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Defecação a céu aberto assola Muhala-Belenenses

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Defecar em locais impróprios tornou-se um problema comum no bairro de Muhala-Belenenses, na cidade de Nampula, e ninguém faz nada para contê-lo. As latrinas ainda são um luxo para o grosso das famílias daquela zona. Por isso, o acto tem lugar nas proximidades de um riacho chamado Muhala. Alguns alegam que não constroem latrinas para o efeito por falta de espaço e outros por não disporem de dinheiro.

Uma parte significativa da população daquela região provém dos distritos costeiros da província de Nampula, tais como Ilha de Moçambique, onde defecar a céu aberto é visto como um acto normal e as pessoas não sabem ou ignoram que a higiene pessoal e colectiva, dos alimentos, da água, e dos domicílios, por exemplo, é importante para evitar a transmissão de doenças (diarreia e cólera) causadas pelos micróbios e parasitas de um indivíduo para outro.

Os moradores de Muhala-Belenenses defecam nas imediações do rio Muhala à vista de transeuntes, porém, ninguém se pronuncia com vista a inibir essa atitude que atenta contra a saúde pública. Adultos e crianças, homens e mulheres, jovens e idosos, disputam espaços naquele lugar. Por conseguinte, as condições de higiene no bairro são francamente precárias. Aliás, “Muhala” é considerada uma área propensa à eclosão de cólera.

Os níveis de desleixo em Muhala-Belenenses fazem com que se acredite que os habitantes pouco se importam ou não sabem que, para além de a casa ser o local mais importante para uma família e, por isso, deve estar em boas condições de higiene, os espaços públicos também devem permanecer limpos.

O problema da defecação a céu aberto no bairro em alusão deriva da ausência de uma política de saneamento do meio e de factores culturais. Refira-se que os habitantes dos distritos de Ilha de Moçambique, de Mussuril e Angoche não têm o hábito de construir latrinas. Eles recorrem às margens do mar e aos mangais.

O @Verdade constatou que no bairro de Muhala-Belenenses, em cada 10 casas apenas três famílias possuem latrinas. Abel António, um dos residentes na zona, confessou que quando tem de satisfazer as suas necessidades maiores percorre aproximadamente 50 metros até chegar ao riacho. Os restantes membros da sua casa fazem a mesma coisa.

O nosso entrevistado disse que não constrói a latrina porque a sua residência não dispõe de espaço suficiente para o efeito, pois quase todo o terreno foi ocupado pelo domicílio.

Anos sem latrina

Alima Amisse é solteira e vive naquele bairro há sensivelmente 10 anos, mas nunca teve instalações apropriadas para a sua higiene pessoal. Ela também recorre ao rio Muhala para defecar.

Contrariamente a Abel António, a nossa interlocutora disse-nos que não constrói latrina por falta de fundos e na zona em que está o lençol freático está muito próximo da superfície terreste. É possível encontrar água a menos de dois metros de profundidade. Amélia Ramadane, natural da Ilha de Moçambique, vive em “Muhala” com o seu filho e uma sobrinha desde 2011. Ela ainda não tem casa de banho nem vaso sanitário. A casa vizinha é o lugar a que recorre e quando não o pode fazer por a latrina estar ocupada a alternativa é o riacho.

Atanásia Ibraimo, natural de Angoche, construiu a sua casa com base em material precário nas imediações de uma ponte que liga as duas margens do rio Muhala. Ao atravessar a construção que liga os dois pontos separados pelo curso de água a que nos referimos é impossível não ver excrementos humanos a flutuarem.

“Estou aqui há sensivelmente oito anos e não vejo outro lugar para construir uma casa. Já me habituei ao mau cheiro”, disse Atanásia que, à semelhança de Alima e Amélia, também não possui latrina supostamente por falta de espaço e dinheiro. Entretanto, no período chuvoso, os excrementos humanos são arrastados para algumas residências que estão nas proximidades do rio e o mau cheiro apoquenta a população.

Outro constrangimento com que o bairro de Muhala-Belenenses se debate é a falta de sanitários públicos. Isso faz com que os vendedores do Mercado de Peixe recorram igualmente ao riacho. Estes e outros problemas são do conhecimento da edilidade de Nampula, porém, nada faz com vista a garantir melhores condições de vida na zona.

Quanto custa uma latrina melhorada em Nampula?

Na cidade de Nampula, a construção de um vaso sanitário melhorado ultrapassa o salário mínimo de um funcionário do Aparelho do Estado. Algumas famílias do bairro de Muhala-Belenenses estão desprovidas de fundos para comprar material que lhes permita edificar uma latrina de qualidade e consistente. Aliás, o grosso de pessoas daquele bairro é desempregado e sobrevive do comércio informal. Quando há dinheiro a prioridade é a comida.

A nossa Reportagem constatou que uma laje de latrina custa 800 meticais, e 2.550 meticais é o valor para a aquisição de 150 blocos de 15 centímetros cada. Enquanto isso, a abertura de uma fossa de 2/3 custa 1.000 meticais e a mão-de-obra 1.500 meticais, o que totaliza 5.850 meticais.


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