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Primeiro o pão, depois a escola

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Na cidade de Nampula, há cada vez mais jovens a abandonarem a escola para ganhar a vida. Na lógica segundo a qual ?saco vazio não fica em pé’, Mussa Jorge Maquili, de 22 anos de idade, viu-se forçado a colocar os estudos em segundo plano, uma vez que tem de garantir o seu sustento diário. Presentemente, com a 12ª classe interrompida, dedica-se à construção de moradias a nível da considerada capital do Norte. Apesar de tudo, ele não descarta a hipótese de regressar aos bancos da escola.

Mussa Maquili é o terceiro filho de 10 irmãos de pais diferentes. O seu pai biológico divorciou-se da sua mãe quando ele ainda era muito pequeno. Natural da cidade de Nampula, presentemente, reside do bairro de Mutava-Rex, arredores de Nampula.

Até o ano de 2009, Mussa era estudante da Escola Secundária de Namicopo, onde frequentava o nível médio (12ª classe). Todos os dias, era obrigado a obter 20 meticais para o transporte de ida e volta, uma vez que a escola localiza-se a pelo menos 10 quilómetros do bairro onde vive. Ele contou que as despesas escolares, sobretudo as matrículas, compra de material escolar e contribuições sistemáticas para apoiar a escola em alguns aspectos, eram por si suportadas.

Entretanto, com o andar do tempo, o jovem apercebeu- -se de que estava a fazer muito esforço trabalhando durante o dia e, no período nocturno, ir assistir às aulas. Por vezes, não acompanhava, taxativamente, as matérias transmitidas pelos professores, visto que, devido ao cansaço, dormia em plenas aulas.

“O trabalho de construção civil exige muito uso da força física e sacrifício, facto que faz esgotar as energias do corpo. Requer um repouso para continuar com uma outra actividade”, disse o rapaz que optou por abandonar o banco de uma escola para ganhar o seu pão de cada dia.

Mussa explicou que o motivo que fez com que deixasse de estudar é o facto de o custo de vida ser muito elevado na cidade de Nampula e este não é tempo para as pessoas ficarem paradas sem, se quer uma ocupação para garantir o “pão”. Por outro lado, ele lamentou o facto de existirem jovens que concluem os estudos e nada fazem para produzir rendimentos pessoais.

“Se não tivesse aprendido este ofício, estaria na mesma situação que os outros. Mas acredito, também, que no futuro a situação poderá complicar-se por não ter concluído o ensino médio”, afirmou Mussa manifestando a sua confiança de que poderá regressar à escola no sentido de concluir a 12ª classe.

Desde 2008, altura em que tinha apenas 18 anos de idade, já participava nas obras de construção de residências na tentativa de aprender a praticar um ofício que lhe pudesse garantir rendimentos próprios sem que, no entanto, dependesse de apoio de parentes ou familiares.

O convite havia-lhe sido formulado por um amigo para ajudá-lo na preparação do cimento de construção e, com o andar do tempo, foi aprendendo as técnicas do trabalho, tendo aperfeiçoado. Actualmente é “mestre-de-obras” e, por seu turno, já conta com um servente.

Segundo Mussa Maquili, a sua experiência é, ainda, muito fresca e precisa de muitos anos para se afirmar como potencial mestre- -de-obras. Além disso, disse que esta classificação é feita pelo público ou pessoas que admiram ou solicitam o seu trabalho.

Acredite-se ou não nos seus trabalhos, Mussa ganha a cada dia que passa a confiança das pessoas que o convidam para executar o seu projecto de construção das residências através de material convencional ou precário (blocos de areia). Todavia, mostrou-se preocupado com certas pessoas que desvalorizam os trabalhos que tem vindo a desenvolver, porque consideram-no inexperiente.

“Elas dizem que aquele jovem foi nascido naquela família e hoje tornou-se um mestre. Ele não é capaz de construir casas”, lamentou afirmando que a referida aderência por parte dos seus clientes tem sido em outras zonas ou bairros, cujas pessoas pouco sabem sobre a sua origem.

No que diz respeito aos pagamentos, Mussa disse que nunca enfrentou problemas relacionados com a desonestidade por parte dos proprietários das obras pois pagam sem constrangimentos e, muito menos, complicações. Isso deve-se às negociações que faz antes de arrancar com a construção.

Casamento ainda longe dos seus objectivos

Contrariamente ao que acontece com grande parte dos jovens da sua idade que conseguem desenvolver um ofício de rentabilidade para autossustentar-se, o nosso entrevistado fez saber que o casamento é uma questão que, presentemente, não passa pela sua cabeça. Ele justifica que não está preparado psicologicamente para assumir um relacionamento e formar uma família.

Os objectivos daquele jovem consistem em conquistar o mercado da construção e ganhar confiança dos seus clientes, tendo em conta a demanda, pois muitos jovens estão sem actividade de geração de renda. Depois de concretizado este propósito, Mussa pretende regressar à escola para terminar os estudos, pelo menos do nível médio. Disse ainda que talvez, mais tarde, as suas atenções estarão viradas para o ensino superior cujo acesso, reconheceu, é também um outro desafio a enfrentar.

Os jovens desempregados ou seja que não realizam actividades que não têm uma remuneração mensal garantida enfrentam muitas dificuldades para ingressar nas universidades, devido ao fraco poder económico das suas famílias.

Esta situação, referiu o interlocutor, acontece numa altura em que a província de Nampula já conta com mais de cinco instituições de ensino superior a leccionar cursos diversificados. Recordou que, anteriormente, os jovens não enfrentavam esses problemas que estão relacionados com o difícil acesso às universidades.

“Outros estabelecimentos de ensino superior do sector privado cobram taxas muito elevadas, principal obstáculo para a camada mais jovem que acaba de terminar os estudos do ensino secundário geral”, acrescentou aquele jovem.

Mesmo com estas dificuldades, Mussa prometeu que não irá fracassar, vai lutar para que esteja a estudar em alguma faculdade.

Não revelou a sua área de formação específica que gostaria de se especializar. Caso não consiga ingressar em nenhuma universidade, ele vai procurar por uma perceira para juntar-se matrimonialmente e com ela fazer apenas três filhos para evitar complicar as despesas.

“Criar muitos filhos traz muitos gastos e tendo em conta o actual custo de vida não seria um homem feliz com mais de cinco crianças”, afirmou.

Mussa pondera vir a abandonar a actividade de pedreiro assim que concluir os estudos. “Estou a trabalhar como mestre-de-obras porque não tenho outra fonte de rendimento, mas também agradeço a Deus por este ofício, uma vez que existem muitos jovens sem ocupação rentável. Em face disso os jovens estão envolvidos em práticas que não dignificam o comportamento de um cidadão”, disse e acrescentou que “os frequentes casos de criminalidade são praticados por jovens e adolescentes que optam por aquele caminho na tentativa de ganhar o seu pão de cada dia”.

Apelou aos jovens no sentido de não pautarem por esta via. “É uma actividade que tem um fim muito triste, ou termina na prisão ou é morto por populares quando for interpelado a roubar”, sublinhou.

De referir que Mussa Maquili é um jovem igual aos outros que desenrascam a vida fazendo vários ofícios. Uns trabalham como carpinteiros, outros são padeiros, vendedores ambulantes, revendedores de crédito, entre outras actividades.

Estes trabalhos são realizados por jovens que, na sua maioria, viram-se forçados a abandonar a escola ou não tiveram nenhum enquadramento no mercado de trabalho.

Muitos deles, quando estudavam, as expectativas de ter sucessos eram maiores, mas a vida surpreendeu-lhes com a falta de oportunidades, seja para o mercado de trabalho ou formação superior.

No caso particular do mercado de trabalho, muitos jovens enfrentam problemas relacionados com a falta de experiência exigida pelas entidades empregadoras, visto que acabam de sair da carteira. Mesmo assim a única oportunidade que lhes convém para a busca de experiência e, também, para ganhar algum rendimento para o seu auto sustento é a rua onde desenvolvem diversas actividades, uma das quais mencionadas anteriormente.


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