O xadrez que, por muito tempo, fez sucesso na província e cidade de Nampula, presentemente, já não é praticado com a mesma intensidade, devido à falta de apoios financeiros e materiais. Porém, nos últimos dias, a modalidade está a ser resgatada pela Associação Provincial de Xadrez.
Em Nampula, o xadrez começou a ser praticado em 1996, por um grupo constituído por 10 pessoas e chefiado na altura por Hilário Lampião, indivíduo que introduziu a modalidade na província de Nampula. Volvidos aproximadamente 12 meses, esta modalidade desportiva fez grandes jogadores.
Trata-se de Jaime Garrafão, Ivan Arnaldo, Arlindo Bernardo e Panhassy Mutequia, entre outros. No referido período, grande parte dos praticantes, senão todos, registou bons momentos, sobretudo no que diz respeito aos prémios amealhados, tal é o caso de Panhassy Mutequia que conquistou seis troféus como resultado da sua participação no Campeonato Nacional de Xadrez e ter sido 10 vezes consecutivas campeão provincial e regional.
Em 2000, os amantes e praticantes de xadrez decidiram oficializar a modalidade, criando, assim, a Associação Provincial de Xadrez. Sem apoio moral, financeiro e material, aquela agremiação continuou a promover a modalidade, tendo-se tornado referência a nível do país. Panhassy Mutequia, vice-presidente e membro fundador da Associação Provincial de Xadrez de Nampula, disse que, apesar de grandes dificuldades, a sua agremiação trabalhava arduamente, tendo conquistado bons resultados, mesmo sem núcleos e não dispondo de um número significativo de praticantes. “Até agora há jogadores de Nampula que continuam como vice-campeões das ligas A e B e nunca descem de posição”, disse.
Membros abandonam xadrez
Refira-se que, dos mais de 10 praticantes e fundadores da modalidade, o número baixou de forma drástica. Presentemente, a associação conta com quatro pessoas, entre ela membros do conselho de direcção, nomeadamente presidente, vice-presidente, secretário e um técnico. Os estudos e o trabalho são apontados como as principais causas que estiveram na origem do alegado abandono.
Associam-se àquelas causas a falta de apoio financeiro, material, entre outros, por parte das entidades governamentais. Com a desistência dos indivíduos que assistiram ao surgimento da modalidade em Nampula, a situação ficou mais complicada, comprometendo, assim, os programas da agremiação, sobretudo a massificação a nível da cidade e província de Nampula. “Se tivéssemos clubes em Nampula a movimentar o xadrez, a modalidade não teria desaparecido. São pessoas individuais que fazem a modalidade”, sublinhou o nosso interlocutor.
“Voltar para ficar”
De acordo com Mutequia, apesar do défice de pessoal na colectividade, há planos com o objectivo de regastar aquela modalidade desportiva. Um deles é a criação de núcleos e clubes a nível da província. “No ano passado, nós criámos três, sendo um da Academia Militar Marechal Samora Machel e das universidades Pedagógica-delegação de Nampula e Lúrio, mas estas ainda não estão a trabalhar, não sabemos o que está a acontecer ”, disse.
O nosso interlocutor sublinhou que, ainda no ano passado, a sua agremiação submeteu um projecto denominado “Ensino à Criança Desfavorecida” ao Governo, através das direcções provinciais de Educação e da Juventude e Desportos, cujo objectivo é passar a ensinar os petizes a jogar xadrez nas escolas e nalguns centros de acolhimento de menores de idade a nível da cidade e província.
Além deste projecto, aquele responsável avançou que está em curso a formação de um número considerável de alunos na Escola Primária Completa dos Limoeiros. A capacitação, que decorre gratuitamente visa, dentre outros objectivos, divulgar e massificar a modalidade que está (va) em extinção. “O xadrez, de 1997 a 2000, em Nampula, ocupou lugares cimeiros. O nosso desafio é voltar a colocar a modalidade nessa posição em que estávamos”, acrescentou Mutequia.
Não há equipas para o Campeonato Provincial de Xadrez
Em Nampula o Campeonato Provincial da modalidade tem sido, muitas vezes, disputado a título individual, uma vez que escasseiam colectividades que a acarinhem. Neste ano, o cenário mudou. Participa um total de 20 jogadores, distribuídos por dois escalões, nomeadamente juniores e seniores, e divididos em dois núcleos. Trata-se da Universidade Pedagógica de Nampula, com dois jogadores, Academia Militar, com 10, e oito singulares. Os jogadores são, maioritariamente, do sexo feminino. “No presente ano, temos muita participação feminina e isso é de louvar. Isso é um grande ganho para o xadrez em Nampula. O que se verifica é que as mulheres dificilmente apostam em participações maciças em quase todas as modalidades”, afirmou.
Infra-estruturas: o calcanhar de Aquiles
Este problema verifica-se em quase todas as modalidades, principalmente nas que menos cativam o público. Na cidade de Nampula, por exemplo, não existem casas destinadas à prática de modalidades desportivas como, por exemplo, xadrez e karate, cuja movimentação exige locais adequados. Os fazedores e amantes do xadrez têm-se refugiado em estabelecimentos de ensino e locais de lazer, como o bar e discoteca “Céqsabe”, o anfiteatro da Academia Militar Marechal Samora Machel e a Escola Primária Completa de Limoeiros, que é o actual palco do campeonato provincial. “Há dias em que temos sido impedidos de trabalhar na escola dos Limoeiros, sobretudo quando há, por exemplo, uma reunião de pais e encarregados de educação”, lamentou.
Panhassy Mutequia atribui a culpa às autoridades competentes pelo facto de não se preocuparem em criar espaços condignos para o desenvolvimento do xadrez. “Nampula precisa de ter uma casa ou salas de jogo, onde podemos albergar pelo menos 20 ou 30 pessoas. Com estas condições, vivenciaremos a nível da província melhores momentos”, disse. A Associação Provincial de Xadrez de Nampula debate-se, igualmente, com a falta de material desportivo. Actualmente, a agremiação conta com oito tabuleiros.
“Praticar desporto é difícil numa cidade sem patrocínios”
Tal como é habitual em todas as modalidades desportivas e não só, o xadrez em Nampula não é excepção. A agremiação responsável pela movimentação desta diz ser difícil realizar partidas de xadrez, apesar de ter beneficiado, algumas vezes, de apoio material. “Em 2011 e 2013, nós recebemos alguns materiais de uma operadora de telefonia móvel, que serviu para premiar os vencedores dos campeonatos. Foi o único que mereceu resposta positiva dos mais de 20 pedidos que tínhamos feito naqueles anos”, sublinhou. Contudo, o nosso entrevistado diz que a associação vai continuar a trabalhar, apesar de não dispor de apoio.