Numa altura em que o adágio popular segundo o qual “dialogando a gente entende-se” parece já não ter efeito, de tal sorte que o Governo e o partido Renamo interromperam o diálogo político depois de o líder deste partido ter deliberado suspender os encontros, supostamente de forma unilateral, um movimento designado Mães, Esposas e Filhas pela Reconciliação Nacional e Paz Plena juntou-se na quarta-feira (02), na Praça da Paz em Maputo, e orou pela paz efectiva em Moçambique, bem como apelou ao entendimento e ao bom senso entre os moçambicanos, reiterando que o diálogo deve continuar a ser a única via para se ultrapassar as diferenças.
“Não permitimos que, em nosso nome, coisifiquem a vida dos nossos filhos e os tornem números anónimos de mortes, baixas, feridos e traumatizados (...)”, declarou a pastora Helena Mussane, integrante daquele movimento e salientou que cada pessoa que morre por motivos políticos e falta de paz deixa uma mãe despedaçada, um cônjuge sem companheiro, uma criança sem os pais e sem futuro.
Pese embora o diálogo entre o Governo e a Renamo não surta os efeitos desejados para o estabelecimento de uma paz efectiva no país há dois anos, Helena Mussane manifestou a sua vontade de ver as partes a alcançarem um entendimento que garanta uma vida harmoniosa e coesa entre os moçambicanos, tendo afirmado que o Executivo e o antigo movimento beligerante devem cultivar o espírito da verdade, da honestidade, da franqueza e da humildade para que haja sossego nas famílias.
Se, por uma lado, Joana Chilengue, presidente das “Mães Anglicanas”, entende que Deus concedeu a paz aos moçambicanos mas estes hoje voltam-se uns contra os outros. Ela questionou: “Que desentendimento é este que nunca acaba?”.
Por outro, Helena Mussane lembrou ao país que, devido à guerra resultante da falta de entendimento entre as partes, centenas de estabelecimentos de ensino foram devastadas, milhares de crianças não têm uma educação de qualidade e outras milhares de pessoas perderam a vida por falta de assistência médica pois os hospitais foram também arruinados.
Refira-se que Afonso Dhlakama anunciou num comício popular que vai treinar soldados e instalar um quartel-general no distrito de Morrumbala, na Zambézia para poder governar à força e vai tomar vários serviços públicos nas cinco províncias onde o partido teve um maior número de votos nas eleições gerais realizadas em Outubro último, nomeadamente Zambézia, Sofala, Niassa, Manica e Tete.
Enquanto isso, supostos homens armados do partido Renamo amordaçaram e fizeram refém o chefe da localidade de Tsenane, no distrito de Funhalouro, província de Inhambane. A vítima foi interceptada por volta das 15h00 de terça-feira (01), por seis homens armados, quando regressava de um encontro com a população do povoado de Matlale, segundo a Rádio Moçambique.
“Os homens armados da Renamo arrastaram-me para uma mata, onde ataram os pés e braços e de seguida submeteram-me a um interrogatório”, contou a vítima àquela emissora, tendo anotado também que permaneceu cerca de 10 horas amordaçado e sob forte vigia dos guerrilheiros.