Em Nampula, a falta de emprego obriga os jovens do posto administrativo de Muatala a procurarem fontes alternativas de rendimento para garantir o sustento familiar. Com muito sacrifício, dezenas deles dedicam-se à compra e revenda de pele de boi no Matadouro Municipal para a sua sobrevivência. Álvaro Pionista, de 34 anos de idade, é um exemplo disso.
No bairro de Muatala, concretamente no Mercado 25 de Junho nas imediações do edifício degradado do Matadouro Municipal de Nampula, um grupo de jovens cansados de viver ao Deus dará optou por promover uma actividade de geração de rendimento de modo a fazer face ao desemprego.
Eles afirmam que em Moçambique, na cidade de Nampula em particular, o jovem que não tem parentes bem colocados nas instituições do Estado e outras organizações, está fadado a viver na indigência.
Este grupo não é somente constituído por homens, mas também há mulheres cuja actividade é comprar pedaços de pele para fazer petisco e vender nos diversos mercados da cidade de Nampula.
A nossa reportagem falou com Álvaro Pionista, de 34 anos de idade, natural de Quelimane, província da Zambézia. Ele contou que chegou à cidade de Nampula atrás de melhores oportunidades de vida como tem acontecido com muitos jovens da sua idade. Porém, as coisas na considerada capital do norte não são como imaginava e acabou por abraçar a actividade de estivador para ter o que comer.
Pionista garantiu que trabalhou como ajudante de um camião, além de ter ajudado um amigo a vender mercadoria nos diferentes mercados da cidade.
Mas a sua vida continuava na mesma situação. Volvidos quatro anos de sofrimento, foi convidado por um grupo de amigos a ajudar no abate de animais no Matadouro Municipal. Depois de um ano dedicando-se àquela actividade, decidiu envolver-se na comercialização de carne de vaca.
“A maioria da carne de vaca que se abate no matadouro vende-se em sistema de crédito e poucas são as pessoas que conseguem honrar com os seus compromissos. Muitas vezes, certos indivíduos não pagam e o vendedor é obrigado a assumir as dívidas”, disse Álvaro Pionista.
Depois de dois anos a trabalhar como vendedor de carne, Pionista descobre um negócio rentável, que viria a ser a sua bóia de salvação.
“O meu falecido amigo Manuel é que me convidou para começar com a actividade de compra e revenda de pele de boi”, disse tendo acrescentado que nos primeiros dias não era uma tarefa fácil porque muitos me conheciam como vendedor de carne e pele, passado algum tempo foi ganhando o gosto pelo negócio.
Preço de pele no Matadouro
No interior do Matadouro Municipal, o preço da pele inteira de um boi varia de acordo com o tamanho. Os lucros variam entre 100 e 500 meticais. “Às vezes, levo para casa o lucro no valor de 300 a 1000 meticais resultado da venda de pele”, disse para depois acrescentar que com aquele dinheiro consegue alimentar os seus filhos, esposa, sobrinho e irmão.
Num outro ponto, aquele vendedor de pele afirmou que, apesar da procura, os preçários aplicados pelos vendedores dentro do matadouro são proibitivos, o que o leva a ter dificuldades na obtenção de lucros. “Sentimos muita pena das mulheres que vão à procura do último cliente de peles, que são os consumidores de petisco. Elas sofrem muito porque devem cortar em pedacinhos que chegam a custar entre 1 a 2 meticais por unidade”, lamentou.
Como a vida mudou?
Álvaro Pionista afirmou que já passam oito anos desde que abraçou a actividade de venda de pele de boi. Durante estes anos, ele conseguiu dar a sua família uma moradia com as mínimas condições de habitabilidade. “Casei-me e tenho quatro filhos. Sustento a minha família graças a essa actividade”, afirmou para depois acrescentar que a única forma de combater a pobreza é sacrifício e nunca desistir dos sonhos.
Aquele vendedor de pele, nas imediações do Matadouro Municipal de Nmapula, disse que nos primeiros anos o custo de peles, tripas e cabeça de vaca não era bastante elevado e facilitava a obtenção de bons lucros. Porém, com o andar do tempo e depois de muitos proprietários dos animais descobrirem o valor da pele e os seus lucros, optaram por aumentar o preço daquele produto.
“Ultimamente, por dia conseguimos vender para as senhoras que fazem petiscos, uma quantidade de 20 a 30 peles. Mas no período chuvoso muitas senhoras, que são as pessoas que se dedicam à preparação de petisco, abandonam a actividade e vão para as machambas”, disse.
No período chuvoso, os vendedores são obrigados a conservar as peles em congeladores, pois o nível de compra e saída da pele reduz chegando por dia a vender no máximo cinco peles contra 50 no verão.
Entretanto, o número de desempregados na cidade cresceu num ritmo galopante depois dos Acordos Gerais da Paz, porque as pessoas saíram dos seus locais habitacionais para as cidades e, devido a esta questão, a maioria dos jovens luta para sobreviver. Este problema não só afecta os homens, mas também as mulheres.
Sonhos
Álvaro Pionista é um jovem como tantos outros jovens moçambicanos que têm o sonho de um dia prosperar e ter uma vida melhor. Ele afirmou que como forma de desenvolver a sua actividade desenhou um projecto e remeteu no ano passado ao posto administrativo de Muatala com a finalidade de ver financiado.
Mas desde o ano passado ainda não teve resposta. “Somente a última vez que lá fui disseram-me que estão à espera de uma pessoa que aprova os projectos”, contou.
Com aquele dinheiro do Fundo de Desenvolvimento Municipal, Álvaro pretende comprar mais congeladores e outros materiais de trabalho. Além da espera dos famosos “sete milhões”, aquele vendedor de pele pretende aumentar o seu nível académico e tem o sonho de um dia fazer um curso universitário.