A falta de apoio financeiro e moral, por parte das autoridades locais, está a fazer com que a modalidade de Karate continue no anonimato e à deriva na cidade de Nampula. Como é sabido, nos últimos tempos, a prática do desporto tem sido literalmente condicionada por escassez de infra-estruturas desportivas e materiais nesta parcela do país. E, nesse contexto, as artes marciais não são uma excepção.
As artes marciais são uma modalidade que, além de contribuir para a melhoria física e o bem-estar, possui a componente de auto-defesa contra os malfeitores. Em Nampula, antes da independência nacional, o Karate era praticada exclusivamente por forças militares e policiais, e o moçambicano conhecido por mestre Wazir, já falecido, introduziu, com a permissão do Governo português, esta modalidade desportiva. Nos seus primeiros anos, as artes marciais conquistaram os corações de pelo menos 20 pessoas que, ao longo de aproximadamente seis anos, a praticavam com tranquilidade e liberdade.
Mas, volvido algum tempo, sobretudo nos anos de 1990 a 2000, iniciou-se uma batalha contra os praticantes do karate. A guerra não declarada envolvia agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) e os karatecas. Os homens da lei e ordem tinham como missão banir a prática da modalidade alegadamente para acabar com a criminalidade que a cada dia ganhava espaço, situação que contribuiu para o desaparecimento das artes marciais em Nampula.
Decorridos seis anos, um grupo composto por 10 pessoas que, apesar da perseguição policial praticava o Karate, decidiu resgatar a modalidade. Contudo, para evitar uma segunda guerra, o conjunto procurou de imediato oficializá-lo, criando-se, assim, uma agremiação denominada Comissão Provincial de Artes Marciais. Apesar de não ter “cessado o fogo” de forma definitiva, a associação continuava a trabalhar em alerta.
Em 2012, a Comissão Provincial de Artes Marciais passou a ser designada Associação Provincial de Artes Marciais (APAMKAN). De acordo com Arlindo Joaquim Mema, presidente e seu membro fundador, a agremiação passou por inúmeras dificuldades, desde a sua formalização até à questão financeira no tocante ao desenvolvimento da modalidade.
“Mas importa referir que, durante o percurso, tivemos muito sucesso nas diferentes provas nas quais participámos”, disse. Por exemplo, em 2007, a associação ocupou o terceiro lugar do Campeonato Nacional de Karate. O ano de 2008 foi um dos mais marcantes, uma vez que a colectividade conquistou a primeira posição do campeonato da modalidade, evento que teve lugar na cidade da Beira.
No mesmo ano, dois atletas foram seleccionados com vista a integrarem a delegação moçambicana ao Campeonato Mundial na Suíça. Porém, por falta de apoio financeiro, ambos não puderam seguir viagem. Volvidos três anos, os karatecas de Nampula lideraram o campeonato regional da modalidade. Além disso, a agremiação participou numa prova designada Ronil, tendo ocupado o segundo lugar.
Não há campeonato provincial da modalidade
Apesar de a Associação Provincial de Artes Marciais contar com dois mil membros inscritos e oito núcleos, nomeadamente Dojohu-chi, Diamantes negros, Flamingos, Taekwondo, Shotokan, os Gatos negros, Ramelão do Norte e Kioku-sul-Grad, com representações nos 10 dos 21 distritos existentes na província de Nampula, aquele organismo responsável pelo karate neste ponto do país nunca realizou campeonatos a nível provincial. Arlindo Mema explicou que o facto se deve à falta de fundos. “Nós temos feito campeonatos inter-regionais, mas, a nível interno, nunca organizámos nada. Acredito que, dentro em breve, vamos organizar a prova, sobretudo nos escalões de iniciados e juniores”, disse.
A APAMKAN ainda não dispõe de fundos para a referida competição, mas submeteu à recém-criada federação moçambicana da modalidade uma proposta cujo orçamento está avaliado em mais de um milhão de meticais. “Este valor não será apenas para custear o campeonato, mas também para a participação nos campeonatos provinciais, regionais, ’Nacional’, Taça de Moçambique, incluindo o ’Mundial’”, referiu.
“Karate está no fundo do poço”
Desde a sua criação e oficialização em 2006, aquela agremiação, de acordo com o presidente provincial, nunca beneficiou de apoio, tanto do Governo como do sector privado. “Já pedimos ajuda a quase todas as instituições existentes na cidade de Nampula, mas a única que nos abriu a porta foi o Conselho Municipal na pessoa do então presidente Castro Namuaca que nos ofereceu 10.500Mt, valor que serviu para o transporte dos nossos atletas para participarem no campeonato em Quelimane”, afirmou.
Segundo Mema, a falta de financiamento contribui para o retrocesso da modalidade em Nampula. Para mudar o cenário, o presidente da APAMKAN disse que a colectividade pretende dedicar-se à criação de frangos para comercialização com o intuito de garantir que a prática do karate seja sustentável a nível da associação. O nosso interlocutor afirmou que um dos problemas com que, neste momento, a sua agremiação se debate tem a ver com a falta de infra- -estruturas para a prática da modalidade.
Redacção