Os moradores do bairro de Chamanculo “D”, um dos vários na capital moçambicana mergulhados na pobreza urbana, vivem aterrorizados devido à onda de assaltos que desde o segundo trimestre deste ano tende a crescer. Para lograrem os seus intentos, os malfeitores, segundo algumas vítimas, recorrem a instrumentos contundentes, tais como facas e catanas. Há zonas já consideradas “corredores da morte”, na medida em que é perigoso circular a partir de uma certa hora.
Nos quarteirões 35, 36, 37 e 38 existem áreas denominadas “Xitende”, campo do Zixaxa, “Fundição” e “Belucha”, onde há casas cujos proprietários vendem soruma e os residentes acreditam que os consumidores é que protagonizam desmandos. Nessas zonas, não se circula entre as 22h00 e 06h00 e as principais vítimas são os comerciantes do mercado de Xipamanine, as pessoas que pretendam viajar a partir do Terminal Rodoviário Interprovincial da Junta e os estudantes do curso nocturno.
Carla Macondzo, viúva de 43 anos de idade, vive naquele bairro e sobrevive da venda. Ela já foi assaltada duas vezes. A primeira, ela quando caminhava em direcção ao mercado de Xipamanine, por volta das 04h30 da manhã e trazia 7.000 meticais. Três supostos criminosos, com idades que variam de 18 e 24 anos, “ameaçaram-me com uma catana, exigiram-me todo o valor que trazia e ordenaram para que eu continuasse a andar sem olhar para trás nem pedir socorro. Eu estava desesperada e entreguei o dinheiro sem pensar e fugi.
Para além de ter sido prejudicada nos seus negócios, três dias depois a senhora a que nos referimos ficou mais arrasada em consequência da morte do seu filho, que residia na vizinha África do Sul, vítima de doença.
No segundo assalto, Carla perdeu 2.000 rands. De acordo com ela, numa manhã caminhava para o Terminal Rodoviário Interprovincial da Junta a fim de trocar o dinheiro e foi interpelada por dois jovens, de aparentemente de 30 anos de idade, “um apertou-me o pescoço enquanto o outro dobrava-me o braço para que eu largasse a bolsa que continha o dinheiro”. A nossa entrevistada lamenta o facto de existir gente que deixa de trabalhar e opta por desgraçar pessoas procuram meios decentes de sobrevivência.
Um outro morador de Chamanculo “D”, que se identificou-se pelo nome de José Vilanculo, de 26 anos de idade, estudante universitário, narrou que já foi agredida fisicamente por um grupo de bandidos munidos de facas e garrafas, quando regressava da faculdade às 22h00. “Tentei fugir mas fiquei encurralado e perdi dois telemóveis, um computador portátil, 853 meticais e as sapatilhas. Felizmente, eles (os malfeitores) devolveram-me documentos”.
Há poucos meses, segundo os habitantes dos quarteirões acima referidos, um jovem cujo nome não foi apurado encontrou a morte vítima de agressão física, entre o “Vulcano” e o campo de Zixaxa, por voltas das 21h00, quando se deslocava do Aeroporto para Chamanculo. Aos autores do assassinato ainda não foram descobertos. Humberto Nataniel, outros residente de Chamanculo, contou que o cidadão tentou reagir ao assalto e morreu a defender os seus bens conquistados com muito suor.
Polícia deve intensificar o combate à criminalidade
Em relação as inquietações da população, Artur Funane, secretário de Chamanculo “D”, considerou que o crime de que os moradores se queixam é normal, mas a situação agrava-se sempre nas quadras festivas e nas páscoas. No seu entender, as autoridades policiais devem encontrar estratégias para estancar o mal.
Artur Funane frisa que é triste quando indivíduos que abandonam as suas famílias nas madrugadas, expõem-se ao frio, à chuva e ao calor para procurar meios de sobrevivência são atacados ou até mortos pelos bandidos. Eles acredita os criminosos são os próprios residentes na zona. É desagradável temer sair de casa por causa de criminosos. A Polícia tem conhecimento das residências que comercializam soruma e onde se fuma, tentou refrear tal prática mas ainda não há sossego no Chamanculo “D”.
Refira-se que o bairro é constituído por 40 quarteirões e conta com duas escolas, uma primária e outra comunitária.