Três organizações da sociedade civil moçambicana exigiram neste sábado, durante uma marcha de protesto em Maputo contra a violência xenófoba na África do Sul, a responsabilização dos autores da crise no país vizinho em tribunais internacionais.
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"Nós não vamos parar por aqui, isto é o princípio. Os tribunais Africano (dos Direitos Humanos e dos Povos) e (Penal) Internacional devem saber disso, como forma de responsabilizarmos os promotores da xenofobia. Isto não pode ficar assim", disse a presidente da Liga dos Direitos Humanos de Moçambique, Alice Mabota, reclamando acusações contra o Governo sul-africano, o rei zulu, Goodwill Zwelithini, e Edward Zuma, filho do Presidente do país vizinho.
Poucas centenas de pessoas marcharam em Maputo contra a onda de violência xenófoba na África do Sul, numa manifestação que culminou na Embaixada sul-africana. Além de uma carta dirigida ao presidente sul-africano, os promotores do protesto vão apresentar outras duas, uma destinada ao presidente da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), Robert Mugabe, e outra ao Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, expressando o seu "total repúdio" e exigindo que as vítimas sejam indemnizadas.
"Nós trazemos para esta marcha um sentimento de repúdio e indignação coletiva. Estamos a emitir uma mensagem para as autoridades sul-africanas, exigindo atitudes. Os sul-africanos precisam perceber que esta é uma relação de interdependência e não dependência", disse à Lusa o presidente do Parlamento Juvenil, Salomão Muchanga, que organizou o protesto, em conjunto com a Liga dos Direitos Humanos e a Solidariedade Islâmica.
Empenhando cartazes com mensagens de repúdio à xenofobia - "(Jacob) Zuma, nós te servimos. Esqueceste?", "Abaixo a Xenofobia" e "Exigimos Justiça" - os manifestantes gritavam freses de exaltação à união entre africanos e entoavam o hino nacional moçambicano, marchando sob forte escolta policial.
Encabeçando a marcha e empunhado um cartaz com a mensagem "Stop Xenofobia", Belmiro Manhiça, uma das vítimas da violência xenófoba, recentemente repatriado, contou à Lusa o momento "bárbaro" que viveu num dos subúrbios sul-africanos. "Eles atacaram na calada da noite e queriam matar-nos. Queimaram casas, vandalizaram bens e mataram pessoas da forma mais desumana. Hoje queremos que a justiça seja feita", afirmou.
A marcha contou com presença de algumas personalidades políticas moçambicanas, que acusaram as autoridades sul-africanas de inoperância. "Estamos com todas as vítimas destes actos. Condenamos veemente a posição do Governo sul-africano, eles são obrigados a garantir a segurança das pessoas que estão lá", disse à Lusa o antigo ministro da Saúde moçambicano Ivo Garrido.
Por sua vez, António Muchanga, porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo ), maior partido de oposição, considera que a atuação dos dois Governos foi "vergonhosa e lamentável". "A dimensão deste problema exigia, por exemplo, que o ministro dos Negócios e Cooperação fosse para lá para perceber o que estava a acontecer exatamente e eles mandaram um vice-ministro qualquer", declarou à Lusa.
No passado sábado, uma manifestação também contra a xenofobia na África do Sul e com o mesmo destino, foi igualmente promovida por ativistas da sociedade civil, tendo reunido apenas cerca de cem pessoas, num protesto não autorizado pelo Conselho Municipal de Maputo.
Para fugir da pobreza em Moçambique, a população, principalmente a mais jovem das zonas rurais do sul do país, emigra ilegalmente para a África do Sul, à procura de melhores condições de vida no país vizinho e uma das economias mais avançadas de África.
A vaga de violência teve início após declarações atribuídas ao rei zulu, Goodwill Zwelithini, convidando os estrangeiros a fazer as malas e a partir e que o próprio disse entretanto, no auge da crise, ter sido mal interpretado.