimento das competentes.

Arrolados os problemas que apoquentam a boa saúde do nosso sistema de educação, urge a necessidade de propor medidas de solução destes e outros obstáculos aqui não mencionados. Neste sentido, entendo que cabe ao Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, dirigido por Jorge Ferrão, tomar as devidas medidas para travar, por um lado, a adulteração cada vez mais massiva do uniforme escolar e, por outro, a proliferação de bandidos (muitos deles pedófilos) vestindo a bata branca e com o giz na mão, fazendo-se passar por professores para prosseguirem os fins viciosos, enquanto deviam ser o espelho da sociedade, tal como o foi nos primórdios.

Se a escola é um local de aprendizagem e formação do homem novo, dos bons modos, do saber de ser, de estar, de pensar, e portanto, do homem culto, os professores e as direcções das escolas devem tomar medidas severas para travar esse fenómeno que corre a um ritmo desenfreado, sob o risco de no futuro termos profissionais que se apresentam ao seu posto de trabalho vestidos pornograficamente, como um hábito que os mesmos transportam desde o ensino secundário. Assim, é urgente que se aprove um modelo de uniforme decente, que seja válido para todas as escolas e que o seu cumprimento seja um imperativo, como forma de preservar os bons modos de apresentação nas nossas instituições.

Neste sentido, que se faça uma selecção rigorosa do corpo docente, sobretudo, dos tantos jovens que se formam para a docência e, paralelamente, que se criem políticas, leis, decretos que punam sem dó nem piedade os “senhores professores” corruptos, sem vergonha e que “bordelizam” o ensino; é preciso que se institua um regime fiscalizador muito sério e comprometido com a ética e deontologia profissional. Deve-se “olhar bem para a qualidade de ensino” e dos professores contratados e, se possível, fazer-se “um teste de capacidade mental para os docentes leccionarem sem olhar para o tamanho do busto das suas alunas”, diz Maússe.

Portanto, para o efeito, é preciso que a sociedade, a família e a escola, em conjunto, trabalhem para o contínuo e progressivo aperfeiçoamento da conduta dos seus educandos, travando a bebedeira entre os alunos, vulgarização do uniforme escolar. Todos os agentes de educação são chamados para travar esses fenómenos.

Por Ivan Maússe


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