Mutotope é uma unidade comunal do bairro de Muahivire, na cidade de Nampula, onde a partir das 18 horas estar fora de casa é um acto de coragem devido ao recolher obrigatório imposto pelos malfeitores, o que faz com que os moradores considerem a zona sem lei, supostamente porque o trabalho da Polícia é ineficaz. Por sua vez, a corporação confirma a ocorrência de crimes mas diz que de há uns tempos para cá o problema tende a melhorar. Contudo, os residentes continuam desassossegados porque ainda têm tristes memórias de alguns assaltos a domicílios e na via pública.
Os habitantes de Mutotope, na sua maioria oriundos dos distritos do litoral em Nampula, Moma e Angoche, por exemplo, asseguram-nos que por causa do elevado índice de criminalidade quase que ninguém dorme à noite. Os assaltantes aterrorizam a todos com recurso a instrumentos contundentes, tais como catanas, facas, machados, dentre outros.
Segundo declarações dos nossos interlocutores, essas acções são protagonizadas por jovens da mesma unidade comunal e conhecem perfeitamente as condições em que se encontram as residências das suas vítimas, uma vez que durante o dia fazem um trabalho de reconhecimento dos lugares a invadir no período nocturno. As barracas de venda de bebidas alcoólicas constituem, também, parte dos alvos dos ladrões.
Para esses desmandos, os lesados encontram explicação no facto de Muahivire ser um bairro onde há um número considerável de jovens desempregados, à semelhança do que acontece noutros pontos do país.
Os meliantes, de acordo com os nossos entrevistados, têm o hábito de se vingar das suas vítimas quando estas ousam denunciá-los. Aliás, no princípio deste ano houve até casos de agressão física e violações sexuais em pleno dia. Apurámos, igualmente, que em Muahivire há dois lugares considerados mais propensos ao crime: o terreno desabitado chamado Posto Agronómico e o rio Lima. Nesses locais, algumas pessoas foram agredidas mortalmente e, por conseguinte, o pânico agudizou-se na zona.
Do grupo de criminosos, há indivíduos que frequentam as casas de pasto à procura de pessoas com dinheiro e outros bens com a finalidade de roubá-las. Montam emboscadas, para além de que os malfeitores trabalham em colaboração com algumas prostitutas, as quais são compradas para seduzir os seus clientes com a finalidade de assaltá-los.
“O meu marido estuda à noite e enfrenta muitas dificuldades para chegar a casa. Todos os dias eu agradeço a Deus quando ele bate à porta são”, disse-nos uma cidadã. Para além das prostitutas que trabalham em conivência com os alegados criminosos, existem mulheres, donas de casa, que se envolvem em actos infames. O secretário do quarteirão 16, em Muahivire, Manuel António, confirmou-nos o facto e disse que o caso mais recente culminou com a detenção de uma senhora que, neste momento, está a contas com a Polícia.
De acordo com os nossos entrevistados, o envolvimento de mulheres em assaltos chegou a preocupar bastante a população porque alguns pacientes eram agredidos à porta de algumas unidades sanitárias.
“As mulheres quando fossem para o Centro de Saúde de Muhala-Expansão eram proibidas de entrar caso fosse apurado que eram provenientes de Mutotope. Isso provocou muita tensão no seio dos moradores, mas a detenção de uma das criminosas mudou a situação para melhor. Para ter acesso ao atendimento médico era necessário irmos ao Centro de Saúde 1º de Maio ou ao Hospital Central de Nampula”, contou-nos uma das cidadãs entrevistadas pelo @Verdade.
O que diz a Polícia
A Polícia da República de Moçambique em Nampula disse que o crime na Unidade Comunal de Mutotope chegou a atingir contornos alarmantes, pois as pessoas eram agredidas, roubadas e outros danos aconteciam na via pública. Porém, houve uma redução significativa desses problemas, segundo o porta-voz do Comando Provincial, Miguel Bartolomeu, que se queixou da falta de colaboração por parte da população na denúncia dos que tiram o sono aos residentes.
Em relação à soltura dos meliantes, o nosso interlocutor explicou que a corporação está a fazer o seu trabalho, por isso a população deve entender que a Polícia tem apenas a missão de deter os infractores das normas de convivência social e os que perturbam a ordem e tranquilidade pública. Alguns casos são encaminhados ao tribunal para o julgamento e é esta instituição que decide sobre a soltura ou prisão das pessoas acusadas de cometer crimes.