Quatros indivíduos acusados de ser os protagonistas de sequestros que têm assolado as cidades de Maputo e Matola encontram-se, desde esta terça-feira (20), no banco dos réus a responder pelo respectivo crime. Tratam-se de Arlindo Faustino Bernardo Timane, Edson Zacarias de Jesus Vombe, Manoa Valoi e Inácio Paulino Mirosse, que teriam sequestrado, no ano passado, empresário Ibrahimo Gani, proprietário da Incompal.
Sobre os visados, pesam as acusações de crime de roubo e cárcere privado praticados contra o empresário Ibrahimo Gani e respondem ainda por associação para delinquir, porte ilegal de armas de fogo e branqueamento de capital, no processo número 16/2013.
Os arguidos ouvidos, hoje, pelo Tribunal Judicial da Província de Maputo, naquele que foi a primeira audição, declararam-se inocentes. Recentemente, este Tribunal apontou como mandantes dos raptos e sequestros os cidadãos Hélder Afonso Naiene, Arsénio Joaquim Chitsotso, Joaquim Gabriel Chitsotso, Luís Carlos da Silva, Bendene Arnaldo Chissano, Domenique Simeão Mendes e Luís António Chitsotso.
O empresário Ibrahimo Gani foi sequestrado em Maio do ano passado quando se encontrava a passear. Na altura, ele saiu de casa e não mais regressou. Só mais tarde é que os familiares tomaram conhecimento de que ele teria sido raptado. Gani ficou seis dias nas mãos dos raptores, findos os quais a sua família teria pago o resgate para a libertação do seu parente, num valor não anunciado.
Após o pagamento do resgate, a vítima foi restituida à liberdade no bairro de Mahlapsene, no município da Matola, tendo em seguida se dirigido para a África do Sul, onde permaneceu por uns dias. Só depois do seu regresso a Moçambique é que foi remetida a queixa à polícia.
Na altura da libertação, os sequestradores teriam oferecido ao empresário 50 meticais para o transporte. Segundo consta nos autos do processo lido no início do julgamento, os quatros acusados teriam se juntado para prática de raptos, com o objectivo final de exigir dinheiro dos familiares das suas vítimas. Para este efeito, os mesmos teriam arrendado uma casa na Matola, onde mantiveram a vítima durante os seis dias.
O réu Edson Vombe foi quem se responsabilizava por contactar telefonicamente a família da vítima para negociar o resgate e ainda garantia a alimentação do sequestrado.
Somos inocentes
Os dois arguidos ouvidos esta terça-feira, nomeadamente Arlindo Timane e Edson Vombe, refutam as acusações de roubo e cárcere privado praticados contra o empresário Gani, que pensam sobre eles, afirmando-se inocentes.
“Essas acusações não são verdadeiras,” disse durante o julgamento o réu Arlindo Tivane, de 48 anos de idade, tendo acrescentando, por conseguinte, que ficou surpreendido quando, em Setembro de 2012, a sua casa, sita no bairro de Zimpeto, foi invadida por volta das 03h:00 da madrugada por um grupo de polícias e agentes a Força de Intervenção Rápida (FIR) para o deterem.
“Eles não tinham mandato de busca e captura, cercaram minha casa e pilharam os meus bens,” narrou ao tribunal Tivane, que acusa a Polícia de lhe ter arrancado, para além de bens domésticos (televisor plasmas, laptops, dentre outros), 185 mil meticais que trazia na sua casa.
Ele contou ainda que a Polícia pediu-lhe um milhão de meticais para não o deter. O valor alegadamente levado pela Polícia, disse ele, ser fruto de actividades que realizava antes de ser preso, nomeadamente as de motorista de camião e comerciante de telemóveis, plasmas, computadores.
Igualmente, o réu Edson Vombe diz-se inocentes dos crimes que pesam sobre ele. “Não tenho nada a ver com esses crimes” refutou quando dado a palavra pela juíza da causa. Ele disse, também, ter tomado conhecimento de raptos do Ibrahimo através dos meios de comunicação.
Outros processos dos réus
Os dois réus acima referidos, para além do crime de rapto do empresário Ibrahimo Gani, respondem por outros raptos cujo processos crimes seguem seus trâmites legais na cidade de Maputo. Arlindo Tivane que já foi preso cerca de quatro vezes, das quais a primeira em 1998, acusado de furto de uma viatura, em 2000, por crime de burla, em 2008, respondeu por crime de roubo num estaleiro.
Entretanto, Tivane nunca foi condenado, possue mais dois processos na cidade de Maputo relacionados com sequestros. Por sua vez, o réu Edson Vombe, de 29 anos de idade, já foi detido, também, acusado de crime de burla, e ainda responde por outro crime de rapto na cidade de Maputo.
O fenómeno de sequestro, em Moçambique, é antigo, mas começou a abalar o país em finais de 2011, altura em que foram sequestrados muitos cidadãos de origem asiática na capital do país. No entanto, esses casos ainda não encontraram esclarecimento por parte das autoridades policiais nem governamentais.