Pancho Vila, com a pistola em riste, no Far Oeste, apontou a arma a um desgraçado e perguntou, Como te chamas, amigo?. E o desafortunado, petrificado, respondeu, Lorenzo!. Pancho Vila disparou um tiro à queima-roupa na cabeça do homem e corrigiu: Chamavas-te.
E a criança morta no infantário pertencente à Direcção Provincial da Mulher e Acção Social em Inhambane, há duas semanas, já não se chama Artur. Chamava-se. Até hoje não se sabe ao certo o que terá acontecido no enredo que levou o petiz, de três anos de idade, a encontrar a morte. O caso está sob alçada da Polícia, que tem três funcionários da instituição em causa para averiguação. Mesmo sabendo-se que a vida do menino, tido como inteligente, ninguém a vai devolver.
No dia 13 do mês em curso foi encontrado o corpo do menino Artur, sem vida e em avançado estado de decomposição, trancado na arrecadação do Infantário Provincial de Inhambane. Tinha o braço fraturado e pontas de mexas (cabelo postiço normalmente usado por mulheres) nas mãos. De acordo com informações que o @Verdade colheu no local, junto de funcionários que não quiseram ser identificados, por cima do cadáver foi ainda colocado um aro de uma janela, a servir de cobertor. A descoberta foi feita cerca de duas semanas depois de o rapaz ter sido dado como desaparecido. Outro dado é que já se sentia um cheiro estranho no local, o qual era a associado à morte de ratos, quando na verdade se tratava do cadáver de um menino que poderá ter morrido nas mãos de alguém movido por sentimentos ainda por explicar.
Reporta-se que que duas semanas antes de ter sido encontrado o corpo de Artur, esteve em Inhambane uma senhora cabo-verdiana vinda de uma universidade em Maputo, com a finalidade de desempenhar trabalhos de pesquisa na área social. Esse trabalho incluía um convívio com crianças desfavorecidas, daí que tenha ido ao infantário. A pesquisadora foi autorizada a dar um pesseio com as crianças do sexo feminino à Praia do Tofo e, no regresso, o primeiro sinal que a cabo-verdiana recebe é de que Artur, de quem se tinha tornado amiga, tinha desaparecido.
Ela não fez mais nada; accionou mecanismos para informar as estruturas competentes, depois de ter sido aconselhada a não fazê-lo, pelos funcionários que estavam de serviço. Mas ela não obdedeceu ao conselho, ligou para o director do estabelecimento, o qual, por sua vez, tratou de informar a Polícia. Foram cerca de duas semanas de procura em toda a cidade, mas nenhum sinal foi achado até o dia em que abriram a arrecadação por motivos que não tinham nada a ver com o desaparecimento do menino.
Caso curioso é que, enquanto se atarefavam na procura de Artur, alguém ligou de um número da Movitel, era uma voz feminina, a dizer que estava na Praia do Tofo onde, segundo a interlocutora, estava o rapazinho na companhia de desconhecidos. Alguns funcionários saíram rapidamente para o local indicado, sempre em comunicação com a pessoa que ligava mas, passado algum tempo, a chamada foi cortada, ou chamavam e ninguém atendia. Chegados à praia, nem a pessoa que ligou, nem Artur. Suspeita-se de que aquela ligação tinha em vista criar condições para que os responsáveis do infantário, enquanto se movimentassem para Tofo, criassem espaço para os criminosos retirarem o corpo. Mas se esse era o propósito, enganaram-se.
Acredita-se que Artur tenha sido agredido violentamente, ou pelas duas trabalhadoras que estavam de serviço no dia em que a investigadora levou as meninas ao Tofo, ou por uma delas e, quando viram o menino morto, trataram de escondê-lo no armazém para, na primeira oportunidade, retirarem o corpo e depois o abandonarem num lugar qualquer e, deste modo, urdir-se um cenário que ilibaria os implicados. Esta hipótese ganha mais relvância porque o corpo tinha o braço fraturado, estava trancado e nas mãos havia sobras de mexas, o que leva a acreditar-se na possibilidade de Arturinho ter oposto resistência para se defender nos derradeiros momentos da sua vida.
A título de curiosidade, perguntámos aos funcionários que nos deram estas informações se uma das detidas usava mexas, ou se as duas o faziam. Responderam-nos que apenas uma delas é que recorria a esse adereço. E a pergunta que fica é: qual terá sido o móbil desta crueldade?
Artur era um menino inteligente. Fazia muitas perguntas inesperadas. Descrevia situações que se passavam no infantário e que embaraçavam alguns trabalhadores. Por exemplo, diz-se que o menino relatava casos de funcionários que desviavam frequentemente víveres que eram destinados aos petizes. Denunciava casos de maus-tratos. E por causa desta sua atitude poderá ter pago uma factura muito cara, sem preço, porque a vida de uma criança não tem preço.
A morte de Artur trouxe ao de cima aquilo que se falava por detrás da porta. Há relatos de maus-tratos infligidos às crianças ali internadas, por parte de alguns trabalhadores. Fala-se ainda de incitamento dos mais velhos, por parte de alguns trabalhadores, para investirem contra os mais novos. Os que nos confidenciaram estes casos disseram-nos ainda que as senhoras que têm nas suas mãos a responsabilidade de cuidar dos meninos não têm nem vocação, nem formação. Não estão preparadas para lidar com uma faixa etária tão sensível. Pede-se uma investigação mais profunda, que ultrapasse a intervenção técnica da Polícia, para se ter com mais detalhes a informação do que se está a passar no Infantário Provincial de Inhambane.
Artur foi enterrado como um cão. Depois de ter sido descoberto o seu corpo, a Polícia tratou de enfiá-lo num plástico e imediatamente levá-lo à cova do cemitério, sem autópsia nem nada. A mãe do menino, uma mulher com laivos de demência, não assistiu ao funeral do filho porque na mesma altura estava a enterrar o corpo do namordo, que não é pai de Artur, no distrito de Homoíne. Os citadinos de Inhambane estão profundamente indignados com a situação que levou o menino à morte. Estava marcada uma manifestação pacífica para a passada segunda-feira, mas ela não aconteceu porque a Polícia foi informada à última hora.
Paz a Arturinho!
Texto e foto: Alexandre Chaúque