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Alí Suede: Um artista, um exemplo de persistência

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Quando a vontade de se tornar artista fala mais alto, nada se pode fazer senão aceitar o destino que a vida traçou. É com esta consciência que Alí Suede, de 23 anos de idade, residente do bairro de Carrupeia, arredores da cidade de Nampula, movido pelo amor às artes, apesar das difi culdades, abraçou as artes plásticas.

As obras dos conceituados artistas Malangatana, Naguib, Beto Maconde e Gil Viola inspiraram-no, tendo, na década de 1999, se apaixonado pelo mundo das artes. Alí Suede descobriu o seu amor pelas artes, quando tinha apenas nove anos de idade. Mas a sua trajectória no mundo artístico iniciou entre os anos 2000 e 2002. Na época em alusão, existia um jovem talentoso que passava a maior parte do seu tempo a desenhar personagens ou cenas das longas-metragens a que ele assistia e, sobretudo, das que gostava.

Ele residia algures da zona da Cavalaria-Vatalixa, nos arredores do bairro de Carrupeia. De certa forma, Suede diz ter nascido com o dom para desenhar. Mas, fazendo uma análise, na altura da sua meninice, não tinha criatividade suficiente para desenvolver o seu talento. Foi aí que ele achou conveniente procurar ajuda dos mais velhos e, como eles não gostavam de serem observados a trabalhar, ele saltava os muros de vedação para vê-los pintar.

O tal jovem, que, por sinal, era o seu vizinho, tinha um bloco de notas no qual desenhava as figuras, e numa primeira fase Suede pediu para apreciar os desenhos. Posteriormente, ele levou o bloco de notas consigo para a sua casa. O bloco de notas serviu de ponto de partida para o desenvolvimento do seu talento. Nos tempos livres, Suede fazia as análises das imagens e decidiu dedicar-se à arte de desenhar. Na mesma época, ele começou a trabalhar com pincel e tintas.

“Na altura, nós tínhamos pequenas equipas de futebol e cada uma investia em camisetas, mas não tinham números. Foi aí que decidi apostar na estampagem de números e letras. De certa forma, esta nova fase ajudou-me bastante na minha profissionalização”, salientou o jovem. Volvido algum tempo, Alí Suede teve a oportunidade de conhecer um artista profissional com imenso talento e promissor, o “mano Beto Maconde”, como é carinhosamente tratado.

Este, de certa forma, ajudou-o a persistir na concretização dos seus sonhos. O que se sucedeu, segundo ele, é que, como era uma criança naquela altura, quando quisesse falar com aquele pintor para que ele ensinasse as técnicas usadas no acto da pintura das obras, era expulso do local.

Mas como o interesse por aquela arte falava mais alto e queria aprender, ele entrava pela vedação do quintal, construído com base em material precário, e ficava a apreciar as obras. Passado algum tempo, ele conheceu um rapaz chamado Cassiano, por sinal sobrinho de Beto Maconde, e passou a frequentar a casa daquele artista. Num certo dia, o tio do seu amigo encontrou Suede a desenhar e apreciou a imagem.

“Lembro de que o desenho não fazia sentido, mas dava para olhar duas vezes. Entretanto, Beto, comovido com a figura que eu estava a traçar com o lápis, elogiou-me e pediu desculpas por não me ter acolhido inicialmente. Porém, não me convidou a trabalhar com ele, por alegadamente eu não possuir talento suficiente para tal”, contou.

O nosso entrevistado afirmou que chegou uma época em que quase perdeu a oportunidade de se aproximar de Beto. Ele pensou que Suede se fez passar por amigo do seu sobrinho, pura e simplesmente, para demonstrar o desejo de se tornar artista plástico. O jovem ficou preocupado e triste.

Mas, ao longo do tempo, houve um grupo de pessoas que o incentivaram a persistir na corrida pelos seus sonhos. Ele teve uma outra oportunidade de aprender mais sobre as artes plásticas ao conhecer um outro profissional denominado Gil Viola, que era especialista em fazer retratos falados, desenho livre e técnico. As técnicas que Gil usava faziam com que Suede procurasse aprender mais sobre o desenho gráfico.

“O mais interessante é que ele usava lápis HB, embora eu também usasse, mas não conseguia fazer um trabalho com a mesma mestria”, afirmou. Mas, para sua tristeza, à semelhança de Beto Maconde, o Gil Viola não gostava que estivesse alguém a observá-lo enquanto pintava.

“Eu era miúdo e tinha incutido na minha mente que ele não permitiria que eu ficasse ali na sua pequena galeria para aprender a desenhar”, disse. Posteriormente, Suede conheceu o B2V – irmão do mano Beto – um artista que também almejava desenvolver os seus dotes na pintura. Ele incentivou-o, tendo convidado o jovem a formar uma dupla. Mas a união não durou, uma vez que os dois se desentenderam.

Os ventos de mudança

Suede passou a investigar a pintura de telas, mas tinha algumas limitações, pois não tinha a quem perguntar. Porém, ao contrário do que se sucedeu com Beto Maconde e Gil Viola, o jovem conheceu um docente que dava aulas de História na Escola Secundária de Namicopo, que, nos seus tempos livres, também se dedicava à pintura de quadros e de estampagem de camisetas.

“Para minha alegria, ele convidou-me a apreciar como pintava. Aprendi muito com ele”, salientou Suede. Mas num dia, o mano Beto convidou Suede a trabalhar consigo, tendo apostado no jovem. Foi um período marcado por muita aprendizagem e aventuras, embora ele se lembre de que naquela altura os clientes ficavam nervosos devido ao trabalho que ele prestava, uma vez que, também, era inexperiente, mas não desistiu.

“A minha inspiração está no que vejo”

Suede busca inspiração em qualquer lugar, bastando olhar para uma obra, um objecto ou pessoa e surge a vontade de fazer qualquer coisa interessante. A sua motivação, também, vem dos trabalhos de outros artistas.

Em suma, pode-se salientar que Alí Suede é um artista plástico que se inspira no quotidiano da chamada capital do norte, mas também, ele trabalha como se fosse uma roda dos ventos, pois a produção das suas obras depende da preferência dos clientes e da abertura do mercado. A ideia de vender as suas obras surgiu há bastante tempo. Mas, anteriormente, ele pintava e guardava os quadros na sala da casa dos seus pais.

“Vendia para quem procurasse pelos quadros”, afirmou. Num dia, um amigo aconselhou-o a sair de casa e a vender os seus quadros no centro da cidade de Nampula. O preço varia entre 500 e 1000 meticais, dependendo da mensagem que cada um transmite.

Suede vende mais os quadros que têm os símbolos das equipas de futebol, que militam em grandes campeonatos a nível mundial, com destaque para a Liga dos Campeões Europeus e a Liga Portuguesa.

“Não é fácil viver das artes em Nampula”

A falta de uma galeria universal onde os artistas pudessem expor as suas obras não facilita o processo de progressão e divulgação dos seus trabalhos. “Mas falando de mim, particularmente, tenho a consciência de que as coisas não são fáceis aqui na cidade de Nampula. Não há condições para um artista viver das artes”, lamentou Suede. A falta de patrocínio também mina os seus objectivos. “Nós trabalhamos por amor à camisola e não há motivos para desistir”, acrescentou.

Apesar de ter conquistado algum lugar no seio da sociedade, Alí Suede é da opinião de que é um artista certo no lugar errado. Ele explica que as dificuldades que enfrenta na divulgação dos seus trabalhos e o baixo poder de compra são os principais entraves.

“O meu maior sonho é ser um exemplo para os jovens. Pretendo mostrar aos que menosprezaram o meu trabalho o meu valor e o resultado de ser persistente, pois água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, disse Suede.


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