No concerto realizado em Maputo – no âmbito da sua digressão pela África Austral – a banda suíça, Nik Bärtsch’s Ronin, realizou um concerto cheio de motivos cinematográficos. O jogo de luzes, combinado com um conjunto de sonoridades exóticas, marcou a diferença num espectáculo que podia ter sido assitido por muita gente... Para quem não esteve no Centro Cultural Franco-Moçambicano no sábado passado, 13 de Abril, pode dizer-se que perdeu.
No entanto, tal posição não é assumida por todas as pessoas que se deslocaram ao local – afinal, algumas ficaram de fora. Não puderam assistir ao concerto dos Nik Bärtsch’s Ronin, na sua primeira presença em Maputo, depois de terem realizado vários concertos em algumas cidades da África do Sul e Swazilândia. A razão para a exclusão os espectadores é uma: nos últimos tempos, a equipa do Centro Cultural Franco-Moçambicano tem privilegiado a realização de concertos no auditório. Mas a demanda dos mesmos tem sido grande.
O espaço não responde de forma favorável à quantidade de pessoas que afluem ao local. Há amantes de música que – mesmo tendo abdicado das suas actividades a fim de se divertirem no fim-de-semana – não puderam fazê-lo estando no lugar apropriado. Depois do concerto das Likute, realizado a oito de Março, na semana passada, o show dos Ronin tornou-se o exemplo mais actual.
Na verdade, ao que tudo indica, o referido espectáculo já estava a ser esperado há uma semana. Afinal, muitos moçambicanos que não puderam deslocar-se à Cidade de Cabo, na África do Sul, onde (no contexto do Festival de Jazz), os Ronin actuaram, só podiam fazê-lo em Maputo. Cabo, Joanesburgo, Durban – na África do Sul – e Malkeres, na Suazilândia, são as cidades por onde a banda suíça passou.
O show
Vários adjectivos – dentre os quais intimista, cinematográfico, iluminista –podem ser utilizados para descrever o concerto dos Ronin. A primeira característica é apontada pelo simples facto de este conjunto ter a capacidade de – através da música e do cenário ilumino-técnico gerado no palco – prender os espectadores entre si, chamando a sua atenção para que participassem no evento. Cria-se uma intimidade, e, se quisermos, uma cumplicidade, no seio da plateia que é convidada para o seio dos músicos.
Nessa produção não se sabe, ou pouco se sabe, sobre o destino da música e dos assistentes. Basta que se refira que, em qualquer momento, no referido curso do tempo e da produção artístico-musical, a luz pode desaparecer e as sonoridades aparecerem com uma grande vibração. Em parte, para as pessoas distraídas, a sensação é de surpresa, mas para as atentas gera-se um convite para uma acção ou reacção. Houve, por exemplo, pessoas que – comprovando que a música é uma linguagem – ao procurar criar sentido nas sonoridades produzidas, bem como encontrar a sua identidade, introduziram signos do seu mundo, da sua cultura no concerto.
Disso alguns gritos, tipicamente africanos, incluindo assobios, foram um exemplo. O valor cinematográfico do evento será, então, traduzido pelo facto de os espectadores – ainda que tendo a convicção de que serão transportados, musicalmente, para um bom porto – não saberem ao certo qual é o seu destino. A qualquer momento pode haver luz, mas também ela pode desaparecer. Pode haver um ritmo, agradável, familiar, contínuo que (de súbito) pode ser trocado por outro, mais vibrante ainda.
Ou seja, está-se numa viagem em que os capitães são os quatro elementos que actuam em palco. E os instrumentos, equiparadas a ferramentas de remar, são o piano (Nik Bärtsch Ronin), o baixo (Thomy Jordi), o clarinete e o baixo (Kaspar Rast), incluindo um saxofone tocado por Sha. Por fim, o jogo da luz modifica o cenário mas também propõe um tempo de uma iluminação ténue para os espectadores, criando oportunidades para que os espectadores busquem a luz, ampliando a pupila, ou, em sentido metafórico, se consciencializarem da importância do referido elemento para a vida.
O quarteto Nik Bärtsch’s Ronin surge em 2001. É liderado pelo compositor e pianista Nik Bärtsch que é natural de Zurique. Os outros integrantes são o baterista Kaspar Rast, Sha (no clarinete e baixo/contrabaixo e sax alto) e Thomy Jordi no baixo.