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Clik here to view.Com melhor organização, apesar das dificuldades habituais, a nossa música pode atrair e dominar as atenções dos moçambicanos. Com um teatro superlotado de público, um cenário angelical – como se testemunhou –, o concerto do casal Kakana, na semana passada, revelou o triunfo do nascimento do disco Serenata.
Se assumirmos a publicação do trabalho discográfico Serenata – o primeiro da intérprete moçambicana, Yolanda Chicane, da Banda Kakana – como um parto, efectivamente, teremos de admitir que a cerimónia foi uma antítese do que está escrito no livro de Génesis 3: 16.
“E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará”. Depreende- -se que as dores do parto que a mulher sofre são uma consequência – actuando como uma sanção – de uma infracção, o pecado.
No entanto, o concerto foi simplesmente maravilhoso. Por isso, não pode ser do pecado, nem da dor, que esta matéria retratará, mas da sorte que, neste momento, está bafejar o casal que constitui a Banda Kakana – Jimmy Gwaza e Yolanda Chicane. Dias antes do ‘show’, tendo em conta a relação entre ambos, o primeiro afirmou que ter Yolanda como esposa simplifica a vida. “Imagina o desafio que é ter de ‘abandonar’ uma mulher, em casa, à noite, sempre que há concertos?”. Quando se é músico, vale a pena ter uma esposa cantora. Harmonizam-se as linguagens.
Uma actuação do Kokwana
Além dos seis prémios já arrancados em igual número de músicas, no MMA e no Ngoma Moçambique, o primeiro mérito do concerto foi a exposição da música “Kokwana” escrita e interpretada, há vários anos, pelo ancião da canção moçambicana João Cabaço que também participou no ‘show’.
Foi emocionante! “Há quem pensa que Yolanda Chicane é minha fã. Facto, porém, é que eu é que a admiro há bastante tempo, porque a sua actuação nos dá indicações de que ela é uma artista que veio para ficar no cenário da nossa música”, diz Cabaço que recupera a saúde. O génio da intérprete é sublimado pela “nobreza da sua personalidade”.
No capítulo da produção, o evento foi altamente organizado, através da combinação perfeita das luzes, do som, bem como dum cenário em que a abundância de flores verdejantes – uma metáfora de esperança – nos recorda o paraíso. Mas era um palco.
Combinou-se o recital de poesia, por Tina Mucavel, com música incluindo o desfile de moda da estilista Lúcia Pinto, antes de a conceituada coreógrafa e bailarina Maria Helena Pinto dançar ao ritmo da música Serenata. Embora sem grandes surpresas, o concerto foi bonito como as músicas que constituem o álbum. É por essa razão que a cantora Elvira Viegas apela ao público a abdicar da pirataria e a comprar o disco original.
Só assim, como João Cabaço vaticina, Yolanda Chicane será, plenamente, bem- -sucedida na sua carreira. Portanto, “eu desejo que ela seja feliz na sua vida e na carreira artística, porque nunca duvidei do seu potencial artístico.
No tema Kokwana, em que actuamos juntos, fiquei muito comovido. E este sentimento possui um amplo sentido, porque pela música, os artistas não precisam de fazer reivindicar o seu reconhecimento. Mas devem trabalhar e construir o seu nome. A sociedade irá vê-los porque o seu nome irá impor-se”.
O amor em primeiro lugar
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Clik here to view.Num mundo atribulado de crises não haveria algo melhor para amolecer os corações dos homens além do amor. “É por isso que, nas nossas músicas, o aprofundamos. O amor é a chave para a paz”, reitera Jimmy.
De qualquer modo, segundo o compositor e produtor da Banda Kakana, “o resultado que apresentamos no concerto representa a combinação de trabalhos de vários colaboradores ao longo de anos. Foi um percurso muito duro e de muita luta. Como tal, a possibilidade de colocar um trabalho discográfico no mercado é gratificante para nós”.
“Como se pôde ver, a sala estava cheia de gente – o que constitui um indicador do reconhecimento da obra criada. As pessoas estão a receber muito bem o disco. Espero que continuem a comprá-lo – contornando a contrafacção – de modo que se possa ajudar o artista e a sociedade na continuidade da arte musical que é maravilhosa”. Até uma empresa – a Kakana Eventos – já foi criada para defender os interesses da artista.
Promoção do álbum
O facto de se ter tido o Centro Cultural Universitário cheio de espectadores já indica – para alguns círculos de opinião – que as condições estão criadas para se dar continuidade à promoção do álbum em todo o país. “O problema é que isso depende de financiamento – o que não temos”, diz Jimmy. “Possuímos ideias que devem ser transformadas em projectos para que sejam materializadas. Não esperávamos realizar um megaconcerto – como o recém- -terminado – mas lutámos imenso e conseguimos. Então, teremos de continuar a trabalhar de modo que tenhamos novas possibilidades de gerar outros ‘shows’”.
“O que é certo é que sozinhos ainda somos limitados e não temos um programa de concertos definido para os próximos tempos. Mas havendo oportunidades, mesmo amanhã, podemos partir para as províncias e fazer espectáculos”.
É o triunfo da música
O jornalista cultural moçambicano, Hélder Lionel, que também presenciou o ‘show’ afirmou que o evento representa a celebração da música moçambicana.
“É o triunfo da música jovem moçambicana. É a continuidade do que há de qualidade na nossa cultura que – apesar de ter todas as influências do mundo – continua a preservar elementos que nos identificam como moçambicanos”. No concerto, todos os factores de produção foram fundamentais para o sucesso. Afinal, “a Banda Kakana aposta na qualidade no seu trabalho. Em resultado disso, naturalmente, o público reagiu favoravelmente aderindo o ‘show’”.
Fica uma lição segundo a qual, para que a nossa música progrida, é importante que se reúnam todas as condições para a promoção das artes. “As pessoas que vieram aqui sabiam de antemão que iriam ver um concerto fabuloso – e foi isso o que aconteceu”.