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Enfermeiras acusadas de cobranças ilícitas em Nampula

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As enfermeiras, afectas ao Centro de Saúde 1º de Maio, na cidade de Nampula, são acusadas por algumas pacientes de estarem envolvidas na venda de substâncias contraceptivas, designadamente de implante, algo que é oferecido, gratuitamente, pelo Governo, através do Sistema Nacional de Saúde, no sentido de evitar nascimentos massivos de crianças nas famílias moçambicanas. Os valores rondam entre os 500 e os mil meticais.

O implante é um método contraceptivo, segundo informações médicas, adequado por ser de longa duração e com alguma eficácia. Ele dispõe de inúmeras vantagens, destacando-se o facto de não constituir um obstáculo durante as relações sexuais, o aleitamento e não requer que a mulher faça o seu uso diariamente por via oral. Porém, o implante não protege contra as infecções de transmissão sexual, o que faz com que a segurança não seja completa.

Apesar disso, várias mulheres optam por esse método, mas encontram barreiras de ordem financeira, porque algumas profissionais da Saúde vendem- -no, ao invés de oferecer o implante gratuitamente, como recomenda o Sistema Nacional de Saúde (SNS). Uma mulher, que não quis ser identificada, disse ao @ Verdade ter comprado aquele dispositivo através de uma profissional da Saúde, cujo nome não revelou. Segundo a utente, essa situação tem sido frequente naquela unidade sanitária.

O @Verdade interpelou Aida Ernesto, de 32 anos de idade, no Centro de Saúde 1º de Maio. A nossa interlocutora está a levar a cabo o Planeamento Familiar, e usa o método de toma de comprimidos. Sem revelar a identidade da enfermeira, ela afirmou que uma médica pediu-lhe 500 meticais, quando ela manifestou o desejo de aderir ao implante. Mas, por indisponibilidade financeira, ainda teve de escolher (mesmo contra a sua vontade) as pílulas como única forma de evitar uma gravidez indesejada.

Os fármacos que Aida toma não lhe criam efeitos colaterais, mas ela não se sente confortável pelo facto de ser obrigada a ingerir os comprimidos diariamente. Outra utente que pediu para falar na condição de anonimato, residente na Unidade Comunal Samora Machel, bairro de Namicopo, deu a conhecer que há duas semanas que decidiu utilizar injecções para evitar outra gravidez, antes de o seu filho, com apenas seis meses de vida, completar os dois anos de idade. As nossas interlocutoras não apontam os nomes das enfermeiras que estão envolvidas no processo de venda do implante.

A directora do Centro de Saúde 1º de Maio, Marisa Isabel, considera ser difícil combater os actos relacionados com cobranças ilícitas, uma vez que desconhece os seus praticantes. Aquela responsável não desmentiu, nem confirmou a existência de tais práticas na unidade sanitária sob sua direcção, uma vez as denunciantes não apresentam nenhuma prova. “O que nós, como instituição, queremos é a aproximação dos doentes, indicando as pessoas que vendem o implante para efeitos de Planeamento Familiar, o que irá ajudar a desencorajar essas práticas”, anotou.

Segundo a directora do Centro 1° de Maio, não se pode acusar alguém ou instaurar um processo disciplinar contra um funcionário sem, para o efeito, apresentar as bases que o sustentam. Marisa Isabel entende que, sobre o aumento de casos que mancham o trabalho dos profissionais da Saúde, o culpado é o próprio utente, pois, sabendo que o serviço é gratuito, opta por pagar para, supostamente, beneficiar de alguma prioridade. Por exemplo, ela referiu-se ao alegado mau atendimento de que os pacientes se queixam todos os dias.

O que tem acontecido, segundo aquela responsável, é que as pessoas dirigem-se ao hospital e vão logo falar com os enfermeiros, oferecendo-lhes “refresco” para serem atendidos em primeiro lugar, ao invés de ficarem na fila. “Essas pessoas é que estão a estragar o nosso trabalho, porque os próprios profissionais são humanos por isso, alguns colegas não são capazes de recusar as ofertas dos pacientes”, disse, acrescentando que as únicas prioridades a nível das triagens são reservadas às crianças e pessoas idosas ou aos doentes muito graves.

Não há medicamentos para doentes com ITS

O @Verdade apurou que o Centro de Saúde 1º de Maio não recebe, desde o ano passado, medicamentos como Benzatínica, Canamicina, entre outros, que servem para o tratamento de infecções de transmissão sexual (ITS). Os pacientes com ITS que se apresentaram naquela unidade sanitária não têm registado melhorias. A situação por que passou o jovem identificado simplesmente pelo nome de Sérgio, de 24 anos de idade, é exemplo disso. Ele sofre de gonorreia, uma doença que contraiu numa relação ocasional no distrito costeiro de Moma.

Quando se apercebeu de que tinha uma infecção tratou de se dirigir ao hospital rural local, onde não registou melhorias, devido à falta de medicamentos apropriados, o que fez com que voltasse para a cidade de Nampula. No Centro de Saúde 1º de Maio, o nosso interlocutor foi atendido por uma enfermeira, cujo nome desconhece, mas soubemos que a referida técnica de Saúde estava a trabalhar no Banco de Socorros daquela unidade hospitalar.

“Foi no domingo, dia 14 de Setembro, pelas 9 horas e 30 minutos”, disse Sérgio. Segundo o jovem, depois da consulta, ele foi levado até à sala de tratamento, tendo-lhe sido aplicada uma injecção e, posteriormente, foram-lhe prescritos alguns fármacos. Volvidos três dias, o pénis de Sérgio continuou a expelir um líquido amarelo, facto que o deixou preocupado.

“Regressei na sexta-feira, dia 17 de Setembro, ao mesmo banco de socorros. Eram 14 horas. Encontrei um enfermeiro de que não me lembro do seu nome”, precisou, acrescentando que pagou 100 meticais pela consulta. A situação continuou a mesma. Na terceira tentativa de tratamento, o jovem decidiu comprar os medicamentos numa farmácia privada e levá-los, em mão, a um técnico de Saúde.

Só assim é que ele conseguiu flivrar-se da infecção que o apoquentava. Sobre este assunto, a directora daquela unidade sanitária reiterou a necessidade de os utentes apresentarem as suas queixas, apontando os culpados para efeitos de repreensão, porque “dessa forma será difícil solucionar os problemas da má prestação dos serviços por parte dos colegas”.

Segundo Marisa Isabel, este ano nunca houve registo de um caso que está relacionado com cobranças ilícitas e outras situações. Mas a nossa interlocutora referiu que em 2013 um técnico de Saúde recebeu uma nota de advertência por ter vendido um atestado médico. “Na verdade, esse cidadão denunciou o caso, apresentando o atestado médico, o que nos ajudou a reconhecer a assinatura do emissor que foi, imediatamente, repreendido”, disse.


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