Jorge Alfredo, de 29 anos de idade, e Velasco Soares, de 20 anos, residentes no bairro de Namicopo, no Posto Administrativo com o mesmo nome, na província de Nampula, são dois jovens que se dedicam à preparação e cuidado da terra para produzir hortaliças, nomeadamente alface, abóboras e couve. Há mais de cinco anos que investem nesta actividade, com a qual garantem a subsistência das suas famílias e abastecem os principais mercados da urbe.
Segundo narraram à nossa Reportagem, iniciaram este trabalho nos seus quintais como uma mera ocupação por falta de emprego. Mais tarde, à medida que os rendimentos incrementavam, passaram a entregar-se com afi nco ao cultivo de diferentes tipos de verduras em largas extensões de terra.
Os dois camponeses controlam pessoalmente toda a cadeia de produção e ainda se responsabilizam pela distribuição do excedente depois da colheita. Em conversa com o @Verdade, ficou visível a vontade de transpor obstáculos e tornarem-se, no futuro, senhores de grandes propriedades rurais.
Sabem pouco sobre as técnicas agrícolas e recorrem a formas rudimentares para colocar no mercado uma hortaliça boa, saborosa, colhida tenra e cuja rega não é abusiva para manter as propriedades nutritivas.
Jorge Alfredo e Velasco Soares fazem parte do grupo de camponeses que usa meios próprios para produzir, não têm assistência técnica dos serviços agrários da sua área de jurisdição, nem acesso a crédito bancário ou ao Fundo de Desenvolvimentos Distrital para efeitos de expansão das suas áreas de cultivo.
A nossa Reportagem visitou o local onde os dois jovens desenvolvem as suas actividades e constatou que trabalham em machambas localizadas em zonas onde há falta de sistemas de irrigação, de infra-estruturas agrícolas, de sementes de qualidade, e um défice quanto ao domínio de diversificação e rotação de culturas para incrementar a produção e a produtividade. Todavia, apesar destas adversidades, afirmam que têm bons rendimentos.
Todo o processo de tratamento, que inclui a sementeira, sacha, fertilização, colheita e lavagem de verduras é feito manualmente com recurso a um regador plástico e a uma enxada de cabo curto.
No passado, na cidade de Nampula, algumas hortícolas tais como a cebola, a alface, o repolho, a couve, a pimenta, dentre outras que abastecem o mercado local, eram adquiridas nos distritos de Ribáuè, Malema e Murrupula a preços elevadíssimos. Porém, o trabalho abnegado de Alfredo, Soares e de diferentes camponeses das regiões ribeirinhas ou das chamadas zonas verdes nos bairros de Carrupeia, Napipine e Mutava-Rex, garante uma dieta alimentar variada às populações.
Jorge Alfredo, casado e pais de seis filhos, lida com a terra, estrumes e adubos desde 2007, altura em que foi despedido do seu emprego de guarda-nocturno. Segundo afirma, em Nampula é difícil ter um emprego formal e queixa-se do elevado custo de vida. O preço de produtos alimentares tende a aumentar a cada dia que passa.
Entretanto, sustenta a sua família com os rendimentos obtidos na sua machamba e, apesar da alta de preços dos insumos agrícolas, ainda garante a educação dos seus descendentes e as três refeições diárias, nomeadamente o pequeno-almoço, o almoço e o jantar.
Ao @Verdade o jovem disse que o que produz na sua horta não só se destina à venda, como também mudou os hábitos alimentares da família para o melhor, incluindo a condição financeira. O rendimento que resulta do seu trabalho não cobre a maior parte das despesas, mas no que diz respeito à nutrição e instrução dos filhos não há razões de queixa.
O menu da sua casa é basicamente composto por chima de farinha de milho, mandioca seca e arroz – acompanhados de couve, matapa (um prato feito de folhas picadas de mandioca, característico da cozinha moçambicana) e outras verduras – peixe seco, carapau e, por vezes, frango.
No que diz respeito à habitação, a casa do nosso entrevistado foi construída com base em material precário. “Não é a casa dos meus sonhos mas foi construída com muito sacrifício”. Velasco Soares também é casado, tem três filhos e vive numa casa arrendada desde que se afastou dos seus pais para constituir própria família. O jovem tem uma história não diferente da do Jorge Alfredo.
Para além de outros problemas que têm grande influência nas suas actividades agrícolas, Soares e Alfredo queixam-se da praga de gafanhotos que destrói as culturas e dificulta o seu desenvolvimento, desde Dezembro do ano passado.
Os dois jovens juntaram-se a outros camponeses e pediram ajuda aos técnicos do sector agrário, mas ainda não obtiveram uma resposta satisfatória. O que agasta os agricultores é o facto de no mercado local não haver drogas para combater as referidas pragas.
Neste momento, a única forma que encontraram para mitigar o problema é recorrer a excrementos de animais, mas este procedimento tem a desvantagem de causar um cheiro desagradável e incomodar as famílias que vivem nas proximidades das suas machambas, segundo nos contaram.