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Hóquei: Uma modalidade que (re)nasce em Nampula

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O hóquei em patins na província de Nampula, sobretudo na cidade capital, tem vivido, nos últimos dias, momentos de muita esperança. Esta modalidade tem vindo a fugir da sua vulgaridade e, ainda que lentamente, vai recuperando a sua merecida popularidade. Contudo, a falta de competições subsiste como um obstáculo que “campeia” neste ponto do país.

O nosso entrevistado nesta semana é Luís Amade, treinador e fundador do Núcleo de Hóquei em Patins de Napipine, uma colectividade que desde 2004 é responsável por trazer de volta esta modalidade desportiva aos campos da cidade de Nampula. Dos vários assuntos tratados, aquele técnico revelou que a sua luta é ver o nome de “Nampula” singrar no hóquei moçambicano e, porque não, a nível internacional.

@Verdade (@V) – Como é que surge a iniciativa de se criar um núcleo de hóquei num meio em que, como se sabe, não tem muitas condições desde materiais, financeiras até às infra-estruturais?

Luís Amade (LA) – Eu sou um desportista de longa data. Na minha adolescência experimentei várias modalidades desportivas, como é o caso do futebol e do basquetebol, facto que me deu a certeza de que havia um vazio no que ao hóquei diz respeito. Foi daí que, na década 90, decidi abraçar esta modalidade. Naquela altura, a província de Nampula era uma referência a nível nacional, prestígio que “voou” devido a vários factores, com destaque para as questões académicas e profissionais, uma vez que os praticantes quiseram concentrar-se mais nos estudos e trabalho. Graças à ajuda de amigos, muitos deles antigos praticantes de hóquei, em 2004 decidimos reactivar esta modalidade com a fundação do núcleo. Na altura arrancámos com apenas dez atletas do escalão de iniciados que curiosamente, hoje, são os que têm garantido a continuação da colectividade. Neste momento, estamos a trabalhar com um pouco mais de 20 atletas.

@V- E no processo da implantação como é que adquiriu o material usado para a prática do hóquei?

LA – Fizemos alguns contactos com certos vendedores de roupa usada, vulgo “calamidades”, tendo eles afirmado que era possível venderem-nos patins em quantidade. Nós os fundadores conseguimos, à nossa maneira, adquirir algumas traves e mobilizámos os pais dos petizes a fim de comparticiparem na compra de outro material que achámos necessário. Lembro-me de que conseguimos adquirir cerca de cinquenta pares de patins que não eram para a competição, mas que ajudaram bastante naquilo que pretendíamos ensinar aos mais novos, estes que hoje estão a transmitir os conhecimentos sobre a modalidade aos outros.

@V – Qual é o critério que usa para apurar a evolução dos seus atletas, uma vez que em Nampula não há mais clubes?

LA – O importante é fazer com que os petizes aprendam a patinar. Nesse aspecto temos alcançado sucessos. Neste momento estamos a trabalhar com um total de 24 atletas, dos quais quatro são do sexo feminino, que dividimos em dois grupos, designadamente A e B, e que vão disputando jogos de rodagem entre si. Ou seja, com os que temos, conseguimos formar dois conjuntos na expectativa de encontrarmos uma equipa forte.

@V- Ainda no que diz respeito a competições, já alguma vez defrontaram uma equipa, diga-se, da Beira, de Quelimane ou de Maputo, locais onde se pratica o hóquei com frequência?

LA – No passado mês de Junho defrontámos o Núcleo de Hóquei da Cidade de Quelimane, e vencemos por 3 a 1. Já no ano passado tivemos um jogo de observação diante da selecção nacional em que perdemos pelo à tangente, por 2 a 1. Deixa-me dizer que com a selecção nacional, ainda em 2012, fizemos algumas exibições, e eles transmitiram-nos valores que até hoje aplicamos no nosso dia-a-dia. A Federação Moçambicana de Hóquei, por sua vez, depois daquele jogo em que perdemos diante dos campeões do mundo do Grupo B e quartos do principal, encorajou-nos a continuar neste caminho, pois viram muito talento nos nossos rapazes.

@V- Nampula é uma cidade com sérios problemas de infra-estruturas desportivas. Onde é que desenvolvem as vossas actividades?

LA - De facto. As infra-estruturas desportivas, na generalidade, constituem um calcanhar de Aquiles neste ponto do país. Nós não temos infra-estruturas próprias. Desde sempre utilizamos o pavilhão desportivo da Escola Secundária de Napipine, apesar de o mesmo precisar de uma reabilitação urgente. Temos usado aquele espaço somente aos fins-de-semana ainda que nos dias úteis, uns e outros atletas, de forma voluntária, se têm deslocado àquele ponto.

@V- Em relação aos quadros técnicos, o que tem a dizer?

LA – Neste momento estou a trabalhar com um colega que é também antigo praticante da modalidade, na disciplina de normas básicas de hóquei. Mas porque pretendemos evoluir, esperamos, num futuro breve, contar com os préstimos dos estudantes do curso de Educação Física e Desportos da Universidade Pedagógica, da delegação de Nampula. Aliás, muitos já se mostraram disponíveis para apoiar o núcleo nas várias componentes técnicas, incluindo a da assistência sanitária dos nossos atletas em casos de lesão.

@V- E qual é o papel desempenhado pela Federação Moçambicana de Hóquei em Patins neste projecto?

LA – Temos um bom relacionamento com a federação, na pessoa do presidente, Nicolau Manjate. É de louvar o apoio moral que ele nos tem dado. No ano passado, a título de destaque, recebemos apoio material constituído por vinte pares de patins, seis sticks, quatro bolas, várias joelheiras, entre outros. Não tenho receio de afirmar que a federação nos alavancou e nos encorajou a trabalhar mais, visto que este material, para além de ser caro, só podia ser adquirido fora do país. Lamento o facto de até hoje, volvidos nove anos, ainda não termos tido o apoio do empresariado local, apesar de que se perceba que é devido à falta de competições em Nampula.

@V- E já se aproximaram das entidades governamentais para serem apadrinhados?

LA – Temos recebido apoio da Direcção Provincial da Juventude e Desportos de Nampula. O que recebemos é pouco, mas temos de agradecer por isso. Tivemos vários convites para abrilhantar os dias festivos nesta cidade, com destaque para os dias do Trabalhador e da Criança, em que o Governo tem disponibilizado lanche aos nossos atletas.

@V – Já endereçaram um pedido de apoio formal?

LA – Ainda não. Segundo a resposta que recebemos, para endereçar um pedido de apoio temos de formalizar o núcleo junto das autoridades legais.

@V- Falou da falta de apoio por parte do empresariado local. Pode explicar o que é que se passa, detalhadamente?

LA - Falar de patrocínio ao desporto em Nampula é o mesmo que falar de “nada”. Há nove anos que existimos e nunca tivemos apoio por parte do empresariado local. Mas a culpa pode ser também nossa, os fazedores do hóquei. Precisamos de divulgar cada vez mais esta modalidade através de competições. A província de Nampula só tem um núcleo, o que dá a entender que estamos relegados ao esquecimento. Mas entendo que podia haver bom senso por parte do empresariado nacional visto que, para dar os primeiros passos, é preciso ter algum auxílio.

@V – Estão satisfeitos com este projecto, mesmo sem contar com o apoio do empresariado?

LA – Nós somos felizes. A cada dia recebemos novos talentos na academia. O público tem aderido de forma massiva aos nossos jogos e as crianças segredam-nos que os pais lhes têm estimulado a irem avante no hóquei. Portanto, não vemos razões para não exibir o nosso sorriso.

@V- O que podemos esperar daqui em diante do núcleo?

LA – Temos vários projectos em carteira, maioritariamente relacionados com a massificação da modalidade. Precisamos de divulgar o hóquei junto das escolas, bem como entrar em negociação com os clubes deste ponto do país para que o incluam nas suas actividades. Ainda neste capítulo, os clubes federados precisam de perceber que nós somos uma referência a nível mundial, mas para continuarmos com este mérito precisamos, internamente, de dar continuidade aos trabalhos da formação e de promoção de competições. Identificámos alguns distritos da província com infra-estruturas capazes de acolher esta modalidade, como é o caso de Angoche, de Meconta, de Nacala-Porto e da Ilha de Moçambique, para onde queremos deslocar alguns atletas do nosso núcleo, a fim de efectuarem algumas demonstrações com o propósito de atrair novos talentos. Temos um convite para ir a Quelimane, ainda neste ano, para trocar experiências com equipas daquela urbe.

@V- Qual é o vosso sonho como núcleo?

LA - Temos uma equipa com qualidade, capaz de competir em igualdade de circunstâncias com as outras de Maputo, e não só. A nossa meta é ver os nossos atletas serem convocados para a selecção nacional.


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