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Mendigos e meninos de rua em Maputo são reinseridos nas famílias

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Os problemas relacionados com a mendicidade e com recurso à rua como “domicílio” por parte de crianças, jovens, adultos e idosos, que assolam as grandes cidades moçambicanas, parecem estar a refrear na capital do país, uma vez que de há tempos para cá já não é habitual ver pedintes e moradores de rua em grande número nos lugares onde isso era vulgar. O Ministério da Mulher e Acção Social diz que os indigentes estão a ser recolhidos e reintegrados no seio dos respectivos parentes.

À semelhança do que acontece noutros países do mundo, em Moçambique viver de esmola é um fenómeno corriqueiro devido, em parte, à ausência de políticas direccionadas para dar resposta ao problema da pobreza.

Nas cidades moçambicanas não são só indivíduos com dificuldades económicas graves que, recorrendo a várias artimanhas (mostram algumas fotos neste texto), tais como usar menores ou pessoas com deficiência para atrair a compaixão dos transeuntes, se fazem à rua para obter alimentos ou dinheiro, mas, também há pedintes relaxados e que não gostam de trabalhar, o que exige um combate organizado e muito esforço para tirá-los, sobretudo as crianças, dessa vergonha.

Segundo o Ministério da Mulher e Acção Social, na cidade e Maputo existem 360 mendicantes, dos quais 247 mulheres e 113 homens com idade compreendida entre os 30 e 50 anos, e 153 crianças. Destas, 130 são rapazes e 23 do sexo feminino oriundos dos distritos municipais de KaMaxaquene, KaMavota e KaXamankulu. As pessoas a que nos referimos tendem a desaparecer das diferentes artérias da urbe porque está em curso uma campanha com vista a devolvê-las ao convívio familiar.

Abdul Remane, oficial de programas na Associação Meninos de Moçambique, disse ao @Verdade que, entre 1998 e 2013, o número desses petizes que, por exemplo, pernoitam nas praças, nos edifícios em ruínas e noutros lugares emporcalhados da urbe, recorrendo a pedaços de jornais e caixas como cobertor, papelões e lonas como paredes de domicílios improvisados, baixou de 450 para 250 em Maputo.

Entretanto, esses dados contrastam com os fornecidos por outras entidades, tais como o Ministério da Mulher e Acção Social, que fala de 153 crianças. O coordenador da campanha de recolhas de informação sobre os indivíduos que frequentam a rua para pedir esmola e/ou para morar por diversas razões sociais e económicas, Vasco Muchanga, disse-nos que o universo está desajustado porque os critérios usados são diferentes e alguns não são fiáveis, uma vez que certas crianças que nas férias escolares desenvolvem o comércio informal têm sido confundidas com os meninos de rua.

Em Julho passado, durante a contagem dos “sem tecto”, a instituição do Estado, em coordenação com as associações Meninos de Moçambique e Hlayisseka, com vista a prestar-lhes assistência psicossocial, apoio monetário aos agregados familiares mais carenciados para que desenvolvam projectos de geração de renda, dentre outras acções, apurou que os principais problemas têm a ver com os maus-tratos protagonizados pelas madrastas e tios, a pobreza e a perda de progenitores por causa do VIH/SIDA.

Aos problemas indicados por Muchanga, Abdul Remane acrescentou que os meninos fogem da casa dos seus pais e/ou encarregados de educação devido à desestruturação de famílias e à influência de amigos.

Segundo Muchanga, a sua instituição e o Conselho Municipal da Cidade da Maputo estão a preparar um documento através do qual se vai sancionar os proprietários de estabelecimentos comerciais e outras pessoas que oferecerem bens e/ou produtos alimentares aos mendigos e a meninos de rua.

Um pedinte empreendedor

Para uma parte significativa de indigentes, viver de esmola já não é um acto humilhante, mas sim uma “profissão” lucrativa, lícita e nada vergonhosa. Este é o caso de Fortunato Mazuze, de 43 anos de idade, para quem “mendigar tornou-se num vício, por isso, será difícil eu deixar de fazer isso”. Ele, para além de nos revelar que por dia ganha entre 300 e 800 meticais (9.000 a 24.000 meticais mensalmente), disse que aplica o valor na compra de mariscos na capital moçambicana para revendê-los na província de Sofala.

Quando o produto se esgota, Mazuze desloca-se novamente à Avenida Julius Nyerere a fim de amealhar mais dinheiro ao qual junta os lucros de mariscos e investe noutras coisas que não nos segredou.

Atropelado a pedir esmola

Alexandre Matsinhe, natural do distrito da Manhiça, na província de Maputo, não sabe qual é a sua idade, porém, aparenta ter 65 anos. Os seus dois filhos e a esposa residem na vila de Boane. Actualmente, o nosso entrevistado vive no bairro da Zona Verde, no município da Matola, em casa do irmão, onde não lhe falta comida, segundo ele.

Entretanto, por volta das 06h:00 da manhã, Matsinhe pega na sua modesta pasta e dirige-se à Avenida Julius Nyerere, na capital moçambicana, para pedir esmola aos transeuntes e automobilistas.

O ancião contou-nos que recorre a essa forma indecorosa para sobreviver há anos. Apesar de ter contraído deficiência física por causa disso, Matsinhe confessou-nos que não consegue deixar de ser pedinte. Por dia colecta entre 200 e 600 meticais (6.000 a 18.000 meticais por mês) dependendo do espírito de compaixão dos munícipes.

“A minha deficiência foi causada por um acidente de viação na rua quando estava a mendigar. Fiquei entre a vida e a morte mas retornei ao meu 'trabalho' por falta de alternativa. A minha idade já não me permite arranjar emprego, por isso a via pública é o único lugar onde posso encontrar algo para sobreviver”.

Em casa do seu irmão, o entrevistado mora numa habitação precária, pelo que o seu objectivo é juntar os rendimentos obtidos através da mendicância para construir um domicílio decente. Num tom de desabafo e aparentemente consternado, o idoso disse que receia que os filhos morram miseráveis, uma vez que estão a passar por necessidades onde se encontram. Ele, como pai e chefe de família, não consegue prover condições básicas para os seus dependentes.

Uma juventude dedicada à mendicidade

Maria Tovela, de 34 anos de idade, nas primeiras horas do dia fica no terminal de transporte público de passageiros, no bairro de Xipamanine, onde permanece horas a fio com a mão estendida à espera que algum transeunte lhe ofereça uma moeda.

A nossa interlocutora disse-nos que não teve o privilégio de ir à escola porque precocemente perdeu os pais, tendo crescido ao lado de uma tia. Ela foi maltratada e a maior tortura pela qual passou foi a falta de comida, o que fez com que, em 2008, optasse por uma vida de pedinte. Com o seu cesto velho na mão, por vezes, percorre o mercado de Xipamanine e aborda as pessoas com as seguintes palavras: “Peço uma moeda para comprar pão”. Durante o dia repete o mesmo refrão até amealhar entre 100 e 300 meticais (3.000 a 9.000 meticais mensalmente).

Pedro Muianga, de 56 anos de idade, não tem um local específico para mendigar. Com o auxílio do neto, ele deambula pelas artérias da capital do país numa cadeira de rodas. O nosso entrevistado disse que foi um acidente de viação que pôs fim à sua locomoção, tendo perdido o emprego; por isso, sem dinheiro para desenvolver uma actividade de geração de renda, optou por viver de esmola, em 2003. Por dia, Muianga colecta entre 200 e 400 meticais (6.000 a 12.000 meticais por mês). Com esse valor, “pelo menos consigo garantir as refeições”.


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