Quando Maria Cossa, uma jovem aspirante a estilista, associa o seu ofício à tesoura, ao tecido e à máquina de costurar – entre outros instrumentos adquiridos com muito sacrifício – as suas mãos materializam o seu talento. Ninguém resiste à beleza das suas vestes. Até na terra do Rand, ela possui clientes. Essa mulher tem a fúria nas mãos.
No princípio Maria Cossa – uma mulher que, em tenra idade, ficou enlevada pela moda – era uma aspirante a estilista. Presentemente, as suas mãos dão vida às suas habilidades raras. Há sete anos, desde quando tinha 12 anos de idade, a costureira confecciona vestes usadas em ocasiões especiais como, por exemplo, casamentos, baptizados, uniforme escolar, bem como para cerimónias de graduação no ensino superior. As suas vestes catapultam a beleza das pessoas que as adquirem – homens e mulheres. É na costura onde encontra a satisfação para o seu ego.
Nasceu em 1994 e é oriunda de um subúrbio de Maputo, o bairro do Aeroporto. No entanto, nem a abundância das dificuldades sociais que habita o espaço – mormente a pobreza – sufocaram o seu talento. Antes pelo contrário, ela impôs-se contra os obstáculos. De se fazer respeitar, apesar de fazer o seu trabalho por puro prazer de satisfação do ego, Maria Cossa precisava.
“Eu comecei a costurar quando tinha 13 anos de idade. Em casa havia uma máquina de costura. A minha mãe viu-me a trabalhar, acreditou em mim, incentivou-me e investiu em mim com os parcos recursos que possuía. Actualmente, possuo cinco máquinas de costura adquiridas com base em fundos do meu trabalho”, recorda-se.
Nos dias que correm, a estilista trabalha dia e noite para satisfazer o seu desejo, incluindo as necessidades de centenas de moçambicanos que, a todo o custo, demandam os seus serviços para fazer face a diversas ocasiões. Acredita-se que é pelo seu talento que a clientela se multiplicou. Sabe-se que há quem encomende as suas roupas – mesmo no serviço de pronto-a-vestir – a partir da vizinha República da África do Sul.
Diz-se que a habilidade de Maria Cossa é algo invulgar. Afinal, apesar das dificuldades por que passa – mesmo para a aquisição de material para o seu trabalho – o génio materializa- se. É opinião comum de que se trata de uma relação – o corte e costura – que despontou quando Maria Cossa tinha três anos de idade. Ela satisfazia as ilusões da infância fazendo roupas para as suas bonecas.
Mas, posteriormente, começou a ajustar as vestes dos seus próximos, incluindo vizinhos. Desta vez, o objectivo não era apenas a satisfação do seu ego. Havia necessidades humanas por responder. A actividade de corte e costura – que se configurara na sua actividade organizada – foi a resposta. Portanto, “sempre cozi por gosto. Eu apreciava e aprecio o trabalho que faço, mas – como forma de responder às necessidades sociais – comecei a trabalhar orientada para colmatá-los. Os meus pais já não conseguiam custear as minhas despesas, incluindo os caprichos de mulher”, refere.
Um boom de clientes
Quando menos esperava sucedeu que – em resultado do seu empenho – centenas de moçambicanos que residem no bairro do Aeroporto, algures no Maputo suburbano, sem excluir pessoas de outros quadrantes, começaram a demandar, cada vez mais, os seus serviços.
Por dia, a alfaiataria de Maria Cossa recebe entre 10 e 15 encomendas. É a par disso que a estilista começa a sonhar alto – participar num evento internacional de moda e ver a sua colecção de roupas, sobre a qual considera que será muito sugestiva, não somente a desfilar como também a atrair a atenção dos apreciadores do bem vestir.
Refira-se, então, que o seu gosto pela costura se intensificou quando um dos seus tios alfaiate a solicitou a fim de apoiá-lo a ajustar as vestes que abundavam na sua alfaiataria. O seu parente ficou impressionado com o seu trabalho. A então adolescente nunca mais quis ficar longe da costura. Por essa razão, a sua mãe decidiu matriculá-la no curso de corte e costura que durou três meses. Ela aprimorou o seu talento, sob o ponto de vista técnico, até que consolidou a prática que faz de si “o orgulho da família”.
“Trabalho continuamente a fim de responder em tempo útil às solicitações dos meus clientes. É que fico muito feliz sempre que alguém me elogia – em reconhecimento não só da qualidade do meu trabalho, mas também – por causa da pontualidade. Isso fortifica-me. Sinto que sou útil e tenho o meu valor na sociedade”, considera revelando algumas das suas fontes de motivação. Inspirada pela vontade de não querer tornar-se um peso para os seus pais, uma cidadã socialmente não útil, Maria Cossa apostou no trabalho.
Actualmente, com a mesma actividade, ela ampliou a sua esfera de acção e representação comercial. Já confecciona vestidos de noivado e baptizado, entre outros artigos – na verdade, acessórios de vestuário – masculinos e femininos.
Quero ser reconhecida
De acordo com Maria Cossa, a sua fonte de inspiração é o quotidiano do bairro e da sociedade em que se encontra. Nas suas vestes, acredita-se, estão patentes alguns rastos da moçambicanidade. Mas a estilista prefere considerar que “as críticas das pessoas mais velhas sobre a juventude e as novas tendências da moda contemporânea são os alicerces que enriquecem a minha inspiração e produção”.
Maria Cossa diz-se fã e seguidora dos estilistas que glorificam a humildade. Apesar de não possuir elevados graus na área da moda, ela expressa-se com segurança sobre o tema. É que, na verdade, “eu estudei os princípios básicos da moda. Parei de fazer o ensino geral na 10ª classe, por causa da carga de trabalho, que é grande. Por isso acabei por optar pela profissão”. Entretanto, apesar de estar satisfeita com os lucros que obtém, enquanto não se tornar famosa, a costureira não irá relaxar.
A sua grande meta é alcançar os píncaros da moda e, por essa via, poder trabalhar em pé de igualdade com grandes estilistas moçambicanos e internacionais. Por isso, “faço o meu trabalho com paciência e dedicação, porque o fruto será o reconhecimento”.