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Já não se fazem espectáculos assim!

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A sala do Centro Cultural Franco-Moçambicano, em Maputo, abarrotou de gente ida de, quase, todos os cantos da urbe. Veio a admiração de alguns jornalistas e críticos. Aumentou o entusiasmo dos artistas e da banda. Brilharam os novatos e, hierarquicamente, os veteranos Arão Litsuri, Wazimbo e o homenageado Hortêncio Langa. Viver, lembrar e reviver este trio foi uma experiência nostálgica.

De novo, em abono da verdade, diga-se: há muito que não se fazem espectáculos assim. Isso mesmo! Um “show” com os “TP”, com Wazimbo, Hortêncio, Litsuri. Uma noite com Xixel, Texito e Dário, ambos Langa, no mesmo palco. Uma celebração de revelações intricadas, de nos deixar boquiabertos e a suspirar, como se estivéssemos sufocados pelas surpresas.

Ficámos a saber, também, de outros que a “vida” de Hortêncio Langa surgiu na rua, daí a sua luta e determinação. A ser verdadeira a informação – já que a própria mãe contou aos curiosos – uma história dedutiva mostra-nos como tudo aconteceu. O facto remonta ao ano de 1951, no seu nascimento. A aldeia onde a sua progenitora vivia distava sete quilómetros do posto de saúde.

No entanto, nos últimos dias de gestação, devido à falta de transporte no povoado, a mãe teve de percorrer a distância para ter o seguro acompanhamento médico. Curiosamente, já há 1,5 quilómetro do hospital, o “apressado” saiu em plena rua. Por isso, dadas as circunstâncias do seu parto, que se deu no caminho, o homem foi apelidado “Ndlelene”, o que em português significa rua.

Com uma carreira iniciada nos anos de 1963, Hortêncio Langa já provou que é um vulto da música ligeira moçambicana. Desde a sua descoberta e lapidação por Rogério (Telinho), que lhe ensinou os primeiros acordes na viola de lata, este homem tem-se mostrado um incansável mediador social. Por isso, em reconhecimento do contributo que deu/dá á primeira arte no nosso país e não só, há meio século, no último fim-de-semana, sexta-feira (08) e sábado (09), logrou-se o que havia sido idealizado: Hortêncio Langa foi homenageado pelo TP-50. Os que para lá foram viram...

Foi, na verdade, um momento íntimo da banda, quase, ao fim de nove anos da sua existência. Uma noite de senhores, de fato e gravata, de mocinhas, de “cai-cais”, e de crianças. Um concerto para não esquecer e para guardar, sobretudo agora que vai sair um disco compacto e um livro. É a constante magia de Langa, dos seus já realizados trabalhos e dos seus admirados.

A beleza e o requinte da música transformada pelos intérpretes foram o mote da primeira noite de concertos ao som de “Muyive” e de uma das mais antigas composições musicais em homenagem à nossa capital, “Maputo”. Todavia, o “show” valeu pelo interessante repertório apresentado e pela qualidade interpretativa dos estudantes da Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane.

Para o agrupamento de música TP-50 a vida continua partilhada com os outros, apesar dos obstáculos, das contrariedades e de algumas renúncias. Em termos estritamente artísticos, no geral, e musicais, em particular, sucede com a mesma constância. O teatro, a dança, a fotografia e a poesia ainda continuam factores conserváveis para o elenco.

Para todos os efeitos, os “TP” pertencem à história da música popular brasileira e outras expressões artísticas e retomam os caminhos que os outros abandonaram.

Um tributo ao mestre

De todas as formas, não se pode falar de Hortêncio Langa sem ao menos tocar alguns dos nomes da nossa música. Falamos, concretamente de Wazimbo, Arão Litsuri e João Cabaço. Com eles, o homenageado teve boas experiências desde o trio sem nome composto por ele, Litsuri e Cabaço, passando pelos Rebeldes do Ritmo, até ao Alambique. São comparsas e, estranhamente, cada um chama o outro de mestre.

Além das particularidades envolvidas na relação destes músicos, o angelical é que partilham momentos. Para celebrar as obras de Langa, primeiro entrou Arão Litsuri com Unga Voni Maveli, o mesmo que não repare no peito. A música é uma chamada de atenção aos mais velhos que, para seduzirem as “catorzinhas” avaliam o tamanho dos seios. É como se o tamanho regesse a regra.

Minutos volvidos, Wazimbo invadiu o palco para interpretar Wa Ti Mbangue (o drogado em português), tendo também de seguida alinhado com Muyive (ladrão). Embora cada um à sua maneira, as duas actuações foram aplausíveis, pois todos são bons, autênticos. No fim, Wazimbo é quem chorou. De alegria, de emoção, sabe-se lá de quê. Ele não se justificou, mas também não conseguiu esconder.


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