Morreu neste sábado(07) na África do Sul, aos 90 anos, um humanista, observador, pintor e escultor de edifícios que se preocupou com o Lourenço Marques de caniço e vivia a pensar e a desenhar um projecto para cidade de caniço transformar-se em cimento. De seu nome Amâncio d’Alpoim Miranda Guedes, ou simplesmente Pancho Guedes, nascido a 13 de Maio de 1925, foi o arquitecto de centenas de edifícios em Moçambique.
Nas vésperas das comemorações dos 128 anos da cidade de Maputo, no próximo dia 10 de Novembro, parou a mão enfeitiçada do arquitecto que se preocupou com as assimetrias que existiam na época colonial entre a zona de caniço e a de cimento da então cidade de Lourenço Marques o que o levou a publicar um artigo no qual denunciava a falta de condições básicas de higiene e habitabilidade na periferia o que lhe valeu diversas críticas.
“Ele preocupava-se com a cidade de caniço e queria torná-la de cimento”, revelou em 2010 Malangatana Valente Ngwenha, já falecido, numa mesa redonda com o tema “Pancho Guedes e Maputo: arquitectura e mundivivências pessoais” realizada na capital moçambicana.
Pancho Guedes tinha a ideia de criar uma cidade unificada, mas por falta de recursos não chegou a concretizar todos os seus projectos. Ainda de acordo com Malangatana, Pancho Guedes era um homem apaixonado pelos objectos de escultura ligados à cultura africana, ou seja, integrava-se seriamente na cultura e o reflexo disso via-se nas suas obras.
O pintor mor de Moçambique falou na altura da convivência, mas também não poupou elogios àquele que considera o seu mestre. “Pancho Guedes apresentou- me a Eduardo Chivambo Mondlane a quem pedi que me levasse para os Estados Unidos e ele recusou-se. Guedes ficou muito contente e hoje percebo o porquê de tanta alegria, afinal, ele e Mondlane não queriam que eu sofresse influências externas”.
No mesmo evento o escritor Luís Bernardo Honwana contou que quando Pancho Guedes se fazia presente nas manifestações culturais na zona suburbana procurava uma identificação e estabelecia com os residentes uma relação de igualdade numa época em que a convivência era condicionada pela cor da pele.
“O arquitecto Miranda Guedes vivia a pensar e a desenhar um projecto para cidade de caniço”, comentou Honwana e também afirmou que Guedes e Mondlane apoiaram a formação académica de muitos moçambicanos, os quais hoje estão à frente do destino deste país.
Pancho deixou um enorme legado não somente em Moçambique mas também em Angola, África de Sul e Portugal. “O seu trabalho é de uma enorme dimensão e está espalhado por toda a cidade de Maputo”, disse na ocasião o director da Faculdade de Arquitectura, o arquitecto Luís Lage.
Dentre os templos que desenhou destacam-se a Igreja da Sagrada Família na Machava, Metodista Wesleyana, o Centro Anglicano e Igreja S. Cipriano em Chamamculo e também a catedral de palhota e uma escola clandestina de enfermagem construída com paus e palha. Pode-se também ver a sua criatividade no edifício onde funcionava antigo banco Standard Totta na baixa da cidade de Maputo ou mesmo em construções habitacionais como o Condomínio residencial redondo, na rua Mártires da Mueda, ou no Prédio Spence e Lemos, na praça dos Trabalhadores, ou ainda na residência Velosa, na avenida Kenneth Kaunda.