Por incrível que pareça, a música moçambicana já teve os seus bons momentos e, para os mais velhos, essas memórias jamais serão esquecidas. Há décadas, os artistas tinham mais audácia, responsabilidade e eram, de facto, porta-vozes do povo. Por essa razão, neste 2015, o agrupamento de música do país TP-50 quer ajudar-nos a viver, lembrar e reviver os bons momentos dos nossos ritmos ligeiros. E, só para começar, nos dias 08 e 09 de Maio próximo, a partir das 20h30, no Centro Cultural Franco-Moçambicano, será realizado um concerto em tributo a um desses “leões” – Hortêncio Langa.
Diríamos, por relevância da situação, que já era tempo, pois, de há anos para cá, a nossa música “morreu” com o desaparecimento físico de algumas figuras que alavancaram esta arte. Há bastante tempo que não se escuta “boa” música, e isso é, por um lado, devido à dita inversão de valores, e também à inactividade dos que ainda continuam na área.
Todavia, em Moçambique, particularmente na cidade de Maputo, o tributo aos embondeiros das nossa artes é, quase, póstumo. À guisa de exemplo, os finados músicos moçambicanos Alexandre Langa e Fany Mpfumo, este último coroado Rei da Marrabenta, tiveram a honra de serem homenageados mortos. Pois é. E isso é quase uma doutrina em todas as áreas no nosso país.
No entanto, para quebrar este paradigma e tendo a música como base no seguimento da tradição do grupo TP-50 desde a sua fundação em 2007, além da singela presença de Langa no palco, o espectáculo de Maio integrará várias expressões artísticas apresentando uma fusão dessas manifestações culturais. Nesse concerto, Hortêncio Langa terá a honra de ser vivido, lembrado e revivido ainda em vida.
Quem não o conhece, então pouco sabe acerca da música moçambicana. De nome completo Hortêncio Ernesto Langa, o artista nasceu no dia 23 de Março de 1951, em Manjacaze, província de Gaza. É músico em cena desde 1963. Tocae compõe de uma forma singular e com elevada qualidade. Começou a tocar realejo, tendo mais tarde passado pela viola de lata.
A ser verdade ninguém o conhece nas terras dos Khambanes, mas quem o acompanha desde os primórdios conta-nos que ele entra para as lides musicais pela via de uma tosca gaita-de-beiços que lhe foi oferecida aos cinco anos de idade. O instrumento cabia-lhe no bolso e assim podia transportá-lo para todo o lado e usá-lo para soprar as mais populares cantigas da época. “Xin’veka”, talvez!
Aos 12 anos, já radicado no Chibuto, Hortêncio funda, com Wazimbo e Miguel Matsinhe, seus amigos de infância, os Rebeldes do Ritmo, naquilo que foi a sua primeira experiência musical em grupo. Até aí, Hortêncio apenas soprava o realejo, ou eventualmente cantasse.
Volvido algum tempo, o dono de “Maputo” também se inicia na guitarra. Primeiro foi viola de lata, ou “xighoghogwani” (latinha de azeite), entenda-se. E inicia-se com um outro amigo de infância, o José Xidhakwa Mucavele, hoje, como o Hortêncio, um nome marcante no panorama musical de Moçambique.
Minibiografia dos TP-50
O grupo TP50 constituiu-se no início de 2007 pela união de músicos amadores e profissionais de Moçambique que partilham um interesse comum pela poesia e musicalidade da Bossa Nova. Em torno desta partilha, o conjunto desenvolveu um projecto cultural que associou a música popular brasileira a outras expressões artísticas, como dança, teatro e fotografia.
A ideia surgiu com o intuito de promover momentos de música, com ênfase na poesia que ela contém, associando a imagem a outras formas artísticas de autores moçambicanos. Além de motivar e expandir o prazer pela música e arte, o objectivo é realçar e promover as identidades culturais destes dois povos e países.
Neste contexto, o grupo TP-50 realizou, de 2008 a 2013, uma série de concertos, nomeadamente Música e Poesia de Vinicius de Moraes, A Palavra Cantada, Música e Poesia de Chico Buarque de Holanda, Elis Regina, TP-50 Toca e Canta Tom Jobim, TP-50 3 anos, Cantoras do Brasil, Lena e Clarice: Reflectindo Gerações, Bossa Nova com Xixel, TP-50 Interpreta Elis Regina, A Casa de Brinquedos, Cantores do Brasil, Zeca Afonso: Maior Que o Pensamento e Tom visita Caymmi.