A par do que acontece na capital do país, viajar de chapa a partir da cidade de Tete para as zonas periféricas e vice-versa é um sofrimento devido, em parte, às más condições das vias e ao estado de alguns miniautocarros que contrasta com os requisitos de comodidade. Os utentes daqueles serviços e os chapeiros queixaram-se, também, da confusão que tende a crescer nos transportes colectivos perante a passividade da edilidade, que supostamente só cobra a taxa diária (100 meticais por minibus) e faz pouco ou nenhum trabalho para garantir que haja disciplina.
Os my love – nova denominação das carinhas de caixa aberta que fazem o transporte de passageiros em Maputo – são igualmente um problema visto com indiferença na urbe da única província que produz carvão mineral em todo o território moçambicano. No fim de Junho passado estivemos naquela região do país e permanecemos alguns minutos num dos pontos, designado Praça da Cidade de Tete.
A lufa-lufa dos munícipes que se fazem à cidade e o caos criado pelos transportadores no momento de embarque de passageiros não são diferentes do que acontece no dia-a-dia, por exemplo, na Praça dos Combatentes, vulgo Xiquelene, em Maputo, onde impera a transgressão da Postura Camarária.
Constatámos, igualmente, que a indisciplina dos chapeiros, que consiste em manobras irregulares e outras anomalias, é feita nas barbas de alguns agentes da Polícia Municipal. O que não conseguimos apurar é se eaquela corporação é ou não corrompida, tal como ocorre com a da capital do país, que deixa passar inúmeras irregularidades em troca de um “refresco”. Oliveira Ernesto é motorista de chapa. Ao @Verdade disse que da cidade de Tete para o bairro Azul, por exemplo, o custo da viagem é de 7,50 meticais.
Para acolher os passageiros é necessário que os operadores fiquem enfileirados mas esta medida só funciona nas primeiras horas do dia, altura em que a Polícia Camarária ainda está no local para fazer o que mais interessa à edilidade: exigir dos chapeiros o desembolso de 100 meticais. “Alcançado esse objectivo, instala-se uma anarquia na actividade; alguns transportadores manobram irregularmente e nenhuma autoridade tem estado por perto para repor a ordem”.
“Os fiscais do município só cobram o valor e depois desaparecem da praça. O facto é que isto está a tornar- se uma confusão onde cada um pode fazer o que entende e não há respeito. Trabalha-se no meio de um caos”, reiterou Ernesto.
Segundo os condutores de chapa, para além dos 100 meticais, paga-se ainda 25 meticais a um fiscal indicado pela edilidade supostamente para organizar a fila no acto do embarque de passageiros mas a presença dessa pessoa tem sido inútil porque, de forma alguma, consegue refrear a balbúrdia instalada no sítio.
A partir de uma certa altura, o indivíduo encarregue da inspecção ausenta-se e aparece outro que, por sua vez, cobra um valor igual para fazer o mesmo trabalho de reposição da ordem na praça. O nosso entrevistado anotou que entre os próprios operadores não existe entendimento, facto que dificulta o impedimento desse “chupismo” por parte dos agentes da Polícia Municipal.
Alguns motoristas desembolsam ainda, por dia, entre 20 e 25 meticais para remunerar o angariador de passageiros que fica aos gritos até os bancos do carro ficarem totalmente ocupados. Significa que por dia despendem da praça de Tete algo como 175 meticais.
“Há muita gente que não segue a fila e leva passageiros em lugares impróprios. Nós ficamos horas a fio sem ninguém para transportar. Não há onde reclamar porque o município é apático em relação a esse problema. Esta praça não tem balneários, por isso, os munícipes urinam e defecam em lugares inadequados e próximos de locais onde são confeccionados alimentos.
Devia haver controlo e punição mas ninguém faz nada”, desabafou Serafim Gilberto, outro operador que se queixou de estar a trabalhar lado a lado com chapeiros não licenciados e sem um itinerário fixo, ou seja, há um constante encurtamento do que seria a distância regulamentar.
Camilo Zefanias referiu que as viagens da praça da cidade de Tete para o bairro Azul são feitas em mas más condições de transitabilidade. Em alguns troços a via não está alcatroada, há buracos e os utentes dos transportes colectivos e outros cidadãos que usam o mesmo trajecto estão expostos a poeiras. “Não temos terminais de transporte, por isso cada um faz o que entende nos destinos e nos lugares de partida”.