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Último segredo (angolano) revelou-se em Moçambique

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Na sua presença efémera em Maputo, o escritor angolano Tazuary Nkeita relançou a sua terceira obra, “O Último Segredo”, numa cerimónia decorrida na Associação dos Escritores Moçambicanos. Qual, então, é o mistério contido na obra? É assim que se faz o convite para a leitura do livro.

O autor do livro “O Último Segredo” é jornalista desde 1975. Mas a sua primeira obra literária, “A Voz dos Dibengos”, só foi publicada em 2001. Em 2005 lançou “A Minha Pulseira de Ouro”. Falando na cerimónia da sua publicação, em Maputo, Isabel Bombe explicou que “O Último Segredo” é um romance de Angola que retrata os problemas da actualidade. Está escrito em jeito de crónicas, 40 no total, com personagens que transmitem as experiências de partilha de momentos familiares, desabafos, desentendimentos, amor materno, conflitos sociais e intrigas secretas”.

Mas o autor considera que “O Último Segredo é uma recolha de textos que eu publiquei nos jornais de Angola entre 1990 até 2010. Trago uma mensagem de mudança que se traduz na passagem de testemunho de uma geração para a outra. É preciso que as gerações mais velhas transmitam os seus conhecimentos aos mais novos para que estes sejam capacitados e integrados nos desafios que lhes esperam. Só assim eles podem assumir as suas responsabilidades, para que haja desenvolvimento”.

Por exemplo, “nos primeiros anos das nossas independências, a maior parte de nós era constituída por jovens de 19 anos de idade. Sucedeu que a geração anterior à nossa transmitiu-nos a sua experiência para que se continuasse o desenvolvimento dos nossos países recém-descolonizados. Eles haviam lutado com muito sacrifício para o alcance da liberdade. Então hoje nós também temos a obrigação de transmitir a nossa experiência às gerações que nos seguem para que elas possam dar continuidade no enfrentamento dos desafios das nossas sociedades”.

A dado momento, Isabel Bombe afirma que o autor relata que “Tuluca Dibaia, o personagem principal da história, foi uma pessoa exemplar na guarda de segredos importantes do Estado, mas faltava-lhe o calor e a ternura de uma família nuclear”. Reconhecendo que quando se fala sobre tal assunto há uma tendência de se fazer uma luta com os fazedores da comunicação social, os jornalistas, questionou-se ao autor se haveria na obra uma ligação objectiva com a realidade.

Tazuary Nkeita considera a pergunta interessante – na medida que nos remete à reflexão em torno da liberdade de expressão e de imprensa –, sobretudo porque é elaborada no Dia Internacional da Liberdade de Imprensa.

No entanto, para si, o problema é que “nós temos na nossa mente a ideia de que tudo é segredo. Eu sou jornalista desde 1975, antes das nossas independências, por isso falo com conhecimento de causa. Há, nos nossos Estados, situações de insegurança em relação ao tratamento de determinados assuntos por parte da imprensa. Não há nenhum jornalista interessado em divulgar um segredo de Estado. O que ele procura são factos de interesse público. É preciso que se esclareça também que existe uma diferença entre um facto de interesse público e os da vida privada das pessoas. Nesta discussão, “O Último Segredo” tem a importância de estabelecer a distinção entre ambas as categorias”.

Assim, para Tazuary Nkeita, se na actualidade existe algum segredo, “tal é a necessidade de se formarem os jovens. Introduzi-los numa escola de modo que tenham conhecimentos que lhes vão dar tranquilidade e uma capacidade de dirigir os nossos países com segurança. Se não estivermos seguros em relação a nós mesmos, não conhecermos os limites dos nossos trabalhos, vamos passar a vida a dizer que tudo é segredo de Estado”. É importante que nas sociedades africanas os jovens sejam os agentes da mudança e da transformação social.

Importação da literatura

Partindo do princípio de que é do interesse dos leitores angolanos o conhecimento de Moçambique, não só através da Rádio e da Televisão, mas também por meio da literatura – o sentido inverso é válido – Tazuary Nkeita afirma que “por várias vezes, tenho dito que os livros não têm fronteiras. Se eu posso vir de Luanda a Maputo através das linhas aéreas que existem porque é que os livros não vêm? Essa realidade lembra-me os nossos países no período do partido único, o tempo da guerra, em que os jornais só circulavam nas capitais”.

Isso significa que a liberdade de opinião, mesmo nos regimes de orientação democrática, só existia nas cidades capitais. À medida que as pessoas caminhavam para o interior do país, as suas liberdades diminuíam.

Ainda que se tenha celebrado a três de Maio o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, “sinto que os próprios jornalistas têm medo de expressar a sua opinião. É preciso que as mentalidades das pessoas se habituem a novas opiniões. É necessário que as ideias antigas e de vanguarda que se lançam em Moçambique cheguem a Angola”.

Por exemplo, em 1975, Moçambique estava independente desde Junho e Angola só alcançou a independência em Novembro. Não obstante, “nós, os angolanos, estávamos atentos a tudo o que acontecia no país irmão”.

“Tudo o que se publicava em Moçambique era seguido com a máxima atenção em Angola. Por isso, acho que hoje temos de desenvolver esse dinamismo que existia nos primeiros anos da formação dos nossos Estados. Temos mecanismos para o fazer”.

“Se Moçambique importa vários produtos de Angola, porque é que não se pode fazer o mesmo em relação à literatura? Se eu vou a um supermercado e vejo alimentos da África do Sul, porque é não é possível que haja também livros de Angola e São Tomé?”

Promover a interacção

O outro acontecimento que, de acordo com Tazuary Nkeita, deve ser capitalizado é a Semana Cultural da CPLP. “Penso que ela constitui um evento em que se deve promover, o da interacção dos escritores dos nossos países. Temos de aceitar esse desafio, ao mesmo tempo que temos de produzir obras de qualidade e de interesse para os nossos e leitores”.

O problema que se põe em discussão tem a ver com a qualidade literária. Por exemplo, “se se ouvir dizer que há um livro novo que foi lançado nos Estados Unidos – seja ele “O Código da Vinci”, por exemplo – as pessoas correm para comprá-lo, imediatamente. Porque é que as literaturas de Angola, de Moçambique e de São Tomé não circulam nos nossos países? É preciso que nós valorizemos o que é nosso. “O Último Segredo” é isso. É preciso que acreditemos na nossa capacidade, nos nossos recursos e na nossa força para vencermos”.

Quem é Tazuary Nkeita?

Tazuary Nkeita é pseudónimo literário de José da Costa Soares Caetano. O autor nasceu em Luanda, Angola, a 11 de Janeiro de 1956. É jornalista desde Julho de 1975, actividade que iniciou na Agência Angola Press (ANGOP).

Assina crónicas regulares, como colaborador, em jornais angolanos com destaque para o Semanário Angolense. Também foi colaborador do Jornal de Angola desde 1976. A sua iniciação jornalística ocorreu na ANGOP, órgão de que é co-fundador, e do qual foi director de Informação entre 1991 e 1994. No seu país, entre 1990 e 1991, Tazuary foi director do Gabinete do Ministro da Comunicação Social. Actualmente é oficial de Comunicação da Organização Mundial da Saúde, em Luanda.


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