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Creve Machava: Uma promessa que brota no atletismo moçambicano

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Creve Armando Machava, conhecido nos meandros desportivos por Creve, é a mais recente descoberta do atletismo moçambicano, sobretudo nos 110 metros barreiras. É, também, como se diz na gíria popular, um “craque” de salto em comprimento. Com apenas 17 anos, este atleta alcançou o sonho de qualquer um na sua idade: representar Moçambique numa competição. Aliás, Creve foi o primeiro atleta moçambicano a conquistar uma medalha num Campeonato Africano de Atletismo, evento que teve lugar no passado mês de Março em Warri, Nigéria. É o actual detentor do recorde nacional dos 110 metros barreiras.

Creve Armando Machava nasceu a 08 de Fevereiro de 1996 no seio de uma família comum no bairro da Malhangalene na cidade de Maputo. Grande parte da sua infância, ou seja, até aos seus 10 anos, viveu no bairro da Maxaquene de onde saiu com a mãe para ir viver com a avó materna, tios e alguns irmãos na Malhangalene, após a separação dos seus pais.

Nesta semana, o @Verdade decidiu visitar a casa do “pequeno” Creve tendo, na mesma ocasião, encontrado a mãe, Rosa Fernando, na sua pequena banca de venda de produtos diversos situada defronte do quintal. Rosa emocionou-se ao receber a equipa do jornal e mostrou-se ainda mais comovida quando começou a falar da infância de Creve pois, segundo ela, foi no meio de muitas dificuldades e sacrifícios que conseguiu criar o atleta, de modo que nada lhe faltasse na vida.

Segundo a mãe, Creve é um menino alegre, calmo, social e que no passado gostava de brincar perto de casa. Disse ela que a infância do atleta foi praticamente de “namoro” com os livros, ainda que tenha revelado alguma paixão pelo futebol.

Aliás, foi com esta modalidade desportiva que Creve começou a alimentar o sonho de ser uma grande personalidade no desporto moçambicano. Era conhecido, entre o grupo de amigos, como o “Mutola” do futebol, um adjectivo que surge em empréstimo do nome da campeã mundial e olímpica dos 800 metros, a moçambicana Maria Lurdes Mutola.

No entanto, quando Creve tinha apenas nove anos, viu a irmã trazer para casa uma medalha conquistada numa prova de atletismo dos jogos escolares, o que terá provocado nele o interesse pela modalidade. E foi assim, com esta idade, que este atleta começou a mostrar o seu talento nas pistas da Escola Primária Kurhula, no bairro da Malhangalene, pela mão do seu professor de Educação Física, identificado pelo nome de Kenyane.

Foi pelo mesmo indivíduo que aquele talento entrou para a equipa do Maputo Atlético Clube, onde terá aprendido as primeiras técnicas de corrida.

Segundo Rosa Sitoe, quando Creve Machava entrou para o mundo do atletismo, a família não se opôs e, pelo contrário, deu todo o apoio pois esteve claro logo de início que ele havia escolhido o caminho certo. Depois de muito tempo envolvido em treinos e competições de observação no Parque dos Continuadores, aquele atleta foi finalmente chamado a representar a cidade de Maputo, em 2008, nos Jogos Regionais da Zona Sul que tiveram lugar na província de Maputo.

Infelizmente, Creve não conquistou nenhuma medalha e, mesmo assim, segundo a mãe, não perdeu a esperança tendo, já no ano seguinte durante os Jogos Regionais havidos em Inhambane, conquistado duas medalhas de ouro nas duas categorias em que participou. Para Rosa Sitoe, este foi o primeiro sinal de que o seu filho podia ir longe no atletismo, tendo-se sentido orgulhosa por esse facto.

A mãe de Creve confessou ainda que seguia o seu filho em todas as competições em que ele estivesse envolvido, não escondendo a sua tristeza pelo facto de hoje ser raro poder vê-lo a correr, visto que as competições não ocorrem com regularidade, sendo que outras decorrem somente no estrangeiro quando se trata de competições internacionais.

O percurso de Creve e as suas conquistas

A história de vida de Creve, como atleta, começa no ano de 2006 no Maputo Atlético Clube, onde foi formado antes de chegar ao Clube dos Desportos da Maxaquene no ano seguinte para, durante três anos, representar os símbolos daquele clube tricolor. Passado esse período, aquele atleta foi contratado pelo Ferroviário de Maputo, clube que representa até hoje.

Durante o período em que esteve no Maxaquene até a altura actual, em representação do Ferroviário de Maputo, o jovem talento fez parte das selecções nacionais de juniores e juvenis, tendo, também, por diversas vezes, representado a cidade de Maputo nas competições internas. Tem em casa mais de 40 medalhas, com destaque para as de bronze pelo terceiro lugar conquistado no Campeonato Africano de Atletismo em juvenis, de prata e bronze alcançadas nas diversas edições dos Jogos da CPLP.

A sua primeira experiência internacional foi em 2009, no Zimbabwe, quando, chamado a representar Moçambique, participou no Meeting Internacional da Região Sul de África alcançando, na altura, a sensacional quarta posição nos 110 metros barreira e a oitava em salto em comprimento.

Nos anos seguintes, ou seja, em 2010 e 2011, na Zâmbia e na Namíbia respectivamente, Creve não conseguiu atingir os lugares do pódio, redimindo-se em 2012, na África do Sul, ao conquistar duas medalhas de ouro competindo nos 200 e nos 110 metros barreiras, para além de ter batido o seu primeiro recorde na última corrida.

Foi consagrado Atleta Revelação do ano 2011 pela Federação Moçambicana de Atletismo, como sinal de reconhecimento dos seus feitos, durante a gala anual da modalidade organizada por aquele organismo. Já em 2013, Creve participou no primeiro Campeonato Africano de Juvenis onde conquistou uma medalha de bronze e o recorde nacional dos 110 metros barreiras, atingindo, também, o tempo mínimo necessário para representar Moçambique no Campeonato Mundial de Atletismo do escalão, que terá lugar em Julho próximo na Ucrânia.

Creve Machava é também o primeiro atleta a honrar com uma medalha internacional o novo elenco da Federação Moçambicana de Atletismo, liderado por Shafee Sidat.

“Só penso em honrar a Pátria”

Já em conversa com a equipa de reportagem do @Verdade, Creve revelou- nos que sempre que vai para uma competição, a sua vontade é de vencer, movido pelo espírito patriótico e desejo de ganhar ainda mais. Aliás, foi este empenho que fez dele o primeiro velocista moçambicano a alcançar o tempo mínimo para um “Mundial” de juvenis.

Disse sentir-se satisfeito por poder representar o país nas competições internacionais e considera-se um jovem humilde que também aspira a ganhar muitos prémios, bem como a competir nas melhores pistas de atletismo do mundo. Ser professor de Educação Física e ensinar tudo o que terá aprendido no atletismo aos mais novos é o seu maior sonho visto que, na sua óptica, é preciso que os conhecimentos e as experiências sejam partilhados para que o país seja aquilo que todos almejam. Creve Machava não esconde a sua vontade de ser, como ele próprio diz, um homem rico.

“É uma personalidade comum”

O @Verdade conversou também com alguns amigos de Creve, particularmente com Félix Mabui, um companheiro com quem o pequeno atleta cresceu. Félix descreveu o seu amigo de infância como uma pessoa normal como qualquer outra, muito social e, acima de tudo, solidária. “Apesar de ter o estatuto que tem hoje, diferente de qualquer indivíduo da nossa geração, ele não é orgulhoso. Relaciona-se com todos naturalmente. Continua o mesmo amigo de sempre” revelou.

“Eu penso que ele tem um relacionamento saudável com todos, até porque muita gente ainda não o conhece, nem o seu real valor. Infelizmente, ele é visto como um menino comum do bairro, ainda que nos últimos anos tenha feito alguma história no país” declarou.

Como atleta, o amigo de Creve disse que ele está num bom caminho, e, a continuar assim, será bem-sucedido num curto espaço de tempo. Confessou que gosta de vê-lo nas pistas, e acha que ele tem potencial para ser um dos melhores atletas do país. Félix não deixou de aproveitar a oportunidade de conversar com a nossa equipa de reportagem para pedir às instituições e às individualidades ligadas ao atletismo, para que não deixem este talento perecer no marasmo que sempre foi o atletismo moçambicano.

“Tem um caminho longo a percorrer”

Para Azarias Samuel, treinador de Creve no Clube Ferroviário de Maputo e na selecção nacional, “ele é um indivíduo comum como qualquer outro, muito humilde e sem problemas com ninguém”. No entanto, aquele técnico não deixou de revelar aquilo que, na sua óptica, pode minar o desenvolvimento deste atleta: o vício pelas redes sociais.

“As redes sociais, sobretudo o Facebook, tiram a concentração do Creve quando mais dele se precisa. Ele prende-se de forma exagerada aos telemóveis que até o levam a dormir tarde e, consequentemente, a chegar atrasado aos treinos. Contudo, quero acreditar que é devido à idade” sublinhou Azarias Samuel.

Como atleta, aquele treinador disse que ele tem um futuro promissor, visto que aos 17 anos ainda pode melhorar na sua estatura física. Azarias não deixou de alertar para a necessidade de acarinhamento deste novo talento que brota nas pistas do atletismo moçambicano, sobretudo, à Federação Moçambicana de Atletismo, ao Comité Olímpico, aos dirigentes dos Clubes e à Comunicação Social.


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