Os camponeses do povoado de Niaro, a 15 quilómetros da cidade de Nampula, produziram uma quantidade signifi cativa de mandioca, porém, está a apodrecer nas suas machambas devido à acção nefasta, desde o ano passado, de alguns agentes biológicos responsáveis pela deterioração severa deste tipo de cultura, que constitui a principal base de alimentação da população local. Por via desta situação, mais de 500 famílias residentes naquela pequena localidade do território moçambicano receiam passar fome nos próximos dias caso não haja medidas no sentido de resolver o problema que tende a alastrar-se.
Refira-se que alguns agentes, dos mais comuns, que causam a putrefacção radicular da mandioca são o Phytophthora spp (normalmente ataca a cultura na fase adulta), o Fusarium solani (os sintomas podem ocorrer em qualquer estado do desenvolvimento da planta e raramente originam danos directos às raízes) e o Pythium scleroteichum (provoca danos mais acentuados nos plantios de mandioca em áreas sujeitas a encharcamentos).
Segundo os agricultores, apesar de habitualmente se obter uma produção em quantidades consideráveis, desde o ano passado regista-se uma redução assinalável, facto que abre espaço para a eclosão de bolsas de fome, uma vez que os excedentes são insuficientes para alimentar os seus agregados familiares de uma época agrícola para a outra.
De 2010 a esta parte, colher entre cinco e 10 sacos de mandioca de 50 quilogramas tem sido difícil mesmo quando a área cultivada é extensa. Na campanha 2011/2012, o apodrecimento da raiz desta planta usada na alimentação e da qual se extrai uma fécula nutritiva com que se faz a tapioca começou a ganhar contornos alarmantes, por isso a safra não ultrapassa os três sacos de 50 quilos.
Ancha Ramos, de 35 anos de idade, possui uma porção de terra estimada em um hectare, na qual produz diversos produtos tais como amendoim, feijão e mandioca. Normalmente, caminha seis horas para chegar à sua machamba, mas considera que o esforço empreendido está a ser insignificante na medida em que o que colhe nos últimos tempos já não é suficiente para garantir o sustento da sua família, pelo menos por um período de sete a oito meses.
“Estamos mal devido à podridão da mandioca, as folhas das plantas ficam afectadas pela doença e não servem para preparar caril, para além de que a própria mandioca é amarga”, disse a nossa fonte.
Neste momento, a mandioca consumida em Niaro é conhecida, em língua Emakua, por “Nassuruma”, “Nammuishi”, “Mpova Takua”, dentre outras variedades que são consideradas bastante amargas e prejudiciais à saúde do Homem, uma vez que supostamente provocam doenças tais como hérnia e paralisia.
A nossa interlocutora disse que tem conhecimentos sólidos sobre a rotação de culturas, em particular de estacas daquele tubérculo, no sentido de evitar a sua deterioração, mas não pode arriscar a fazê- -lo sem antes ouvir a opinião dos técnicos do sector agrário, os quais ainda não se pronunciaram sobre o assunto.
A nossa Reportagem constatou que no povoado de Niaro a população transforma a raiz desta planta usada na alimentação em farinha, cujo processamento é feito com recurso a meios tradicionais e inadequados devido à ausência de fábricas de moagem, facto que em parte é originado por falta de energia eléctrica.
Natália Manuel, também residente de Niaro, narrou que no ano passado acumulou prejuízos na medida em que mais de metade da safra colhida estava deteriorada. A partir dessa altura começou a enfrentar dificuldades para alimentar a sua família que não tem nenhuma outra fonte de rendimento senão a actividade agrícola. Neste contexto, pede que o sector da agricultura faça alguma coisa para resolver o problema e forneça variedades de estacas de mandioca tolerantes à podridão.
Alternativas para contornar a fome
Devido aos prejuízos decorrentes desta actividade, alguns camponeses recorrem ao comércio informal de lenha, carvão vegetal, capim, amendoim, entre outros bens, como forma de se prevenirem de uma eventual crise alimentar. Os rendimentos são aplicados essencialmente em dois produtos básicos que não podem faltar nos reservatórios domésticos: farinha de milho e arroz.
Ancha Ramos sai de casa em direcção ao centro da cidade por volta das três horas de madrugada e deixa dois filhos menores de idade. À cabeça leva a sua mercadoria e circula pelos principais mercados com o intuito de vender alguma coisa que permita comprar comida e material escolar para os seus dependentes.
Desde 2011 que faz este trabalho. Entretanto, a nossa interlocutora afirmou que, não obstante as dificuldades com que a sua família se debate, não pode se queixar tanto porque o seu marido conseguiu arranjar uma ocupação numa empresa de construção civil.
Pedro Moçambique, também residente no povoado de Niaro, dedica-se à destilação de aguardente de fabrico caseiro há 10 anos, mas desde que a sua actividade agrícola passou a não ser rentável dedica mais tempo a este trabalho.
O régulo Niaro disse à nossa Reportagem que o problema de que os camponeses se queixam já é do conhecimento do governo local, incluindo o Instituto de Investigação Agrária de Moçambique. Contudo, felizmente, ainda não houve situações clamorosas em relação à fome resultante da podridão da mandioca nem óbitos em consequência do seu consumo