Nasci numa família de classe social baixa, nos arredores da periferia de Maputo. Sou da terra que viu nascer Mondlane, Samora, Chissano, Guebuza e, posteriormente, Nyusi. Continuo perplexo se é a mesma donde descende Simango, Matsangaiça, entre outros e, mais tarde, Dhlakama.
Fui sempre submisso aos superiores, seja na família, escola, igreja e nas diversas esferas da sociedade.
Tenho apreendido meditando o artigo 35 da Constituição da República de Moçambique (CRM), prescrevendo: “Todos cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou opção política.”
Entretanto, a experiência da vida quotidiana prova ser melhor manter a minha identidade no anonimato, alegando, assim, a minha vida ter de se prolongar.
Ora, dos que são vistos cometendo distintos ilícitos sem que os que velam pela aplicação da lei reajam, senão simular mera distracção feito arbítrio no meio de um jogo de futebol. Parece-me que o legislador se tenha esquecido de salientar serem alguns imunes no exercício da mesma.
Afinal, “Todos cidadãos têm o dever de respeitar a ordem constitucional”. Todavia, na terra que me viu nascer, a um certo grupo de elite vê-se a lei sujeitar-se aos seus próprios interesses, passando ela a respeitá-los.
E quando aparecem vozes pronunciando sobre tais atitudes suportados por artigo 48 da CRM, onde todos os cidadãos têm direito à liberdade de expressão, … surtem consequências drásticas daquelas que deram o fim ao jornalista Carlos Cardoso, ao economista Siba Siba Macuácua e, recentemente, ao Professor Gilles Cistac. Não ignorando situações que levaram ao professor Castelo Branco, ao rapper Edson da Luz (Azagaia), ao político António Muchanga, entre outros, a uma audição na Procuradoria-Geral da República (PGR).
Vi para alguns a ser ameaçado o sonho de ver a sua formação académica concretizada aquando da entrega da notificação na instituição de ensino público.
Lastimo ainda em relação a tantos outros compatriotas que se virão desprovidos do exercício dos seus cargos na função pública, a exemplo do criminalista António Frangoulis. Não me esqueço de tantos que por adquirirem um cartão partidário da oposição virão as portas de oportunidade a serem vedadas.
Reparem que os motivos são mais que suficientes para optar pelo anonimato como forma de salvaguardar a minha integridade psicofísica e o mínimo que me permita garantir a sobrevivência. Refiro-me sem rodeios ao miserável salário mínimo (3.000 meticais), à frequência do ensino público que me incute o princípio de não gozar do poder de expressão.
Eis o motivo de sempre intervir nos debates levados a cabo pelos media apresentando-me na condição de anonimato; evito represálias e, desta forma, mantêm-se as garantias de sobreviver com menos peso na consciência por incerteza de perder o pouco ar que ainda respiro.
Por Anónimo